A recente escalada no preço dos papéis da Profarma, grupo de comércio e atacado de produtos farmacêuticos, de 53% em cerca de 15 dias, trouxe à tona a discussão sobre a capacidade da empresa manter o bom momento, entregando resultados no braço de varejo.
Apesar da queda no papel nos últimos dois pregões, a ação ainda acumula a maior valorização no mês entre as varejistas. Nas palavras do gestor de um fundo, a operação mostra avanços, mas a empresa precisa provar que sabe operar o varejo de farmácias — negócio em que atua há quase sete anos, ainda no prejuízo — sem precisar de aportes de capital e reduzindo mais a alavancagem.
A valorização do papel ganhou força após reunião com investidores no fim de novembro, quando o grupo detalhou alguns planos.
A perspectiva de recuperação nas margens do braço de varejo e uma retomada mais acelerada de abertura de lojas — após anos com fechamento de pontos deficitários de redes adquiridas — trazem visão mais positiva para o negócio de comércio, dizem analistas. O grupo tem cerca de 200 lojas.
O comando da Profarma diz que irá chegar ao fim de 2020, pela primeira vez desde sua entrada no varejo, em 2013, tendo aberto mais lojas do que fechado — sem efeito negativo sobre margem de lucro.
“Isso deve ocorrer sem uma avalanche de aberturas, porque também não é isso queremos. Não somos nenhuma Raia [Raia Drogasil] ou São Paulo [grupo Pacheco São Paulo] que abre 100, 200 lojas no ano. A nossa proposta é ter um ‘net value’ em 2020 pela primeira vez, ganhando margem”, disse o diretor financeiro, Max Fischer.
Para 2019, a companhia ainda prevê um saldo negativo de dois ou três pontos — até setembro, está negativo em seis lojas. Esse saldo reflete a fase final da reestruturação da rede Rosário, adquirida em 2016 da problemática BR Pharma, que faliu neste ano.
Em relação à rentabilidade, a companhia chegará a um margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de até 3,5% na metade do ano, no braço de varejo, diz o diretor.
Esse índice atingiu 1,9% no terceiro trimestre deste ano.
O aumento da margem, Fischer diz, virá de maior contribuição nos resultados das lojas de melhor desempenho. Parte dessas lojas foi ampliada — em 2019, cerca de 70% dos investimentos foram para reformas e ampliações desses pontos. A projeção para o Ebitda também reflete aumento de preços ou mudança de mix em certas praças.
A Profarma começou a operar no setor de farmácias quase sete anos atrás, após a compra de 85 lojas das cadeias Drogasmil e Farmalife, ambas do Rio de Janeiro. Em 2016, comprou as 150 farmácias da Rosário, no Centro-Oeste. Atualmente, é a segunda maior rede em número de lojas do Rio de Janeiro e a sexta maior do Brasil.
Nos últimos anos, a empresa precisou repensar a estratégia do portfólio de cada marca — as rivais, então, cresciam por meio de aberturas de lojas em ritmo acelerado. Após comprar a Rosário, por exemplo, a Profarma acabou fechando mais lojas do que o previsto. A projeção era encerrar 30 lojas, mas fechou 75 das 150 da rede.
Nos últimos anos, dúvidas sobre a sua capacidade de geração de caixa e redução de endividamento acabaram impedindo uma recuperação mais rápida de seu valor de mercado. Foram três aumentos de capital desde 2016 (um por ano) o que leva a uma maior expectativa de acionistas sobre retorno. Aos analistas, o grupo tem dito que a geração de caixa aumentou, que o endividamento caiu e que os resultados do braço de distribuição são sólidos. A Profarma é a segunda maior distribuidora de medicamentos do país.
Neste ano, pela primeira vez desde 2014, a Profarma teve fluxo de caixa operacional positivo por dois trimestres consecutivos. De julho a setembro, houve alta de R$ 61 milhões no caixa. Há um anos, havia consumido R$ 36 milhões. A melhora operacional tem reduzido a alavancagem. Para analistas, porém, ainda está alta — a dívida líquida equivale a quatro vezes o ebitda. Há um ano era de 5,6 vezes. “Há um trabalho em andamento em ciclo de caixa e na operação, além de um ambiente de queda no custo de capital. Isso tudo vai reduzir esse índice. Acredito que vamos chegar a um endividamento de 3 vezes”, diz o diretor, sem mencionar prazo.
Fonte: Valor Econômico