Ainda incipiente no Brasil, o modelo de outlets possui potencial de mercado enorme. O formato, que ganhou mais atenção em função da crise, tem estrutura para dar um salto em número de unidades e receitas, apoiado nos custos inferiores de operação – quando comparado ao shopping tradicional – e maior comodidade ante as lojas de rua.
Exemplo desse movimento, a General Shopping, que já possui quatro outlets no Brasil, planeja dobrar o número em seu portfólio. “Temos mais quatro novas inaugurações que devemos anunciar em breve, e que estão em fase de aprovação legal”, antecipou ao DCI o diretor presidente da General Shopping Brasil, Alexandre Dias. De acordo com ele, os empreendimentos devem ser finalizados até o final de 2018 e devem ser divulgados ao mercado neste primeiro trimestre.
Além das inaugurações, o executivo conta que a empresa planeja expandir o tamanho do Outlet Premium, que fica na capital paulista. “Hoje ele tem 25 mil metros quadrados (m²) de Área Bruta Locável (ABL) e estamos planejando a ampliação. Temos o desenho pronto, mas ainda não há data”, diz, completando que o potencial do empreendimento é de 40 mil m². “O primeiro passo foi a ampliação de 2 mil vagas de estacionamento, que fizemos em novembro deste ano, já com o intuito de crescer em tamanho.”
Outra empresa que tem investido no setor é a Gold Sea, que está à frente do recém-inaugurado Taboão Plaza Outlet (lançado em dezembro de 2016) e que já tem mais dois empreendimentos em construção. “Temos um outlet em Curitiba (PR), que será inaugurado no final de 2017, e outro em Manaus (AM), com lançamento para maio de 2018”, diz o diretor presidente da empresa, Alexandre Caiado.
De acordo com ele, os principais fatores que estimularam o interesse pelo setor foram o amadurecimento grande do ramo, sentido nos últimos anos e que se acelerou com a crise, e a carência de empreendimentos desse modelo no País. “Hoje temos poucos outlets no Brasil. Há um espaço muito grande para crescimento”, afirma.
Potencial
A coordenadora acadêmica da Academia do Varejo, Patricia Cotti, também sinaliza para um potencial imenso de expansão do setor. “No Brasil esse modelo começou só nos anos 2000. No exterior existe há mais de 100 anos. É um formato novo aqui e que tem alta demanda, principalmente com a crise”, cita a especialista. Conforme dados da Agência Brasileira de Outlets (About) existem hoje 12 centros de compra desse modelo no Brasil, enquanto nos EUA e Canadá são cerca de 215 empreendimentos. A empresa, especializada no setor, estima que até 2019 pelo menos mais 10 outlets sejam construídos no País. Em termos de faturamento, a expectativa é de que o setor atinja, já no ano que vem, ganhos de R$ 4,5 bilhões.
Para Dias, da General Shopping, além da crise, que de fato contribuiu para a expansão, há outros aspectos que explicam o bom desempenho. “Tem uma parte da alta que foi pela crise, uma parte pela valorização do dólar, e outra pela própria maturação do setor e do consumidor, que passou a perceber as vantagens do formato”, afirma.
Vantagens
O principal benefício para o cliente é o preço dos produtos, que segundo os dois empresários, precisa ser pelo menos 30% inferior ao valor cobrado em uma loja tradicional. Ambos explicam que a obrigação do desconto mínimo é contratual e que o descumprimento acarreta em multa ao lojista.
Outro fator que fortalece a política agressiva de descontos por parte das empresas é o fato dos custos fixos dos outlets serem menores, ante aos de um shopping center com formato tradicional. “Como eles são centros de compra desenvolvidos a céu aberto, sem ar condicionado central e sem iluminação durante o dia, consigo fazer com que o custo de ocupação seja até 70% mais barato. Isso facilita na hora de repassar o custo para o consumidor”, explica Dias, da General.
Shopping
De acordo com o diretor comercial e de operações da varejista de moda Polo Wear, Josué Varella, da mesma que forma que os custos fixos são menores, as margens da operação também são. “Os custos de ocupação têm que ser pelo menos 50% menores [em comparação com o shopping] porque as margens dos lojistas também são, em média, 50% inferiores.”
A varejista possui hoje 15 lojas outlets de um total de 105 operações. Segundo Varella, todas as varejistas de moda precisam, obrigatoriamente, ter algo em torno de 10% de suas lojas convertidas no modelo. “Isso porque 15% da coleção acaba sobrando, e poder liquidar essas ‘sobras’ em um empreendimento que oferece custos menores e um alto fluxo é uma excelente estratégia”, afirma. Ele conta ainda que hoje cerca de 20% de todo o faturamento da rede veem dos outlets.
Segundo ele, a empresa continuará investindo no modelo, mas mantendo a proporção de 10% das unidades. “Dos empreendimentos que estão em obra já estamos com o contrato assinado ou com as negociações bem avançadas com todos.”
Novo empreendimento
A inauguração mais recente da Polo Wear foi justamente no Taboão Plaza Outlet, onde a varejista instalou uma unidade de cerca de 930 m². De acordo com Varella, a loja é uma das maiores do empreendimento, que possui cerca de 15 mil m² de ABL.
Segundo Caiado, o outlet já tem 45 lojas instaladas, somando taxa de ocupação em cerca de 70%. “No próximo trimestre esperamos estar com uma ocupação muito próxima de 100%”, afirma, ressaltando o alto investimento em negociação de preço para garantir contratos.
Em geral, o contrato que se faz em outlets impõe que o lojista pague ou um aluguel mínimo ou um percentual em cima do faturamento (dependendo de qual for mais alto). No caso do Taboão Plaza Outlet, Caiado explica que eles não colocaram a necessidade de um aluguel mínimo, e que com praticamente todos os lojistas foi feito um contrato de aluguel baseado apenas no faturamento da rede. “A média é de 10% sobre o faturamento, e fizemos isso porque queremos criar esse interesse compartilhado”, ressalta. O executivo acrescenta que o outlet tem o potencial de expandir mais 8 mil m² de ABL e que a perspectiva é realizar essa expansão a medida que a demanda cresça. Em relação ao investimento, ele afirma que ficou em torno de R$ 140 milhões, e que é essa outra vantagem de investir no setor. “A obra de um shopping é no mínimo duas vezes maior que a de um outlet.”