Quando a Pague Menos colocou na rua a sua oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês) em junho, havia uma janela de mercado aberta, que a rede vinha buscando há anos. Mas dois meses depois de protocolar o pedido, as operações em andamento no país davam sinais de estar perdendo força. Na primeira entrevista desde que abriu capital, em setembro, o comando da rede de farmácias fala sobre a decisão de manter a oferta e detalha seu plano de expansão, que prevê a inauguração de 500 lojas em cinco anos.
Segundo Mário Queirós, CEO da Pague Menos e filho do fundador, Francisco Deusmar Queirós, foi preciso manter a operação porque “àquela altura, não dava para voltar atrás”, afirma. “É como dizem, é melhor uma empresa [ir para a bolsa] com números não tão bons, mas mercado propício para abertura do que ter números muito bons num mercado ruim”, diz. “Nós vimos que a RD [ Raia Drogasil ] soltou seu balanço do segundo trimestre e alguns números não foram bons, e a Panvel [rede que concluiu oferta em agosto] também sentiu o ambiente, então as ofertas foram se reduzindo. Passamos a reforçar nosso discurso aos investidores de que somos uma rede nacional, com escala, e não regional. E dizíamos que tinhamos parado de piorar, que já vinhamos organizando a ‘casa’ desde 2019. Saímos com o papel abaixo do piso, mas a ação vem vindo num preço acima do valor da estreia”, diz.
Passado o IPO, o foco da rede de farmácias cearense será expansão orgânica em praças onde já lidera, no Norte e Nordeste, e num segundo momento, daqui a dois ou três anos, voltar-se para aberturas no Sudeste – incluindo São Paulo, onde tem 85 de suas 1,1 mil lojas. Do total de R$ 713 milhões em valor líquido da oferta, 63% irão para novas lojas (R$ 450 milhões).
Outros 20% vão para reduzir endividamento e os 17% restantes para tecnologia e serviços. “Num primeiro momento, de 80% a 85% das aberturas serão no Norte e Nordeste, que são regiões onde parte da classe média expandida [C e D], que recebeu o auxílio emergencial, acessa a farmácia como seu único serviço de saúde. Muitos nem têm plano de saúde, e com a atual crise, e a resiliência do modelo de farmácias, essa demanda tende a crescer”, diz José Rafael Vasquez, vice-presidente de operações.
Para especialistas, um eventual reforço de operações no Sudeste ou entrada em novos mercados elevariam o custo de aquisição de cliente da rede. Além disso, ainda pesa nessa decisão a necessidade de a empresa recuperar vendas perdidas para rivais, como a Raia Drogasil, no Norte e Nordeste.
A rede projeta 500 aberturas em cinco anos, de 2021 a 2025 – uma média de 100 lojas ao ano, abaixo do recorde da empresa, que chegou a 170 inaugurações em 2017. Por loja, os investimentos têm ficado em torno de R$ 1 milhão.
“Viemos reduzindo esse número de inaugurações, dentro do plano de reestruturação tocado desde 2019, com redução de despesas e fechamento de pontos, parte deles deficitários. Não devemos voltar agora a esse patamar de 2016 e 2017 porque o momento é outro”, diz o CEO. Outro foco será o braço de serviços, batizado de Clinic Farma, que inclui vacinação, medição de glicemia, pressão etc. Há 805 lojas com esses serviços. Rivais como RD, Drogaria São Paulo e Panvel também estão de olho nesse filão.
“Clientes que utilizam a Clinic Farma gastam em média 2,8 vezes mais que um cliente normal. Ele é um alto gerador de receita e margem, pois o custo de implantação é baixo”, diz Queirós.
Fonte: Valor Econômico