Sergio Zimerman, CEO da Petz, rede varejista de produtos para animais domésticos, com 107 lojas espalhadas pelo País, diz que neste momento de pandemia do novo coronavírus é preciso ter equilíbrio por parte dos empresários, autoridades e trabalhadores. Ao contrário de seus pares que já anunciaram demissões, Zimerman frisa que “demissão por coronavírus será a última das últimas medidas que vamos tomar”. Ele defende a adoção de outras medidas, como redução de gastos, adiamento de planos.
Por enquanto, para equilibrar os negócios, a empresa adiou a inauguração de lojas (seriam 30 este ano) e abertura de capital na Bolsa, prevista para até o final de abril. Ele acredita que o governo deveria postergar o recolhimento de tributos municipais, estaduais e federais para atenuar os efeitos da crise sobre empresas e trabalhadores. Zimerman defende uma sinalização mais clara por parte das autoridade de até quando essa quarentena vai durar. “Não adianta sair defendo o fechamento de tudo ou a abertura de tudo, como se nada tivesse acontecendo.” A seguir, principais trechos da entrevista.
Há empresários que já falaram em demissão em massa. O sr. compartilha dessa opinião?
Tenho quatro mil funcionários e preciso ter foco absoluto na preservação do emprego, caso contrário a tragédia social será grande. Se todo mundo tomar como primeira atitude sair demitindo, vamos ter um caos social. Demissão por coronavírus será a última das últimas medidas que vamos tomar. Tenho certeza de que não vamos precisar demitir uma única pessoa por causa do coronavírus. Preservação do emprego é a responsabilidade de cidadania empresarial neste momento. Não podemos sair demitindo ou ameaçando demitir. Estamos fazendo outros esforços em outras direções: contendo gastos, cortando projetos de médio e longo prazo.
O sr. falou em mudança de planos. Será adiada a abertura de lojas?
Neste cenário, mesmo que estejamos com a loja pronta, não vamos inaugurar. Não há clima para abrir novas lojas hoje. Termos duas lojas prontas. A previsão para este ano é abrir 30 lojas.
Por enquanto, esse plano está congelado?
Está suspenso, diante de tudo que está acontecendo.
E a abertura de capital da empresa prevista para final de abril será adiada?
A janela para abertura de capital que havia nos últimos tempos se fechou. Na primeira oportunidade que o mercado voltar a ser favorável à abertura de capital, estaremos na linha de frente.
Há empresários que criticam as medidas atuais para evitar a disseminação do novo coronavírus e querem algo mais brando, é o seu caso?
Precisamos ter equilíbrio nas medidas. Temos que tomar muito cuidado para não criar um caos social. Quem mais sofrer será a população carente. Precisamos ter equilíbrio da parte dos empresários. Não adianta sair defendendo o fechamento de tudo ou a abertura de tudo, como se nada tivesse acontecendo. Ficarmos parados como, como estamos agora por 15 a 30 dias, é o tempo limite do que uma economia suporta sem provocar estragos muito mais sérios. A preocupação neste caso é administrar um remédio que mata o paciente. A prevenção acaba provocando danos mais severos do que a própria doença. Ou seja, o coronavírus pode começar matar mais gente pelas conseqüências da prevenção.
O sr. acha acha que estamos nesse estágio?
Acho que ainda não. Até o final de abril será o preço a ser pago para preservar vidas. A decisão de paralisar as atividades agora está correta, mas não pode ser por tempo indefinido, causando pânico do jeito que está causando. Porque, se o empresário vê seu negócio fechado e sua receita se esvair do dia para noite, a primeira decisão que ele pensa em tomar é sair demitindo as pessoas. Isso é muito perigoso para a economia. Precisa ter uma regra bem clara. Não podemos ter uma quarentena superior a, no máximo, 30 dias e ficarmos numa situação indeterminada. O desconhecido provoca pânico. Do mesmo jeito que se procura tranqüilizar a população com relação a medidas corretas de prevenção da doença, acho que é preciso sinalizar um limite de até onde vai essa paralisação da economia, especialmente para quem tem a responsabilidade de milhares de empregos nas suas costas. É preciso dar uma sinalização.
Como poderia ser atenuado o risco de demissões?
Defendo que, do ponto de vista econômico, tenhamos outras medidas que possam ser tomadas. Por exemplo, a postergação do pagamento de impostos federais, estaduais, municipais até que a economia volte ao ritmo normal. Foi feita uma postergação do pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), mas isso é insuficiente. Precisa incluir o PIS/Cofins, ICMS, INSS, tudo isso precisa ser postergado. Não é momento de usar caixa das empresas para ir pagando impostos em detrimento de pagar salários. O salário deve ser a prioridade número um.
Como está o dia a dia da sua empresa?
O setor de produtos para os pets (alimentos e medicamentos) foi considerado essencial ao lado de supermercados e farmácias em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde há um decreto autorizando a abertura de lojas. Ocorre que em outras cidades não colocam que está liberado e isso provoca muita interpretação às vezes por parte da Polícia Militar, às vezes por parte da fiscalização, e dá um pouco mais de trabalho. No geral, as nossas lojas estão abertas no Brasil inteiro, mas a diferença é que alguns lugares sem maiores complicações porque o decreto autoriza e em outros lugares com mais trabalho para explicar a essencialidade do produto para Polícia Militar, a fiscalização, porque não consta no decreto.
Como estão as vendas?
O nosso negócio é parecido com o de supermercados, as pessoas estocaram produtos num primeiro momento.
Como está o dia a dia dos funcionários?
O pessoal de escritório está em home office e o das lojas trabalhando em horário reduzido em turnos de dias alternados. Metade da equipe trabalha num dia e folga no dia seguinte. Há lembretes para lavar as mãos a cada meia hora e foi disponibilizado álcool gel. Também há indicações para manter a distância na fila dentro das lojas. Estamos avaliando implantar painéis de acrílico para reduzir o contato entre vendedor e cliente.
Fonte: Terra