Geralmente resistente a crises, o setor de franquias foi fortemente impactado pela pandemia do novo coronavírus. Metade das redes amargou quedas superiores a 25% na segunda quinzena de março, em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com estudo da Associação Brasileira de Franchising (ABF). A análise do primeiro trimestre de 2020 registra praticamente uma estagnação, quando comparado ao mesmo período do ano passado.
Nos três primeiros meses de 2020, o setor faturou R$ 41,537 bilhões, contra R$ 41,464 no mesmo período de 2019 – um crescimento de 0,2%. Para efeito de comparação, no mesmo período do ano passado o setor crescia 7%, em valores nominais.
A pandemia foi anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março e o comércio começou a fechar as portas no dia 16. Na comparação entre a segunda quinzena de março e a primeira, houve um reflexo semelhante à análise anterior, com quedas de 25% para quase metade das redes, mas com um maior número (17,2%) que alegaram não ter sentido grandes diferenças.
De acordo com a entidade, os bons resultados alcançados em janeiro e fevereiro foram rapidamente influenciados pela força da pandemia. “As políticas de isolamento social, principalmente o fechamento dos shoppings, provocaram uma diminuição sensível na demanda do consumidor. A queda só não foi maior pois essas ações foram implementadas no final do trimestre, sem contar que muitos estados ainda não tinham aderido firmemente à quarentena”, afirma André Friedheim, presidente da ABF. Dessa forma, os resultados do segundo trimestre podem apresentar quedas ainda maiores.
O setor concluiu o trimestre com 161.141 unidades abertas em todo o Brasil, 1% a mais do que o trimestre anterior, e 1.361.795 empregos diretos – apenas 0,3% a mais do que no último trimestre de 2019. A perda de ritmo também é creditada aos efeitos da pandemia, que teria deixado os potenciais franqueados menos propensos a investimentos no momento.
“Notamos também que algumas empresas deixaram o sistema ou suspenderam planos de expansão por meio do franchising, o que acabou se refletindo nesses números”, disse o presidente da ABF.
Serviços automotivos crescem e Alimentação tem queda
Serviços Automotivos (+7,4%), Comunicação, Informática e Eletrônicos (+6,9%), Limpeza e Conservação (+5,6%), Casa e Construção (+3,6%) e Serviços Educacionais (+3,5%) foram os segmentos com melhor performance nos três primeiros meses do ano.
De acordo com a ABF, o segmento de Serviços automotivos se amparou na necessidade de manutenção de veículos, em muitas cidades, e Comunicação, informática e eletrônicos tem se consolidado com empresas de tecnologia em meios de pagamento, além do crescimento do marketing digital e comunicações online.
Limpeza e conservação e Casa e construção se beneficiaram mais do período que exige maior higienização e adaptação de ambientes. Já o setor de Serviços educacionais conseguiu se manter por ser o período em que a maior parte das matrículas são realizadas e devido à adaptação das aulas para o digital.
Alimentação é o maior e mais tradicional segmento do franchising brasileiro, mas já sentiu os impactos da pandemia, com uma queda de 1,6% no faturamento do primeiro trimestre. A ABF acredita que as próximas pesquisas devem trazer resultados positivos em redes de supermercados e farmácias, que continuaram abertos durante todo o período de isolamento social.
Adaptação ao novo cenário
– Em mais de 70% das redes foram adotadas medidas de delivery, promoções, entrega de serviços online e orientações sobre a Covid-19.
– Mais de 50% concederam benefícios financeiros aos franqueados, seja por suspensão de taxa de marketing ou redução ou até parcelamento de royalties.
– 60% dizem ter criado novos produtos ou serviços.
– 19% encerraram unidades franqueadas.
– 9% repassaram unidades
Os planos de expansão foram postergados em 24,6% das redes, reduzidos por 27,7% e mantidos por 33,6%. Otimistas, 14,1% dizem que ampliaram as metas para 2020.
Negociações com shopping centers
Recentemente, a ABF divulgou algumas demandas que enviou à Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) para ajudar a minimizar os impactos do fechamento. Os centros comerciais vêm reabrindo as portas pelo Brasil, com novos protocolos de segurança e higienização, mas lojistas relatam perdas significativas de fluxo e faturamento nas reaberturas.
Fonte: PEGN