A fabricante de malas Primicia, com 65 anos de atuação no Brasil, corre atrás do espaço perdido para a China e os novos concorrentes nas últimas duas décadas. Após uma reestruturação iniciada em 2014, a empresa prevê expandir sua presença no varejo por meio de franquias, para alcançar cem lojas da marca em cinco anos.
Neste ano, seis pontos de venda devem ser abertos, no formato de franquia – a primeira loja será inaugurada no Paraná, em agosto. A estrutura atual da empresa é de sete lojas próprias.
A consultoria Goldman Retail é responsável pelo plano de franquia, que inclui lojas com cerca de 70 m2 e esteiras, como as de aeroporto, na decoração. A expansão vai priorizar a ampliação da marca em cidades onde está pouco presente via multimarcas.
Fundada pelos irmãos argentinos Leon e David Kasitzky, a Primicia chegou ao Brasil em 1952, com a instalação de uma fábrica de bolsas femininas em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Em 1964, passou a fabricar malas, incluindo os primeiros modelos com fechamento em zíper – até então as trancas eram de metal e as malas tinham formato de baú. A produção mudou para Caieiras (SP) em 1975, onde segue até hoje.
No auge, na década de 80, a Primicia detinha mais de três quartos do mercado de malas. Mas, após a abertura comercial no início dos anos 90, a concorrência chinesa tomou o mercado. A empresa criou um plano de lojas próprias, estruturado no fim dos anos 2000, mas implantado só em 2011. “Demorar tanto a abrir lojas próprias foi o nosso grande erro. Faltou agilidade na tomada de decisão”, diz o presidente-executivo Evandro Ávila. “Antes de partir para a reestruturação do varejo, era preciso reestruturar o parque fabril.”
Com a restrição de crédito bancário em 2014, a Primicia recorreu a fundos para financiar sua operação no curto a médio prazos e iniciou uma reestruturação para melhorar o perfil de endividamento e financiar o negócio com capital próprio. Decidiu, primeiro, rever a estrutura física e administrativa.
Os escritórios de São Paulo foram unificados em Caieiras. As diretorias foram reduzidas de oito para duas; de 20 gerências, restaram quatro. O quadro de funcionários perdeu 150 pessoas – hoje são 300. A produção é de 25 mil itens ao mês, ante 10 mil em 2014.
A eficiência melhorou após a empresa rever a combinação do portfólio fabricado no Brasil e na China. Em 2014, as importações respondiam por 85% das vendas; hoje, são 60%. A produção no Brasil gera 40% das receitas, com malas de tecidos, bolsas e frasqueiras.
A concorrente Samsonite, dos EUA, inicia também neste ano seu plano de franquias, com a meta de abrir 50 lojas franqueadas e 50 próprias, até 2018. Para Ávila, a concorrência é positiva ao estimular a busca por produtos de boa qualidade e de marca reconhecida no mercado brasileiro, já que grande parte do setor é tomada por produtos sem marca, da China. A Samsonite atua em grandes redes do varejo, como Le Postiche e Bagaggio, e a Primicia em lojas menores, regionais. Cada uma trabalha com públicos distintos – a americana atende a classe média alta, e a Primicia as classes B e C, embora também comercialize produtos de mais alto valor.
O preço médio dos conjuntos de malas da Primicia vai de R$ 800 a R$ 1.200. Uma mala de viagem avulsa custa cerca de R$ 300. Na marca mais acessível da Samsonite, American Tourister, a média de preço de uma mala rígida é de R$ 600. Na marca Samsonite, o valor aumenta entre 20% e 30%.
O mercado de malas local movimentou R$ 841,9 milhões em 2016, um avanço de 7% sobre 2015, segundo a consultoria Euromonitor. Em volume, o avanço foi de 0,9%, para 3,65 milhões de unidades.
Em 2015, a Primicia era líder de mercado com fatia de 15,2%, segundo a Euromonitor, queda de 1,2 ponto percentual (pp) ante 2010. A concorrente nacional Israco, dona das marcas Lansay e Fico, perdeu 0,7 pp em cinco anos, para 7,3%. Já a Samsonite avançou 1,5% para 4% em igual período.
Em 2016, a operação brasileira da Primicia – há uma operação também na Argentina – teve receitas de R$ 40 milhões, queda de 30% sobre o ano anterior. Em 2017, a empresa espera alcançar vendas de R$ 52 milhões a R$ 55 milhões.
Com os sinais de melhora de indicadores macroeconômicos, Ávila considera que o consumidor deve retomar primeiro o consumo de serviços e produtos dos quais se privou por conta da crise econômica, o que impulsionará os segmentos de viagens e lazer. A empresa informa crescimento de 30% de janeiro a junho, sobre igual período de 2016, e diz que o segredo na crise foi não estocar. “Daqui em diante, não esperamos mais recessão nem piora das tendências de venda.”
Fonte: Valor Econômico