Como há muitos funcionários que contraíram covid-19 ou influenza, as lojas estão com dificuldade para funcionar no horário padrão
Por Adriana Mattos
A proposta de redução na carga horária de shopping centers no país, apresentada pela Ablos, associação dos lojistas satélites, não foi bem recebida pelos shoppings centers e nem por parte do setor que representa os próprios varejistas, apurou o Valor. A discussão é alvo de trocas de mensagens nesta segunda-feira entre líderes do segmento, e há uma movimentação nos bastidores para que a hipótese não avance, dizem fontes.
No fim de semana, a Ablos vem informando pela imprensa que levou um pedido aos shoppings para que os horários de funcionamento dos empreendimentos sejam reduzidos por algumas semanas.
O problema é que, como há muitos funcionários que contraíram covid-19 ou influenza, as lojas estão com dificuldade para funcionar no horário padrão (normalmente das 10h às 22h). As lojas não acreditam que a contratação de funcionários temporários pode ser indicada pelo prazo curto previsto, de algumas semanas, para a cobertura daqueles doentes.
Não seria proposta a redução nos alugueis e encargos, como condomínio, mas só redução no horário de abertura.
Uma fonte diz que empreendimentos e parte dos lojistas é contra porque isso afetaria o faturamento num momento ainda de recuperação nas vendas.
O Valor apurou que, de 27 de dezembro a 2 de janeiro, os shoppings tiveram queda de 11% nas vendas sobre o período antes da pandemia (fevereiro de 2020), segundo relatório encaminhado pela Abrasce, a associação de shopping centers, para associados. O relatório é feito em parceria com a Cielo. Sobre o mesmo intervalo de 2020, há alta de 5%.
Mensagens negativas
Hoje, foi negativa a reação à ideia na Abrasce e na Alshop, que representa os lojistas desse setor, dizem fontes. “A redução de horário não soluciona nada”, diz uma fonte ligada à Abrasce, em mensagens trocada hoje em grupos de executivos do setor. “Somos contra, não se pode generalizar esse assunto”, diz outro diretor da associação nas mensagens.
A Abrasce, dirigida por Glauco Humai, alinhou esse posicionamento junto ao comando nacional da Alshop, gerido por Nabil Sahyoun. Há a possibilidade de que as associações reforcem isso publicamente.
Numa resposta já enviada pela Abrasce para o presidente da Ablos, Mauro Tavares, a Abrasce diz entender que a fase é difícil, mas que a proposta “não parece razoável” porque as realidades de cada região são distintas.
A proposta da Abrasce é que os lojistas alinhem soluções junto aos shoppings onde estão presentes.
A entidade dos shoppings se propõe a encaminhar circular reforçando que os empreendimentos recebam e analisem a demanda com atenção, apurou o Valor.
Para a Ablos, o movimento de consumidores em janeiro e fevereiro já é mais fraco nas lojas, logo, o impacto não seria tão grande, e esta seria uma forma de manter os funcionários cuidando de sua saúde sem a necessidade de o empregado se sentir pressionado para um retorno muito breve. “Se o empregado ficar na loja doente porque ele não quer faltar, ele pode afetar a saúde de outras pessoas. Não faz sentido algum”, diz uma fonte ligada à Ablos.
A Ablos foi criada em 2019, como uma dissidência da Alshop, e formada por lojistas menores que buscavam uma entidade específica que os representasse. Nem sempre, Alshop, Ablos e Abrasce tem o mesmo direcionamento em relação a assuntos gerais do setor, e na pandemia, a queda no faturamento expôs mais as diferenças de crescimento entre grandes e pequenos lojistas. Redes de pequeno porte, afetadas por escala menor, perderam vendas e tiveram que renegociar condições de pagamento de aluguel e condomínio em 2021.
Fonte: Valor Econômico