Iniciativa adapta formato de hackathon para a gastronomia
Um dia para criar um prato inovador: a Universidade São Judas, em São Paulo, foi palco nesta sexta (29/11) e sábado (30/11) de um “hackafood”, o primeiro do Brasil segundo seus organizadores. Utilizando o modelo do já conhecido hackathon, um evento em que programadores têm tempo e recursos limitados para resolver problemas, a competição irá trocar os computadores pelas facas de cozinha. O objetivo foi criar novos pratos para a rede Outback Steakhouse, uma das organizadoras do evento.
“Você sai um pouco mais gordo de lá,” brinca Pierre Berenstein, CEO da Bloomin’ Brands no Brasil, empresa a qual o Outback pertence.
A iniciativa é uma parceria da Bloomin’ com a Ânima Educação, que inclui em seu portfólio de instituições a Universidade São Judas e a Le Cordon Bleu, e a Aryzta, panificadora suíça. Trinta alunos e ex-alunos da São Judas formaram equipes para desenvolver ideias de entrada, prato principal e sobremesa para o cardápio do Outback.
No primeiro dia, as equipes participaram de várias etapas de treinamento, incluindo workshops e mentorias de especialistas. No segundo, colocaram em prática o que aprenderam, tendo cinco horas para completar as tarefas. As três melhores equipes tiveram mais duas horas e meia para aperfeiçoar seus trabalhos antes da análise pela banca julgadora.
Para a Ânima, o evento aproxima as instituições de ensino das empresas. “O setor educacional e as companhias no Brasil ficaram distantes por muitas décadas,” diz Marcelo Bueno, CEO da Ânima. “Queremos nos diferenciar com essa aproximação.”
“É fundamental (se aproximar do ensino),” ecoa Berenstein. “Treinamento, desenvolvimento humano e educação fazem parte do nosso DNA. A gente quer estar pertinho do talento.”
Para Cláudio Gekker, presidente e COO da Aryzta na América Latina, esse casamento é bom para todos. “A gente sabe que os jovens são aceleradores de inovação no mercado,” diz.
Traduzir o conceito do hackathon para a culinária foi um passo lógico para a Ânima. Segundo Marcelo Henrik dos Santos, reitor da São Judas, o evento não é diferente de outros parecidos feitos com alunos da universidade nos setores de saúde e engenharia. E o resultado final (o grupo vencedor da “hackafood” receberá R$ 10 mil) é o que menos importa para a instituição.
“Vai muito além de produzir um prato,” afirma Henrik. “É sobre ter visão empreendedora, de custo, da ciência.”
Um dos jurados da competição será Patrick Martin, diretor-técnico da escola culinária Le Cordon Bleu no Brasil, que faz parte do grupo Ânima no país. Para ele, a competição também é mais que um prato.
“Queremos uma mistura,” diz. “Pessoas que usarão os princípios básicos da culinária junto com a criatividade.”
Inovação necessária e ágil
A escolha de um formato de tiro curto como o hackathon reflete o novo comportamento do Outback e da Aryzta em relação às inovações: elas precisam sair do papel o mais rápido possível. Tanto Berenstein (Bloomin’ Brands) quanto Gekker (Aryzta) defendem que, no mundo de hoje, não é possível mais trabalhar ideias por muito tempo, pois as empresas correm o risco de lançar um produto já obsoleto. “Tudo na vida hoje está muito acelerado,” diz Gekker. “É preciso acelerar o processo de inovação.”
Ambos executivos disseram aplicar a metodologia ágil em suas empresas, para resolver problemas de forma rápida. “Quando se tem um time ágil, surgem ideias novas, que nunca haviam sido testadas,” afirma Gekker. Um dos pilares da metodologia é responder a mudanças em vez de seguir planos predeterminados. O ambiente da hackathon é um laboratório para este tipo de metodologia. “O hackathon é uma forma de educação moderna,” afima Bueno (Ânima). “É uma dinâmica na qual os jovens estão cada vez mais engajados.”
Na cozinha também se inova
“Todo mundo liga inovação à tecnologia,” diz Berenstein. Para o CEO da Bloomin’ Brands, é preciso se desvencilhar da noção de que inovação só ocorre ao lado de avanços tecnológicos. Segundo ele, uma empresa precisa saber inovar em todos os seus aspectos.
“Trabalhamos o pensamento digital”. “Não só no alimento, mas na experiência do consumidor.” Ele cita como exemplo as canecas de chope congeladas servidas nos restaurantes do Outback. Foi uma mudança que, além de servir como novidade de consumo nos restaurantes, mudou como o cliente interagia com o local, postando fotos do produto em redes sociais para os amigos verem.
No “hackafood”, o foco será a comida. Martin, da Le Cordon Bleu no Brasil, acredita que uma das necessidades para se inovar na cozinha é entender o que o público quer. “Inovar na comida é difícil hoje”.
Segundo o executivo, o consumidor mais jovem procura hoje um alimento saudável, muitas vezes vegetariano ou vegano. Gekker, da Aryzta, por sua vez, lembra de um recente fenômeno no setor alimentício: a carne plant-based, criada a partir de plantas.
Fonte: Época Negócios