Por Maria Luiza Filgueiras | Depois de se voltar para rentabilidade no primeiro semestre, a Petz está de olho em proteger sua participação de mercado no segundo semestre. A companhia conseguiu uma melhora na geração de caixa na primeira metade do ano, ainda que num cenário de margens pressionadas, ganhando espaço de manobra para adotar uma estratégia mais defensiva de share.
“Havia anunciado no início do ano que protegeríamos a rentabilidade em detrimento do crescimento, com a ressalva de que isso não poderia comprometer market share. Fizemos isso no primeiro semestre, ganhamos rentabilidade e isso colocou o crescimento em níveis próximos à média do mercado”, disse o CEO Sergio Zimerman ao Pipeline. “Então vamos fazer um shift nessa proteção de rentabilidade para proteção de share no segundo semestre, para não voar baixo. Faz sentido esse trade-off de curto prazo pelo longo prazo porque é um cliente de vida longa.”
Um dos indicadores dessa desaceleração é a venda mesmas lojas da marca, que crescia a taxas de dois dígitos e subiu 8% no último trimestre. Mas a principal defesa de mercado está no digital, onde a companhia fez ajustes no início do ano por rentabilidade. “O ajuste por rentabilidade que fizemos foi sobretudo no canal digital, como criar taxa de serviços ou tirar desconto de retirada em loja. É o canal que ficou ainda mais competitivo e a gente vai se posicionar muito claramente para desviar essa concorrência”, diz.
Zimerman destaca que a motivação de um cliente para trocar de rede é o nível de serviço – desde a qualidade do atendimento à conveniência na entrega – ou uma diferença de preço relevante. “Mantemos nosso nível de serviço, mas percebemos um movimento de preço mais agressivo da concorrência e, já em julho, acertamos nossas métricas”, diz, ressaltando que a companhia não perdeu participação no primeiro semestre. “Seria um grande erro da nossa parte perder esse cliente por uma pressão de curto prazo.”
Num relatório recente, o banco BTG Pactual comparou preços de alguns itens para pets em lojas físicas e digitais em São Paulo, incluindo especializadas e generalistas. Os analistas apontaram preços mais baixos em alguns itens na Amazon. Mas essa competição também tem vindo de plataformas como Mercado Livre ou novos entrantes como a rede Ultrafarma.
Aline Penna, CFO, faz a ressalva que o cliente não compara somente preço do produtos, como no relatório, mas também itens como taxas e prazos de entrega. “Há também a questão de capilaridade que a Petz tem. Temos 231 lojas, que entregam em duas horas na maioria das capitais, não só São Paulo.”
Na fidelização da clientes, a Petz também aposta na expansão da marca própria e no plano de saúde, cujo piloto começa no quarto trimestre no mercado paulista. A marca própria responde por 8% das vendas da Petz, mas chega a passar de 60% nas categorias específicas, como tapete higiênico. A companhia quer elevar essa participação total para 15%, o que deve ser impulsionado pela entrada da Petz em ração. A marca própria gera em média 5 a 8 pontos a mais de margem.
A Petz agora tem espaço para esse ajuste de posicionamento no digital porque encerrou o trimestre com caixa alto, sem alavancagem líquida. “No primeiro semestre, a geração de caixa operacional financiou todo o fluxo de investimentos, o que não ocorria há anos”, diz o CEO. Essa cifra foi de R$ 60 milhões no segundo trimestre, ante R$ 3 milhões há um ano, e de R$ 94,5 milhões no semestre, ante queima de caixa de R$ 60,9 milhões no mesmo período de 2022.
“Corrigimos o que não foi bem no ano passado. Para ter uma ideia, tomamos R$ 400 milhões em debêntures e fechamos o trimestre com R$ 500 milhões no caixa. Não usamos ainda nada do dinheiro tomado porque a geração de caixa paga a conta”, diz.
A melhora na geração de caixa, que vinha sendo ponto de questionamento de analistas, vem da gestão de estoques, ajuste de prazos com fornecedores e num crédito tributário que a companhia destravou no centro de distribuição em Goiás. A companhia também fez maior gestão de despesas, aumentando a produtividade por loja e reduzindo de 15% a 20% o investimento por loja.
“Ficamos mais eficientes, desde a gôndola até o empreiteiro, e lançamos formatos reduzidos. Na cidade que já tem uma ou duas lojas nossas, a terceira não precisa ter clinica veterinária, por exemplo, que já é um serviço prestado nas outras, ou não ter banho e tosa em lojas com giro mais focado em alimentação de cães e gatos”, diz Penna.
A receita do grupo Petz no segundo trimestre foi de R$ 944,8 milhões, alta de 18% na comparação anual, com queda de 1,2 ponto na margem bruta, para 39,7% no trimestre e 39,8% no semestre – em linha com a projeção do Itaú BBA, que projetava em torno de 39,5%.
De abril a junho, o Ebitda ajustado ficou em R$ 69,9 milhões, alta de 5,9%, com margem Ebitda de 7,4% (um pouco melhor que a estimativa do Santander, que projetava Ebitda de R$ 68 milhões com margem de 7,2%). O lucro líquido no segundo trimestre foi de R$ 24,5 milhões, 25% abaixo do mesmo período do ano passado por aumento de depreciação e amortização, dado o volume de investimentos em lojas.
Num período que Zimerman define como “misto”, os investidores também tem espaço para interpretações, com indicadores em direções opostas. A avaliação tem sido nervosa, com a competição acirrada e as margens sob pressão deixando a ação da Petz para lá de volátil: em um mês, a queda é de 12%, no ano, sobe 5%. Desde o IPO, caem 45%.
Fonte: Pipeline Valor