Após registrar sua primeira retração em mais de uma década no ano passado, o varejo brasileiro pode ter um desempenho até pior neste ano, segundo as expectativas de cinco economistas consultados pela Folha.
As projeções apontam para retração de 2% a 5,7% no varejo restrito (que exclui automóveis e materiais de construção) em 2016. O resultado pode ser pior, portanto, que a queda de 4,3% do ano passado, a maior desde 2001.
Segundo economistas, 2016 promete ser um ano de consumidores cautelosos e retraídos diante de um quadro de perda de empregos, inflação em alta e crédito caro.
A previsão mais sombria veio do banco de investimentos Credit Suisse, do economista-chefe Nilson Teixeira. Em relatório, ele prevê retração de 5,7% nas vendas do varejo este ano, citando o cenário de inflação, emprego e crédito.
PERDAS DISSEMINADAS
A retração das vendas será disseminada entre ramos do varejo, segundo Thiago Biscuola, economista da RC Consultores. Para ele, o maior impacto virá das vendas que dependem do crédito, como móveis e eletrodomésticos.
“É uma compra que pode ser postergada e, por isso, prevemos retração de 12,5% nas vendas de móveis e eletrodomésticos”, disse. “Supermercado também deve ser afetado pela inflação e vender 3% menos”.
O economista José Francisco Gonçalves, do banco Fator, prevê retração de 2% nas vendas do varejo, a menor entre as instituições consultadas. Seria, mesmo assim, o segundo ano seguido de queda nas vendas.
MAIS DEMISSÕES
Fabio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), diz que esses números significam, na prática, que o setor vai continuar fechando lojas e demitindo funcionários neste ano para se ajustar à realidade econômica.
“Dezembro teve o pior desempenho para o mês de toda a série histórica. E isso não muda da água para o vinho de uma hora para outra. Os empresários estão fechando lojas por total falta de perspectivas”, disse Bentes.
Segundo ele, 95.400 lojas foram fechadas pelo país em 2015. E 180 mil postos de trabalho foram encerrados no comércio (líquido dos postos criados). Para a CNC, mais 200 mil empregos devem ser perdidos no setor neste ano.
Um caminho para amenizar as perdas na economia este ano seria uma desaceleração mais rápida da inflação, o que reduziria a perda na renda real (descontada a inflação dos trabalhadores) e permitira juros menores.
Esse quadro, contudo, passa longe do cenário dos economistas. O IPCA (inflação oficial) deve fechar o ano em 7,61%, segundo a média das projeções dos analistas consultados no boletim Focus, do Banco Central.
RETOMADA EM 2017
Para Thaís Marzola Zara, economista da Rosenberg Associados, a inflação alta, renda em baixa e mais desemprego devem continuar afetando o consumo das famílias e derrubar a venda do varejo em 4,5% em 2016.
“Estamos prevendo alguma recuperação somente a partir de 2017, com um crescimento de 1,5% a 2% do varejo. Nada suficiente para compensar as perdas do ano passado e deste ano”, disse a economista.
O volume de vendas do varejo regrediu no ano passado aos níveis registrados em março de 2012. Isso significa que, em um ano, regrediu-se mais de três anos. O setor está 9,47% abaixo de seu pico histórico, registrado em novembro de 2014.
“Considerando o que o varejo ainda pode perder de vendas neste ano, o setor só deve voltar a registrar vendas iguais a de novembro de 2014 lá em 2019”, disse a economista da Rosenberg Associados.