Julio Mottin Neto é inquieto por natureza e um friendly total de tecnologia. E avisa: “A rede que eu mais uso é o Twitter”. No perfil do administrador de 44 anos, os posts vão de negócios a cutucadas sobre atualidade política. Desde janeiro de 2016 como presidente do Grupo Dimed, dono da rede Panvel, Mottin Neto confessa surpresas com certa simplicidade, como a grande adesão, que nem ele esperava, à Prateleira Infinita, pela qual o cliente compra no aplicativo da rede e retira o produto na loja. Novidades e apostas das operações estão focadas numa meta, diz o CEO: a Panvel quer ser a melhor farmácia do Brasil. Hoje a rede é a quinta em tamanho, com receita bruta de R$ 586,3 milhões no segundo trimestre – alta de 8,9% no grupo e 14% no braço de varejo. Para conferir o estilo de Mottin Neto, assista a entrevista completa em vídeo o site do jornal e no canal do JC no YouTube.
Empresas & Negócios – O que está mudando na relação da Panvel com os consumidores?
Julio Mottin Neto – Junto com o projeto de expansão – e 2017 será recorde com abertura de 46 lojas –, trabalhamos muito a multicanalidade. Temos um aplicativo que, modéstia a parte, é um dos mais avançados do mercado, que integra estoques e mobilidade. A pessoa digita o produto no app e vê a loja onde tem, pode comprar e buscar no local, onde já estará embalado e com nota fiscal. Leva 30 segundos para pegar a sacolinha e ir para casa.
Empresas & Negócios – Essa ideia de fazer as pessoas irem até a loja é meio louca. O normal não seria receber em casa?
Mottin Neto – Fiquei muito surpreso com a aderência ao serviço, pois não acreditava muito até pelo que tu estás falando. Acho que a adesão tem a ver com a praticidade e economia de tempo. Juntamos duas coisas – vontade do consumidor de ter o produto na mão e na hora e menos tempo do que levaria pela internet. E ainda temos outra novidade: se o cliente não encontrar na loja o que quer, conseguimos fazer a venda no ponto físico e entregar na casa dele em duas horas!
Empresas & Negócios – Depois disso, que outras soluções de tecnologia virão?
Mottin Neto – Tem gente que fala que o futuro é imprimir os remédios em casa, mas acho que está distante, pois é um setor muito regulado. Portanto, vejo essa combinação de alternativas tecnológicas vindo para facilitar a vida. Nos Estados Unidos, a Amazon comprou a rede Whole Foods. Ou seja, o potencial de novas tecnologias quando tem ainda o varejo físico, amplia a conveniência, é mais do que ter apenas o e-commerce.
Empresas & Negócios – A Panvel pode entrar em outros nichos?
Mottin Neto – Nosso propósito é você sempre bem (o slogan da rede). Neste sentido, vemos mais alternativas de produtos e serviços. Estamos investindo no Panvel Clinic, que surge com a regulamentação que permitirá vacinação na farmácia. O Clinic terá desde vacina até colocação de brinco. Com isso e mais serviços, o farmacêutico deixará de ter função apenas final, mas para detectar problema e atender as demandas.
Empresas & Negócios – Em Porto Alegre, a gente pisca o olho e uma nova Panvel abre na esquina. Como o grupo sustenta este ritmo de expansão?
Mottin Neto – O varejo farmacêutico passou um pouco ao largo da crise, apesar de que este ano sentimos um pouco, com menor consumo nas linhas de higiene e limpeza. Em Porto Alegre, é mais uma sensação do que aumento do tamanho da rede, pois transferimos lojas pequenas e antigas para lugares maiores e com estacionamento. Além disso, ampliamos a base territorial, com mais lojas em Santa Catarina e Paraná – chegaremos a 50 em Curitiba até dezembro (hoje são 40) e vamos entrar em mais cidades paranaenses acima de 100 mil habitantes. E vamos abrir mais duas lojas em São Paulo este ano ainda. Definimos um perímetro dos bairros que vamos entrar na capital paulista, com foco nas classes A e B. As duas novas serão no Jardim Europa, ou seja, triple A.
Empresas & Negócios – A CVS entrou no Brasil comprando a Onofre. Como essa investida afeta vocês. Vai ter concentração?
Mottin Neto – É difícil prever como será o futuro. Quando o Walmart comprou o Sonae, que era daqui, todo mundo achava que ia consolidar o mercado de supermercado, mas vemos hoje marcas regionais mais fortes que as nacionais. O Brasil é muito complexo tributariamente, além de ser caro em termos logísticos e muito grande territorialmente. Aqui a escala não tem vantagem comercial grande. Acreditamos que sempre vai ter espaço para empresas – maiores ou menores – que prestam bom serviço. O consumidor quer ser bem atendido, ter uma loja bacana, quer sorriso no rosto.
Empresas & Negócios – Já tentaram comprar a Panvel?
Mottin Neto – Vários grupos já tentaram. A CVS estava olhando o Brasil, fez oferta pela Panvel, mas os acionistas não aceitaram. O valor foi baixo, e a empresa não está à venda. Somos uma empresa de capital aberto, a valorização em três a quatro anos é impressionante. Hoje vale R$ 2,2 bilhões na bolsa de São Paulo – considerando o volume de ações vezes o valor da ação. Estamos crescendo 16% ao ano, portanto a cada cinco anos dobramos de tamanho. Em 2017, nossa estimativa é crescer acima de 16%, com maior volume de vendas no segundo semestre. O Natal, por exemplo, é nossa grande data. E muita coisa mudou. No amigo secreto, ninguém mais dá CD, e livro é muito menos. Então, o kit de perfumaria da Panvel virou uma boa opção.
Empresas & Negócios – A rede tem a meta de ser um dia a maior do Brasil?
Mottin Neto – Nosso objetivo não é ser a maior, mas ser a melhor player do setor no País. Investimos para que as pessoas prestem o melhor atendimento e tenhamos o melhor mix de produtos. Obviamente, temos planos de expansão, como dobrar de tamanho em cinco anos, superando 700 pontos. Hoje são 383 lojas – 292 no Estado, 40 em Santa Catarina, 49 no Paraná e uma em São Paulo.
Fonte: Panorama Farmacêutico