Lançado há pouco mais de um ano, meio instantâneo é terceiro mais citado entre favoritos e só perde para dinheiro e cartão de débito
Por Alessandra Saraiva
O Pix caiu no gosto do comércio brasileiro, principalmente entre pequenos e médios varejistas, e tende a crescer como meio de pagamento nas vendas do setor. É o que mostra pesquisa feita pela escola de negócios Fundação Dom Cabral (FDC), com apoio da empresa de logística e soluções de pagamento Brink’s.
O dinheiro em espécie é ainda o meio de pagamento favorito dos comerciantes (50% do total), de acordo com o levantamento, obtido com exclusividade pelo Valor e feito com 500 varejistas de grande, médio e pequeno portes entre julho e agosto deste ano em todas as regiões do país. Em seguida, vem o cartão de débito, com 18,4%. No entanto, com pouco mais de um ano de existência, o Pix já surge na terceira posição e é o favorito de 15,6% dos entrevistados, desbancando o tradicional boleto (4,6%).
Excluindo grandes varejistas dos resultados da pesquisa, o gosto pelo Pix é ainda maior. Entre pequenos e médios comerciantes, o dinheiro ainda é o preferido (53%), mas o meio instantâneo empata com o cartão de débito, ambos citados por 16% dos entrevistados.
O espaço que a modalidade tem conquistado veio para ficar, segundo pequenos e grandes varejistas entrevistados pelo Valor.
A Realize, braço de soluções financeiras da Renner, informa que o Pix já ultrapassa 1 milhão em transações nos canais on-line da marca, onde representa 11,6% dos pagamentos. No Grupo Pão de Açúcar (GPA), cerca de 10% das operações realizadas nos sites da rede são pagas com o meio instantâneo.
Na prática, o comerciante nota as vantagens de receber de forma imediata os pagamentos pela venda sem arcar com taxas por uso de “maquininhas” de débito e de crédito, observam Fabian Salum, professor Ph.D. em estratégias competitivas e modelos de negócios da Fundação Dom Cabral, e Gil Hipólito, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Brink’s.
Isso é perceptível em outro tópico da pesquisa: o que pergunta quais as modalidades mais aceitas pelos lojistas dentro do total de vendas (e não qual o meio favorito deles). O dinheiro ainda é a forma mais aceita (96% dos entrevistados), seguido por cartão de crédito e cartão de débito, com 91,5% e 89,7%, respectivamente. O Pix ocupa a quarta posição, mas já é citado por 83,9% dos lojistas e supera meios consolidados, como boleto bancário (45,1%) e cheque (31,9%).
“O Pix nos surpreendeu pela predisposição do varejo [a aceitar]” afirmou Salum. Para o pesquisador da Fundação Dom Cabral, a simplicidade do novo meio também ajudou na expansão no comércio, principalmente entre pequenos varejistas.
A adesão também é reflexo da boa aceitação entre pessoas físicas. De acordo com o BC, o Pix bateu recorde de utilização diária na sexta, quando foram realizados 50,3 milhões de transações. Mas, apesar dessa aceitação, houve problemas de segurança ligados ao Pix, como transferências feitas por meio de golpes e sequestros relâmpago, o que fez o BC efetuar mudanças.
Márcia de Souza Rodrigues, que há cinco anos, em parceria com o marido, é dona da GN, loja de artigos para sapatos em Botafogo, na Zona Sul do Rio, “não tem como o comércio deixar de aceitar Pix”. Sem mencionar qual a fatia da modalidade no total vendido, ela diz que aceita o meio desde que foi lançado. “Prefiro mil vezes receber por Pix do que transferência, cartão de crédito e de débito. Cai direto na conta”, afirma ela, para quem essa forma de pagamento “é coisa de Deus, não tem preço”.
Na visão da empreendedora, o Pix tem boa aceitação no comércio de micro a médio portes devido ao baixo custo para os lojistas – ou custo zero, no caso de alguns bancos que vêm optando por oferecer esse benefício para conquistar mercado. “Para nós [pequenos varejistas] cada centavo economizado é lucro”, diz.
O custo baixo também é apontado como vantagem por Mario Rogério Brandão, há 40 anos gerente comercial da Cofamar, distribuidora de bebidas no bairro do Flamengo, zona sul do Rio. Sem mencionar faturamento, ele afirma que o Pix representa até 9% do total de pagamentos em sua loja. “Deve crescer mais entre jovens, sempre abertos às inovações tecnológicas”, completa.
Grandes varejistas também estão atentos ao Pix. Gustavo Maniero, diretor-presidente da Realize CFI, da Renner, destaca o baixo custo, a facilidade e a disponibilidade – 24 horas por dia e 7 dias por semana – como fatores que levaram ao avanço do meio no varejo. Na companhia, a adesão se deu ainda em novembro de 2020, quando o meio instantâneo foi lançado no Brasil. Hoje, está disponível em todas as lojas físicas da Renner, além de site e aplicativo. “É inegável que o sistema provocou grande mudança e evolução entre opções de meios de pagamento.”
Frederico Alonso, diretor de tesouraria do GPA, ainda vê grande potencial de crescimento do Pix nas compras em lojas físicas. “Existe uma curva de aprendizado do consumidor para aderir a uma tecnologia completamente nova e com um formato tão dinâmico quanto o Pix, especialmente no mundo físico”, diz. “Já nos sites, a experiência com a modalidade é muito mais simples, o que explica maior aderência do consumidor nesse canal.”
Fonte: Valor Econômico