O Brasil é o país do varejo de supermercados — e em diversas regiões, continua a ser o país dos mercadinhos de bairro e das cadeias com força regional. Seis das dez varejistas que mais cresceram no ano passado atuam no comércio de alimentos. No grupo das dez companhias que abriram mais lojas, sete são do segmento. A crise não reduziu o peso desse setor no varejo.
Na lista das dez supermercadistas que lideraram o ritmo de inaugurações em 2018 (em variação sobre 2017) nenhuma rede tem mais do que 40 lojas. É uma sinalização do vigor dos negócios regionais — alguns deles, geridos por famílias — ao fim da recessão econômica, segundo dados do relatório anual “300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro”.
Com 156 páginas, o relatório é uma radiografia do perfil e do desempenho do setor, elaborado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), com apoio da consultoria BTR, da Varese Retail e do centro de estudos do varejo da USP. Na lista das 50 maiores empresas em faturamento por loja, 49 são supermercadistas — grupo liderado pelas redes Andorinha, Bergamini, Higa e Formosa. No ano anterior eram 47.
São redes que as equipes da Varese e da BTR chamam de “potênciais hiperlocais”. Com duas lojas em regiões periféricas de São Paulo, a Bergamini, segunda colocada pelo critério de venda por loja, vende R$ 300 mil por unidade, em média, por ano. O Enxuto Supermercados, com seis pontos no interior de São Paulo, vende R$ 88,5 mil por loja, acima do Carrefour (incluindo a rede Atacadão), com R$ 85 mil.
Em faturamento por funcionário no varejo em geral, na lista das 50 maiores empresas, 30 são supermercados — eram 22 no ranking do ano anterior. Segundo as consultorias, isso reflete a recente expansão do atacarejo no negócio das redes, uma operação com alto volume de vendas e custos baixos.
“Uma característica compartilhada pela maioria dessas redes com alta produtividade é o grande conhecimento dos hábitos de consumo do público de suas regiões. São empresas que criaram um relacionamento tão qualificado com seu cliente que blindaram seu mercado em relação à expansão da concorrência”, diz Alberto Serrentino, sócio e fundador da Varese.
Eduardo Terra, sócio da BTR e CEO da SBVC, ressalta, porém, que o conhecimento dos costumes dos clientes vem deixando de ser um diferencial das redes de pequeno e médio porte, uma vez que os grandes têm investido nos últimos anos em tecnologias que permitem mapear perfis de compra. “Onde o varejo regional ainda é imbatível, entretanto, é no relacionamento ‘olho no olho’”, diz.
As 300 empresas listadas no ranking, somadas, faturaram R$ 648,039 bilhões. Considerando as 182 empresas que divulgaram os números em 2017 e 2018, o avanço atingiu 7,97%. Ficou acima do ano anterior (6,81%), mas abaixo do verificado em 2016 (8,6%). A taxa mais forte de 2016 pode ser efeito da base de comparação, considerando que, em 2015, o setor foi duramente afetado pela crise.
Ao se comparar essas empresas com o desempenho geral do varejo, pelos dados da pesquisa de vendas nominais feita pelo IBGE, o comércio teve uma aceleração mais rápida em 2018. A expansão passou de 2,2% para 4,8%, enquanto pelo ranking, o índice foi de 6,8% para 7,9% (ver tabela).
Como pelo IBGE, o setor em geral acumulava forte desaceleração — superior ao sentido pelas grandes cadeias — havia mais espaço para uma aceleração posterior.
Em 78% das 182 empresas com dados de vendas comparáveis, houve crescimento nominal, e para 64% foi verificada alta acima da inflação — versus 51% um ano antes. Só 21% da amostra registrou queda em vendas em 2018.
“Os números gerais mostraram resiliência do médio e grande varejo à crise de 2015 e 2016, com movimentos de reestruturação dos negócios e, depois, alguma aceleração em 2017. A tendência de recuperação foi se consolidando em 2018”, diz Serrentino. Eduardo Terra lembra que não se pode estender essa realidade para todo o varejo, que enfrentou quebradeiras de diversas empresas e vendas de negócios desde 2015: “É algo que precisamos fazer um corte para não passar uma percepção errada.”
Segundo ele, pelos cálculos da equipe da consultoria, considerando o ritmo atual de expansão do comércio no país, o varejo deve voltar ao patamar de vendas alcançado em 2014, período antes da crise, no fim de 2021.
Terra destaca que no ranking, do 7o ao 15o lugar, apareceram mudanças relevantes. O Boticário e a Lojas Americanas inverteram suas posições em relação à edição anterior — a primeira subiu um degrau para a 7a colocação, e a segunda caiu uma posição.
Renner e Riachuelo passaram para 11a e 12a posições, respectivamente, ultrapassando a Cencosud. A B2W (Submarino, Americanas.com) perdeu quatro posições, caiu do 10 para o 14 lugar (após mudança estratégica profunda em 2017 e 2018), cedendo posição para a Rede Smart, os supermercados do Grupo Martins, que foi da 15a para a 13 colocação.
Fonte: Valor Econômico