A Pernambucanas, varejista de moda, cama, mesa e banho e produtos de decoração, retomou a expansão da rede de lojas, após fazer uma ampla reestruturação de suas operações, em 2016 e 2017.
Sergio Borriello, presidente executivo da Pernambucanas, disse, em entrevista ao Valor, que a intenção é tornar a companhia nacional novamente. A rede chegou a ter mais de 700 lojas em todo o país, na década de 1970. Devido a longas disputas entre herdeiros nas décadas de 1970 a 1990, a operação foi reduzida. No ano passado, a companhia chegou a 320 unidades, distribuídas em sete Estados (São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina) e no Distrito Federal. A empresa já teve 16 mil funcionários; hoje tem 10,3 mil.
“A companhia retomou a expansão no fim de 2017. O plano para os próximos cinco anos é abrir entre 80 e 125 lojas. Em 2018, a previsão é abrir de 15 a 20 unidades”, afirmou Borriello. Em 2017, a companhia abriu dez unidades, sendo nove lojas físicas e o comércio eletrônico.
Borriello disse que o foco inicial da expansão são cidades nos Estados onde a Pernambucanas já opera, aproveitando a estrutura logística atual. “Posteriormente, a companhia pretende voltar a ser nacional, com lojas em todos os Estados”, afirmou.
No alvo estão principalmente cidades com menos de 70 mil habitantes, onde outras grandes varejistas (como Renner, Riachuelo e Marisa) têm pouca atuação. O executivo acrescentou que o foco segue concentrado na abertura de lojas de rua. “Hoje, 11% das lojas estão em shopping centers. Talvez em cinco anos esse percentual suba para 20% a 22%, mas o principal foco são as lojas de rua”, disse Borriello. O executivo observou que público-alvo da companhia é formado principalmente por famílias das classes C e D, que fazem compras basicamente em lojas de rua.
A Pernambucanas possui atualmente lojas que variam de 350 metros quadrados a 4,5 mil metros quadrados. Para a expansão, a companhia vai se concentrar em unidades de 600 metros quadrados, em cidades pequenas, e de 1 mil a 1,2 mil metros quadrados em capitais. “Consideramos esses tamanhos ideais para apresentar o sortimento de produtos para a família nas unidades”, afirmou o executivo.
De acordo com o executivo, a Pernambucanas fará a expansão de lojas com recursos provenientes da Alinc, empresa criada pelo grupo em 2017 para administrar os imóveis operacionais e não-operacionais da companhia. “A Pernambucanas não se desfez dos imóveis que tinha ao longo do tempo. A Alinc vai trabalhar para criar um novo valor para esses imóveis e, com isso, financiar a expansão de lojas”, disse Borriello. Ele citou como exemplo a construção de um conjunto de escritórios sobre uma loja da Pernambucanas em Carapicuíba (SP), empreendimento imobiliário que será lançado no fim de abril.
A Pernambucanas também vai buscar incentivos fiscais e financiamentos subsidiados nos Estados para abrir as lojas, como recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) e linhas do Banco do Nordeste (BNB). “Se for necessário, a companhia também vai recorrer a bancos para financiar a expansão”, disse Borriello.
O executivo considerou ainda que, no longo prazo, a companhia pode recorrer ao mercado de capitais, com emissão de debêntures ou uma capitalização com entrada de um fundo investidor. “A pretensão da companhia é voltar a ser a maior varejista do Brasil. Isso vai demandar recursos. Mas não há intenção em fazer isso nos próximos cinco anos”, afirmou o executivo.
A Pernambucanas deixou de vender eletrodomésticos pesados (linha branca e linha marrom) em outubro de 2016, e passou a se concentrar na venda de vestuário, calçados e acessórios, artigos de cama, mesa e banho, itens de decoração e smartphones. Os produtos são voltados para os públicos feminino, masculino e infantil. A companhia oferece marca própria na área de vestuário e marcas de terceiros. A produção é feita por confecções terceirizadas. Nas outras categorias, a Pernambucanas atua apenas com marcas de terceiros.
Em 2017, a Pernambucanas mais do que triplicou o lucro líquido, para R$ 203,2 milhões. Em 2016, o lucro foi de R$ 58,5 milhões. “Embora o valor de venda seja mais baixo, a rentabilidade da venda de roupas é o dobro da rentabilidade da venda de linha branca e marrom”, disse Borriello.
A receita líquida da companhia caiu 4,2% no ano, para R$ 3,75 bilhões. Borriello disse que, excluindo da base de 2016 as vendas de eletrodomésticos, houve crescimento de 13% na receita de vendas. “As vendas de itens de moda aumentaram 15,8% em comparação a 2016”, acrescentou o executivo. A alta, segundo Borriello, decorreu da maior oferta de itens de moda, de mudanças na modelagem e na qualidade dos produtos, e do aumento na frequência de entrega nas lojas, de uma distribuição semanal para diária.
No fim de 2016, a Pernambucanas instalou um novo centro de distribuição, totalmente automatizado, em Araçariguama (SP), de 100 mil metros quadrados. E fechou os outros centros, localizados em Barueri (SP) e Tamboré (SP). Essa mudança permitiu elevar a agilidade na distribuição, segundo Borriello.
O executivo também considerou como ponto que favoreceu as vendas a integração entre aplicativos e lojas físicas, feita no fim de 2017. Borriello disse que as vendas digitais somaram R$ 10 milhões em 2017. “A perspectiva para 2018 é chegar a R$ 50 milhões de vendas digitais”, disse o executivo.
A Pernambucanas também fez mudanças na Pefisa, braço financeiro da companhia. A empresa trocou a Mastercard pela Elo como parceira na emissão de cartões da loja co-bandeirados. Borriello disse que foram emitidos 380 mil cartões com a bandeira Elo em 2017 e a previsão é chegar a 1,5 milhão de plásticos até junho deste ano. “Para a expansão deste ano de cartões será priorizado o cartão co-bandeirado”, disse o executivo.
A Pernambucanas reduziu o tempo de emissão de cartões da loja (sem parceria com a Elo), de 30 minutos para 7 minutos. Em 2017, foram emitidos 1,1 milhão de cartões da loja, ampliando para 5,2 milhões a base de cartões ativos da loja. A companhia também implantou serviços, como antecipação de parcelas sem juros e com desconto, pagamento de fatura até sábado em loja, sem juros, consulta e pagamento de fatura digital.
As despesas com vendas da Pernambucanas caíram 14,9%, para R$ 1,01 bilhão em 2017. As despesas gerais e administrativas recuaram 6,9%, para R$ 658,2 milhões. A despesa financeira líquida baixou 17,5%, para R$ 182,9 milhões. Borriello disse que a Pernambucanas fez uma redução nominal de R$ 150 milhões em 2017 das despesas, com ganhos com eficiência operacional, terceirização de atividades e reestruturação de áreas. A dívida líquida teve redução de 16%, para R$ 795,6 milhões.
Para 2018, a companhia prevê um avanço nas vendas da ordem de 9%. “A meta é chegar a um crescimento de duplo dígito, mas por ser um ano de eleições, considero mais factível um crescimento de um dígito alto”, disse.
Fonte: Valor Econômico