A pandemia de covid-19 catalisará mudanças já em andamento no varejo de moda. Uma delas, a aceleração no crescimento das vendas on-line, avalia Marcelo Prado, diretor do Iemi Inteligência de Mercado, que participa de evento on-line da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
“O fechamento do comércio na quarentena acelerou a adoção do comércio pela internet. As empresas que já tinham e-commerce estão se saindo um pouco melhor. As empresas que não têm estão em maus lençóis”, disse Prado.
Ele citou o caso da Arezzo, que dobrou em duas semanas as vendas on-line colocando os vendedores das lojas fechadas para fazer a venda para seus clientes por vias digitais, como o WhatsApp.
Lourenço Bartholomei, presidente da Associação Brasileira de Estilistas (Abest), diz que marcas que operam em shoppings de alto padrão, como JK Iguatemi e Shopping Cidade Jardim, já faziam antes da pandemia 40% a 60% das vendas de forma on-line, pelo Instagram ou outras plataformas.
“Para essas grifes as vendas durante a pandemia estão em 30% a 60% do que eram antes da crise”, afirmou Bartholomei.
Paulo Borges, diretor criativo da São Paulo Fashion Week (SPFW), considera que novos hábitos foram impostos aos consumidores e boa parte desses hábitos devem permanecer depois da pandemia.
Além da preferência para compra on-line, Borges diz que o mundo sairá de uma tendência de hiperconsumo e hiperglobalização para um consumo mais consciente, com menos volume e valorizando mais a qualidade dos produtos e a fabricação feita regionalmente.
“Vai ser preciso rever os processos de toda a cadeia da moda no mundo. Vai ser preciso ter menos coleções, menor número de itens. Nos últimos anos, as indústrias de confecções trabalharam 70% do ano fazendo liquidações e promoções. É um modelo que se esgotou.”
Outra revisão defendida pelos especialistas é nas datas de liquidações do varejo de moda. “As empresas colocam a coleção de inverno nas lojas antes do carnaval e fazem liquidação em julho, no pico do inverno. A liquidação de inverno deveria ser feita em agosto”, defendeu Bartholomei.
Para ele, é preciso uma ampla discussão envolvendo todos os elos da cadeia de moda para rever o calendário de promoções e liquidações.
Fernando Pimentel, presidente da Abit, é solidário à ideia de postergar liquidações, mas considera que essa decisão vai depender muito da posição de caixa de cada empresa.
Ainda em relação a calendário, o diretor da SPFW diz que o calendário de desfiles está previsto para 16 a 20 de outubro, mas essa data pode ser postergada. “Começamos a conversar com o mercado. Se for necessário, a celebração pode ser carregada para novembro”, afirmou Borges.
Vendas
A Iemi revisou para baixo novamente as projeções para os setores de vestuário e calçados, levando em consideração a ampliação do prazo de quarentena em São Paulo e no Rio de Janeiro e a adoção do “lockdown” (bloqueio total) no Amazonas, Pará, em Fortaleza, São Luís e Salvador. Os dados da consultoria são usados como referência por entidades como a Abit e a Abicalçados.
O Iemi prevê agora para o varejo de vestuário uma queda em volume de vendas de 15,6% em 2020, em relação ao ano passado. Essa retração pode variar de 13,3% a 17,4%, dependendo de como se dará a recuperação do mercado nos próximos meses. Em abril, a previsão feita pela consultoria era de uma queda nas vendas de 9%. Em janeiro, a consultoria previa para o setor um crescimento de vendas de 3,3% sobre as 6,3 bilhões de peças comercializadas no ano passado.
Para o varejo de calçados, que no ano passado movimentou vendas de 839 milhões de pares, o Iemi prevê agora uma queda nas vendas de 15,4% em relação a 2019, podendo oscilar entre 13,4% e 17,5%. A previsão feita em abril era de queda de 8,9%. Em janeiro, a consultoria previa para o setor crescimento de 3,4%.
Marcelo Prado, diretor do Iemi Inteligência de Mercado, disse que a previsão feita em abril levava em conta a perspectiva de afrouxamento da quarentena no fim de abril. No entanto, ao longo das últimas semanas, governos de vários Estados ampliaram o prazo da quarententa ou adotaram medidas mais rígidas.
“Vamos viver boa parte de abril e maio com varejo fechado nos grandes centros de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Nos Estados do Sul o comércio começou a reabrir, mas no Nordeste ainda não. A retomada vai ser diferente em cada Estado. É preciso observar que cada mês que o varejo não vende equivale a uma perda e 7% a 9% nas vendas do ano”, disse Prado, durante evento on-line promovido hoje pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)
Fonte: Valor Econômico