Em menos de dois anos, caiu a presença do número de franquias nos shopping centers brasileiros. Do universo de 141,9 mil unidades de franquias em atividades no país, 17% estão localizadas em shopping centers. Em 2014, a participação era de 23%. O levantamento é da Associação Brasileira de Franchising (ABF) referente ao primeiro trimestre de 2016. “É importante frisar que não é apenas a crise econômica que explica essa redução, mas há uma conjugação de fatores ligados às tendências de evolução do setor”, diz Claudio Tieghi, diretor de inteligência de mercado da ABF.
O setor de franchising tem apresentado crescimento expressivo e, somente no último ano, o avanço foi de 8,3% no faturamento e de 10,1% no número de lojas. É preciso considerar que nem todos os modelos de negócios se encaixam em shopping centers, depende muito do porte, da vocação setorial e do público alvo das marcas.
Outro aspecto é que está em curso a interiorização das franquias, que em dois anos aumentaram sua presença de 36% dos municípios para 40%. “Em diversas cidades pequenas e médias do interior não há shopping centers ou não existem muitas opções. Assim, muitas franquias se estabeleceram em ruas”, explica. Por sua vez, o ritmo de expansão dos shopping centers desacelerou bastante no Brasil.
No entanto, de acordo com Tieghi, houve uma elevação dos custos de ocupação nos shopping centers acompanhada pela queda no consumo nos últimos anos. Diante desse quadro, vislumbrando despesas operacionais mais baixas, uma parcela de empreendedores buscou novas oportunidades ou migrou para lojas de rua. Porém, o diretor da ABF destaca que, desde o ano passado, os shopping centers buscam se readaptar por meio de revisões de seus próprios custos para oferecer valores atrativos às franquias, assim como estão mais abertos às renegociações de contratos. “Agora, o cenário está um pouco melhor. As redes têm encontrado condições mais favoráveis para seus negócios”, diz.
De maneira geral, as franqueadoras também têm apostado em novos formatos para lidar com esse período desafiador, dentre eles, lojas mais compactas, quiosques e carrinhos.
A ABF realizou uma pesquisa com a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) em 2014, que indicava que no setor de alimentação dos shoppings a presença de franquias era mais relevante, 57%. Na sequência, no segmento de serviços, as franquias representavam 43,5%.
Outras áreas com forte presença de franquias em shoppings identificadas no levantamento foram mercados e empórios, brinquedos, calçados e acessórios, saúde, beleza, esportes e vestuário. “Esses setores ainda se sobressaem”, diz o diretor da ABF. Na avaliação dele, os acessórios ganharam contornos mais fortes em função da crise ao substituírem itens caros do vestuário e permitirem renovação no visual. Devido à onda de vida saudável, as franquias de alimentos orgânicos e naturais, suplementos e artigos esportivos avançaram. Serviços e produtos ligados ao bem-estar também ganharam espaço.
Pela conveniência e segurança que garantem aos consumidores, os shopping centers têm sido fundamentais para o desenvolvimento do franchising. “Os shoppings dão muita visibilidade às marcas. Isso ocorre tanto pelo fluxo de pessoas, quanto pelas ações de marketing. As franquias são duplamente beneficiadas”, diz Tieghi.
Por conta da retração prolongada na economia, está havendo maior sinergia entre administradoras de shopping centers e franqueadoras em iniciativas para melhoria nos resultados, avalia Claudia Bittencourt, sócia-fundadora e diretora geral do Grupo Bittencourt, empresa com foco no desenvolvimento e expansão de redes de franquias. “Além de negociarem os aluguéis, os shoppings estão fazendo um trabalho em conjunto de promoções e eventos para ajudar os varejistas”, afirma. Há casos de shoppings que oferecem, inclusive, cursos de capacitação em vendas aos lojistas. De acordo com Claudia, a vacância de espaço também abre chances para a entrada de redes e marcas menores.