Por Redação | Poucos setores foram mais castigados pelos efeitos da pandemia do que o de shopping centers. As medidas de restrição ao funcionamento e à circulação de pessoas derrubaram drasticamente as receitas, a tal ponto que muitos analistas não vislumbravam uma recuperação tão cedo. Mas esse momento chegou e, ironia do destino, coincide com uma das maiores crises do varejo tradicional em anos.
O setor de shopping centers se prepara para uma série de inaugurações de lojas neste primeiro semestre, apesar das incertezas também sobre a economia com os juros altos.
A maior flexibilidade nas negociações de valores de aluguel de lojistas com administradoras de shopping e a retomada da tendência de fortalecimento desses centros na comparação com as lojas de ruas, em função de fatores como a maior oferta de experiências de entretenimento e maior segurança nesses espaços, são apontadas por especialistas como as principais razões para o aquecimento do setor.
As perspectivas favoráveis se refletem nas ações das empresas que administram os shoppings: a Multiplan (MULT3) tem valorização de 15% na bolsa neste ano até a quarta-feira (5), e Iguatemi (IGTI11) e Aliansce Sonae (ALSO3), da ordem de 5%. No mesmo período, o Ibovespa caiu 8%.
É uma tendência que, deve-se dizer, ganhou tração já no ano passado, quando mais de 4.000 marcas anunciaram inaugurações de novas unidades em shopping. O montante superou as 3.500 marcas em 2021. Só no quarto trimestre, foram 1.578 marcas abrindo lojas nesses espaços. Não há ainda um número consolidado de novas lojas a serem abertas neste primeiro semestre, mas o crescimento já é dado como certo, uma vez que as obras de reformas de muitos espaços estão avançadas.
Na capital paulista, a Bloomberg Línea visitou dois shoppings e testemunhou lojas em obras com tapumes anunciando inaugurações em breve: o JK Iguatemi, do grupo Iguatemi e voltado para alta renda, ganhará unidades da Oficina Reserva, marca masculina da Arezzo (ARZZ3), da John John, da Restoque (VSTE3), e da perfumaria Neeche Haute Parfumerie. No shopping Cidade São Paulo, da SYN (SYNE3), vão abrir lojas da chocolateria Dengo e da malharia Hering, do Grupo Soma (SOMA3).
O Brasil tem hoje 628 shopping centers, segundo a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers). No ano passado, foram inaugurados oito shopping centers, acima dos cinco registrados em 2021. Neste ano, a previsão da entidade é que haja 15 novas inaugurações, dos quais oito na região Sudeste, três no Nordeste, dois no Sul, um no Norte e um no Centro-Oeste.
Em ABL (Área Bruta Locável), essa expansão representa um aumento de 1,6% sobre o ano anterior, com um total de 17,5 milhões de metros quadrados, ante os 17,2 milhões de metros quadrados apontados em 2021, segundo a Abrasce. O número de lojas cresceu 2,7%, totalizando 115 mil.
O presidente da Abrasce, Glauco Humai, disse que mantém a projeção inicial para 2023 de um aumento de 14,6% nas vendas, que podem culminar em um recorde de faturamento do setor com previsão de R$ 219,8 bilhões neste ano.
“O setor acelerou o número de inaugurações, observou a taxa de vacância retomar aos patamares pré-pandemia e caminha para a recuperação total das perdas relacionadas a esse último período”, disse Humai, em nota.
Nem a crise da Americanas (AMER3), portanto, que entrou em recuperação judicial em janeiro, tem conseguido frear os planos de expansão do setor de shoppings. “Já há fila para o lugar da Americanas caso ela decida fechar suas lojas nos shoppings”, disse o CEO da Multiplan, Eduardo Peres, em entrevista à Bloomberg Línea no mês passado. A companhia é dona do Morumbi Shopping, em São Paulo, e do Barra Shopping, no Rio de Janeiro, e tem planos de expansão à região Nordeste.
Em seu balanço de 2022, a SYN reportou um crescimento anual de 14% na receita dos seus oito shopping. A receita de locação de seus seis shopping centers somou R$ 197 milhões no ano passado. A vacância física desses ativos fechou 2022 em 4,8%, enquanto a vacância financeira foi de 5,5%. Houve unidades com faturamento com desempenho melhor.
“Sobre a perfomance dos shopping centers, todos os ativos tiveram receita acumulada superior em relação a 2021 em pelo menos 12%, com destaque para o Shopping Cidade São Paulo, 34% melhor comparado ao ano anterior, e para o Shopping D, 33% melhor”, informou a SYN.
Expansão no Shopping Cidade de São Paulo
A empresa estuda um projeto de expansão do Shopping Cidade São Paulo, transformando a área do subsolo, hoje dedicada apenas ao estacionamento, em provavelmente uma área de locação para uma rede supermercadista, disse o CEO da companhia, Thiago Muramatsu, à Bloomberg Línea.
“Estamos otimistas com 2023. Os shoppings voltaram a lotar. Os consumidores estão buscando cada vez mais experiências fora de casa. Apostamos em uma programação especial para datas-chaves do comércio. Conseguimos reduzir a vacância. E temos lista de espera de lojistas interessados em alugar espaços vagos”, afirmou o executivo da SYN.
Já a Aliansce Sonae está mais focada no processo de integração com a brMalls após concluir a fusão. No mês passado, a empresa estimou que as sinergias da combinação de negócios ficarão entre R$ 180 milhões e R$ 210 milhões, com prazo de captura até o final de 2028. A gigante do setor cuida de 61 shopping (entre próprios e de terceiros administrados) em diferentes regiões do país.
Atualmente, segundo uma fonte do setor, a principal preocupação é com a Marisa (AMAR3), rede de vestuário feminino, que prevê fechar 92 das 334 unidades nos próximos meses.
Fonte: Bloomberg Linea