Varejistas tradicionais ou mesmo aqueles que já nasceram digitais estão buscando inovação por meio da criação dos Retail Labs. Trata-se de laboratórios com foco em trazer para as operações de varejo as inovações necessárias, a fim de acompanhar os anseios dos consumidores que, na maioria das vezes, já nascem digitais. Para Eduardo Terra, presidente da SBVC – Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, antes de falar de Labs de inovação no varejo, o mercado deve entender a jornada da cultura digital nos indivíduos e nas empresas.
Segundo dados do Google, em média, as pessoas acessam 150 vezes o celular por dia. Ou seja, a massificação da tecnologia mobile impactou na vida dos cidadãos, que hoje estão se transformando em consumidores digitais. 86% dos millennials, por exemplo, usam os celulares para fazer compras, o que torna o mobile commerce uma realidade.
“Cultura digital não é algo de millennials e nem de classes A e B, a mobilidade e essa digitalização chegou para todas as gerações. E ela se tornou uma nova competência das organizações. Não podemos fazer um Labs de inovação no varejo sem antes ter uma cultura digital”, pontua Terra durante abertura de painel de debates no Congresso TI & Varejo.
Segundo o especialista, a transformação digital é intensa e a velocidade desse avanço surpreende todo o mercado, principalmente quando pensamos que dois anos atrás, não existia o Uber e hoje ele superou o número de táxis em São Paulo e em Nova York. “Para sintetizar esse assunto, tem um dado impressionante do Google, que eu até perguntei duas vezes quando estivemos lá em junho desse ano: 15% das buscas no navegador hoje nunca tinham sido feitas até ontem. Ou seja, estamos falando de algo que está impactando muito rapidamente nossas vidas”, destaca Terra.
E para que toda essa mudança faça sentido na estratégia do varejo, o especialista lista as melhores práticas:
– Experiência de compra sem atrito;
– Novas formas de entender, ouvir e monitorar o consumidor;
– Marcas, não canais;
– Colaboração;
– Velocidade: rápido, não perfeito;
– Protótipos, testes e implantações;
– Analytics;
– Personalização da oferta.
“O importante é olhar para essa lista e se perguntar: o quanto estou aderente a isso? Esses itens já viraram projetos na minha organização? E quando conectamos as respostas ao Labs, fazemos com que a cultura digital ganhe força e traga resultado nas organizações”, diz Terra e acrescenta que o papel do Lab é justamente esse, deixar o consumidor no centro estratégico e promover essa transformação no Varejo.
Tipos de Labs
De acordo com o especialista, quando falamos de Labs tudo começa com a Amazon. Ela criou alguns centros, comprou outros e essa estrutura é segmentada nos Estados Unidos, cada um cuida de um capítulo no processo de inovação.
No mundo, os Labs estão estruturados como os “dedicados”, um exemplo desse modelo é o Magazine Labs – da rede Magazine Luiza – com estrutura preferencialmente separada, equipe dedicada e uma agenda de desenvolvimento de soluções. São centros de inovações de empresas de varejo e funcionam em uma estrutura dedicada a isso com uma parte própria de testes. O Walmart Labs tem uma estrutura nesse modelo, assim como a Westfield Labs, uma das maiores empresas de shoppings centers do mundo.
Outra tendência forte que começou nos Estados Unidos e deve chegar em breve no Brasil são os Labs integrados à estrutura do negócio. Eles funcionam na sede da empresa, trabalham com o resto do time de inovação e o ambiente teste é a loja.
Um terceiro modelo, que talvez seja o caminho de entrada das empresas, é o de terceirização. São Labs que prestam serviços para diversas varejistas. Eles têm como papel trazer a digitalização para as organizações; concentrar esforços de inovação digital e simplificar a implantação; acelerar prototipagem e testes; e atrair talentos.
“Um Lab terceirizado que visitamos recentemente, o Iterate Studio, conecta 136 mil startups às demandas dos varejistas. Ele também é responsável por monitorar inovações no mundo digital e faz um sourcing de tecnologias em âmbito global”, esclarece Terra.
Segundo ele, muitos olham para o Lab como um simples ambiente de teste, mas a principal função dele é conectar problemas de negócio com soluções que não sabemos aonde estão. “Por isso enfatizo que o primeiro grande desafio do Lab é achar a solução que pode estar em um grande player de TI ou em uma startup na Índia, por exemplo”, completa.
E para que tudo isso funcione bem, o Lab de inovação no varejo precisa contar com profissionais capacitados e engajados na causa. “Se a empresa não tiver capacidade de trazer talentos, dificilmente ela terá um Lab”, conclui.