Ter um alimento com uma história. Esse é o objetivo de pequenos produtores e distribuidores que investem em alimentos de origem garantida para atrair um público de maior poder aquisitivo.
São alimentos, em sua maioria, com selos que indicam onde e como foram produzidos, como acontece com o champanhe na França.
O design gráfico Bruno Cabral, 37, entrou nesse nicho após estudar a produção de queijos na Espanha. Hoje,ele vende 50 tipos de queijos artesanais brasileiros na loja Mestre Queijeiro, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. “Estava cansado da mesmice, queria comer e oferecer coisas diferentes. Sou um apaixonado por questões sociais que envolvem cultura, qualidade de vida”, diz. Entre os exemplares vendidos por Bruno Cabral estão o Canastra (R$ 82 o quilo) e o do Serro (R$ 75 por 700 g). “Vendemos não só o produto, mas também a localização de onde é produzido, a família que o produz”, explica o empresário.
Não apenas exibir o item na prateleira, mas saber contar a história por trás do produto é crucial para crescer nesse setor, explica a consultora de negócios do Sebrae-SP Karyna Muniz. “Pode ser uma propriedade funcional, um sabor diferente, uma produção sustentável, enfim, qualquer característica”, diz.
Como, em geral, são alimentos feitos em pequena escala e fora dos grandes centros, os produtos de origem exigem custos maiores de logística e tributação.
Foi esse o desafio que Marina Cabral, 37 (sem parentesco com Bruno), encontrou quando decidiu abrir a Combu. A loja vende em São Paulo alimentos e bebidas típicas da Amazônia, como tucupi, cachaça de jambu e açaí. O transporte dos produtos do Pará para a capital paulista chega a demorar nove dias –ele é feito por caminhões, já que por avião os preços são muito altos. Isso obriga a empresária a manter uma grande quantidade de produtos armazenados. “Temos hoje cerca de duas toneladas em estoque. Parece muito, mas não é. Existe um tempo considerável para preparar os pedidos, já que os produtores não têm a pronta entrega”, explica. Para garantir a qualidade desses produtos, Marina fez uma rigorosa seleção de fornecedores. “Passamos cerca de dez meses pesquisando. Visitamos, testamos, analisamos rótulos, procuramos orientação sobre a legislação sanitária e estabelecemos padrões mínimos para esses fornecedores”, afirma a empresária, que prevê faturar R$ 400 mil este ano.
PADRONIZAÇÃO
Para quem produz, a melhor saída para conquistar os empresários é investir em parcerias.
É o caso do mel e da própolis vermelha, que são extraídos de manguezais em Alagoas. Os produtores do Estado criaram a Uniprópolis (União dos Produtores de Própolis Vermelha do Estado de Alagoas) para melhorar a distribuição. “Temos um programa de rastreabilidade, com código de barras e QR code em cada produtor e pretendemos aumentar a produção nos próximos meses”, diz o presidente da entidade, Mário Calheiros de Lima, 59. Atualmente há 140 famílias que participam da produção, que rende mil quilos por ano –cada um é vendido por R$ 400. O produto já tem distribuidores em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. A entidade trabalha agora para ter autorização para a venda no exterior.