Empresa poderá “escolher em qual conversa quer estar”, com capacidade “de investir alguns bilhões”; Pátio Higienópolis e outlets são possíveis alvos
Por Adriana Mattos
A tentativa da família Jereissati de buscar, na reestruturação societária de suas empresas, um caminho aberto à capitalização na Iguatemi deve levar a empresa a buscar novos investimentos a partir do ano que vem — inclusive no próprio portfólio. Nesse movimento, um aumento da participação da família no Shopping Higienópolis viria bem a calhar.
Como proposta pelos conselhos de administração, a reorganização anunciada ontem (que ainda cabe aprovação dos minoritários) une a administradora de shoppings Iguatemi e a Jereissati Participações, e evita que a família perca o controle do negócio. Cria uma segurança maior ao manter pelo menos 65% das ações com a família, hoje com 50,7% da Iguatemi. Eventualmente, se for diluída aos poucos em novas operações de “follow on” após 2022, é bem provável que a família ainda mantenha o controle.
Apesar de dizer que manter o controle não é o objetivo central e único da reestruturação, isso tem peso na estratégia da família. E o mercado sempre entendeu que, com poucos gestores de ativos de primeira linha no Brasil, manter a família à frente, com a experiência de Carlos Jereissati (pai de Pedro e “Carlinhos”, CEOs da holding e da Iguatemi, respectivamente), faz todo o sentido para o negócio.
Caminhos possíveis
Daqui para frente, há dois pontos que não podem ser perdidos de vista, no curto e médio prazos: como o mercado reagirá à proposta de reorganização da família a partir de hoje e o que a Iguatemi quer comprar após as emissões que vierem a partir da reorganização, se aprovada.
Ontem à noite, Pedro Jereissati disse a jornalistas que agora a empresa poderá “escolher em qual conversa quer estar” e pode ter capacidade “de investir alguns bilhões”.
Um veterano do setor de shoppings, próximo da família, crava um alvo certo: o Shopping Higienópolis, em bairro de mesmo nome, cuja participação da família não passa de 12% .
É a menor fatia em toda a carteira, naquele que é um dos melhores shoppings da cidade. Os Jereissati têm pouco mais de 3 mil metros quadrados da área do empreendimento. Para eles, é quase nada. No passado, chegaram a disputar com a JHSF, de Zeco Auriemo, um filão no empreendimento, mas Zeco deixou o negócio anos atrás, o que facilitaria um avanço da Iguatemi no negócio.
“O Higienópolis é um quebra cabeça de investidores, tem o empreendimento I e o II, e a depender da proposta, tem um ou outro ali que analisaria a venda. É perfeito para a família aumentar o ‘share’. E serviria como uma espécie de resposta ao mercado, após essas mudanças societárias, já que o investidor vai estar ansioso para saber onde vão por o dinheiro novo”, disse essa fonte.
Ainda há outros caminhos possíveis para a Iguatemi, caso a proposta da empresa seja aprovada, como um avanço mais acelerado no negócio de outlets, diz um administrador tradicional de shoppings em São Paulo.
Os outlets são construídos em áreas abertas e têm recuperado vendas muito mais rapidamente após a pandemia. A Iguatemi tem apenas dois outlets, ambos no sul do país, e não é de hoje que Carlos Jereissati diz que há espaço para aumentar esse número. Outlets tem baixo investimento e, no ritmo de recuperação atual dos resultados, poderá ter retorno mais rápido.
Além disso há outras praças que a Iguatemi pode construir novos shoppings, lembra esse administrador. A companhia tem 21 empreendimentos no país, sendo 18 entre shoppings e outlets.
“Eles não tem nada no Centro-Oeste, que está numa maré de consumo boa há muito tempo, e não andam surfando nessa onda. Goiânia pode ser a praça ideal para uma entrada por meio de um projeto greenfield”, diz essa fonte.
No caso dos planos no braço digital, com o marketplace “Iguatemi365”, há um entendimento no mercado de que a sua expansão pode se acelerar também por meio da expansão orgânica da Iguatemi. A venda on-line ganha impulso com mais empreendimentos espalhados pelo país, servindo como “hubs” logísticos do grupo. Para isso, ainda há espaço para ganhar mercado para áreas fora de São Paulo.
A empresa não comenta seus planos de investimento caso a reestruturação avance.
Fonte: Valor Econômico