A Guess decidiu congelar ou reduzir preços para alavancar as vendas no país, ao mesmo tempo em que faz esforços para diminuir os custos de sua operação
Enquanto uma série de grifes internacionais de moda deixaram o Brasil ou reduziram seus planos de expansão, a americana Guess decidiu congelar ou reduzir preços para alavancar as vendas no país, ao mesmo tempo em que faz esforços para diminuir os custos de sua operação. O plano de abertura de 45 lojas entre 2013 e 2018, segundo a companhia, está mantido, embora tenha sofrido atraso no ano passado devido ao aprofundamento da crise econômica brasileira.
“Outras companhias de moda internacionais foram forçadas a elevar os preços para acompanhar a alta do dólar. A Guess conseguiu desindexar custos em relação ao dólar e, dessa forma, pôde manter ou reduzir preços no país. A companhia entende que o consumidor está extremamente sensível a preço”, afirmou André Hering, sócio e presidente da Guess Brasil.
O empresário observou que, enquanto outras marcas internacionais importam a maior parte das suas coleções, a Guess Brasil tem praticamente 85% dos produtos fabricados localmente. “Isso favoreceu o controle dos custos”, afirmou. Ele também disse que a companhia tem se esforçado para reduzir custos nas operações e tem concentrado mais as vendas nas lojas da marca, em lugar das redes multimarcas, que geram receita menor por peça. A Guess Brasil vende seus produtos em 15 lojas da marca e 1 mil pontos de venda de redes multimarcas no país.
André Hering acrescentou que a varejista de moda também sofre o impacto da recessão, como as concorrentes. O plano anunciado pela rede em 2014, quando tinha quatro lojas, era fazer a expansão apenas com franquias. Mas isso não foi possível e a companhia teve que expandir a operação com recursos próprios. Das 15 lojas da em operação, 10 são próprias e cinco são franquias, espalhadas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pará.
“A empresa enfrentou dificuldades por causa da crise. Mas agora começo a ver uma retomada da confiança de empreendedores no país. Acredito que, passada essa fase de transição política, com uma nova equipe econômica mais competente e o Congresso aprovando os projetos do governo, a economia vai reagir a partir do quarto trimestre”, disse André.
Thomaz Hering, sócio e diretor comercial da Guess Brasil, disse que o plano é chegar a ter metade de lojas no formato de franquia e metade como unidades próprias nos próximos anos. Globalmente, a Guess possui 1.631 pontos de venda, dos quais 49% são franquias.
Ele acrescentou que as administradoras de shopping centers têm sido mais flexíveis na negociação de aluguéis de lojas e outros custos, o que tem tornado mais fácil e menos custosa a abertura de unidades em comparação a anos anteriores. Para 2016, o plano da companhia no Brasil é abrir dez unidades entre lojas próprias e franquias – todas em shopping centers.
Amanhã a empresa abre sua décima sexta loja no país, localizada em Bauru (SP). A unidade será a primeira no mercado brasileiro com o novo modelo arquitetônico definido globalmente pela Guess, com ambientes mais claros e decoração minimalista. Thomaz Hering disse que o novo modelo será adotado nas próximas lojas a serem abertas nos próximos meses. “As lojas antigas também serão reformadas, mas isso será feito no médio prazo”, afirmou.
André, Thomaz e Thiago Hering (filhos do presidente da Cia. Hering, Fábio Hering), trouxeram de volta a marca Guess ao Brasil no fim de 2013, após uma incursão mal sucedida da americana no país entre 2007 e 2009. Os irmãos detêm 40% de participação na operação Guess Brasil, por meio da HRG3, e a matriz americana é dona dos outros 60%. Um dos motivos para o insucesso da primeira tentativa foi justamente o uso de produtos importados, o que tornou as peças muitos caras no país por conta da variação cambial. A operação da Guess não tem relação com a Cia. Hering. Os herdeiros de Fábio Hering estão impedidos de trabalhar na companhia da família devido a regras de governança corporativa.
A Guess Brasil não divulga informações financeiras. Globalmente, a companhia encerrou o primeiro trimestre, concluído em 30 de abril, com queda de 6,3% em receita em comparação ao primeiro trimestre do ano anterior, chegando a US$ 448,8 milhões. No período, a varejista registrou prejuízo líquido de US$ 25,1 milhões, ante um lucro de US$ 4 milhões no ano anterior. O desempenho foi associado a vendas francas nos Estados Unidos, no Canadá, na China e a perdas com o câmbio nas vendas fora dos Estados Unidos.
Outras grifes internacionais desistiram de ter operação direta no Brasil nos últimos dois anos, por conta do cenário de crise econômica e da rápida desvalorização do real em relação a outras moedas. No ano passado, a americana Kate Spade fechou as oito lojas que tinha no país. A inglesa Topshop suas três lojas e a francesa Lanvin encerrou as atividades de sua única loja brasileira. A inglesa Topman também fechou uma unidade que possuía em São Paulo. A Hennes & Mauritz (H&M), que chegou a abrir uma empresa em São Paulo com capital de R$ 1,5 milhão, desistiu de abrir pontos de venda por aqui. A Uniqlo, do grupo Fast Retailing, chegou a anunciar que viria para o Brasil no início da década, mas desistiu do plano.