Segundo Cristina Anne Betts, o momento “é de conservadorismo” devido ao aumento da taxa Selic, que pesa sobre os resultados da empresa
Por Raquel Brandão
A Iguatemi não deve ir às compras tão logo, sinalizou a presidente do grupo, Cristina Anne Betts. Segundo ela, o momento “é de conservadorismo” devido ao aumento da taxa Selic, que pesa sobre os resultados da empresa.
“Não é o momento fantástico para tomarmos uma posição de alavancagem”, disse a executiva em teleconferência de resultados. “Nossa reestruturação societária fizemos para fazer M&A quando o momento for propício. Mas esse contexto ficou um pouco pior do que estava no começo do ano.”
De acordo com ela, também é cedo para falar de novos projetos. “Sempre falamos que ‘greenfield’ está meio longe ainda e ‘brownfield’ também”, disse. Uma possibilidade mais próxima é fazer os projetos de uso misto de áreas que a companhia já tem, mas eles não consomem capital porque são feitos em parceria. “Queremos continuar. Tem muita demanda no interior.”
O diretor financeiro do grupo, Guido de Oliveira, também falou que a alavancagem da empresa atualmente não é um fator de preocupação, embora a empresa esteja com posição mais conservadora. Assim, a empresa não considera operações para aumento de capital. “Em alavancagem a gente está bem tranquilo. Não vemos necessidade de fazer ‘follow-on’”, disse ele. A empresa encerrou o trimestre com alavancagem de 2,76 vezes.
Crescimento da ocupação
A administradora de shoppings centers diz que o aumento das vendas tem ajudado a elevar a ocupação das lojas, que chegou a 92,7% no fim do primeiro trimestre. As vendas de abril estavam 31% mais altas do quem 2019, segundo dados até o dia 22.
“As vendas do mês vão superar isso, e maio deve ser ainda melhor, pois os lojistas estão bastante animados com o Dia das Mães”, disse Oliveira.
Para Betts, é possível perceber uma melhora nas vendas em todas as categorias. Um dos destaques é o segmento de luxo, que tem, inclusive, atraído grifes internacionais que ainda não operam no país.
“O mais evidente é a parte de luxo porque teve uma mudança de hábito de consumo desse mercado no Brasil”, diz. Quem comprava lá fora, percebeu que aqui se pode comprar com o mesmo preço, parcelando e com atendimento em português.
“Mas o que eu acho mais emocionante é que vemos esse movimento de melhora em todas as categorias e em todos nossos shoppings. A remoção das máscaras nesse trimestre foi muito importante, dá uma sensação de normalidade muito grande”, acrescenta ela, citando o exemplo das redes de cinema, que voltaram a ficar lotadas e lançar filmes ‘blockbuster’.
Dada essa melhora nas vendas, a empresa tem, além da ocupação, conseguido melhorar os valores de aluguel, retirando os descontos. “Não locamos por locar. Locamos corretamente. Para preservar os aluguéis média por metro quadrado, fizemos escalonamento, com valores menores na entrada”, disse o diretor financeiro, apontando que o aluguel de mesma área deve se aproximar do aluguel de mesmas lojas ao longo do ano.
“Vemos uma queda bem forte de descontos quando se compara com o primeiro trimestre de 2021. Tiramos mais descontos agora em abril devido à recuperação das vendas. Olhando o custo de ocupação, ele está abaixo de 2019 e vamos voltar para um custo de ocupação abaixo de 12%”, conta. No trimestre, o custo de ocupação ficou em 13,8% das vendas.
Ação da Infracommerce
Apesar do impacto das operações da Infracommerce no resultado da Iguatemi, a direção da companhia mostrou-se confiante no investimento.
“O preço hoje que está ‘tradando’ [negociando a ação] a Infracommerce é acima do preço de custo. Então, mesmo não dando caixa, estamos confortáveis porque estamos ganhando acima do CDI”, disse Oliveira
Se não fosse o investimento em ações da empresa de infraestrutura de software para comércio eletrônico, a Iguatemi teria registrado um lucro de R$ 41 milhões no trimestre. O resultado reportado foi um prejuízo de R$ 17 milhões. “O impacto da Infracommerce não tem efeito caixa”, defendeu a presidente da Iguatemi.
A Iguatemi tem participação na Engadin Investments, que detém 10,41% das ações da Infracommerce. A ação da empresa de tecnologia acumula queda de 69,16% no ano.
Fonte: Valor Econômico