Na contramão da queda nas vendas do setor, a Óticas Carol traça um plano agressivo para superar a marca de mil lojas em 2016
À primeira vista, 2015 não trouxe boas notícias para o mercado brasileiro de óticas. Após registrar crescimento de dois dígitos por quase uma década, o setor movimentou R$ 20,3 bilhões no período. O número representou uma queda de 12% sobre 2014, segundo a Associação Brasileira da Indústria Óptica, que projeta um resultado similar ou abaixo desse desempenho para este ano. Em meio às perspectivas nebulosas, no entanto, há quem consiga enxergar um horizonte favorável. Esse é o caso da Óticas Carol.
Depois de apurar uma receita de R$ 690 milhões ano passado, alta de 17% sobre 2014, a empresa tem um plano agressivo de expansão e projeta um salto de 15% no seu faturamento em 2016. Uma das metas é superar a marca de mil lojas, com a abertura de 150 unidades. Até junho, a empresa inaugurou 60 pontos de venda, entre lojas próprias e franquias, totalizando 920 unidades. “Temos percebido oportunidades únicas nesse momento difícil”, diz Ronaldo Pereira, 43 anos, CEO da Óticas Carol e dono de uma participação de 12% na companhia.
Os 88% restantes estão divididos entre o fundo de private equity britânico 3i e os fundos americanos Sigular Guff e Neuberger Berman. “Estamos conseguindo pontos que há um ano eram proibitivos para uma ótica. Em média, os custos de locação caíram 20% e os de luvas, 50%.” A aquisição de redes regionais e de lojas independentes são algumas das vias dessa expansão. Nessa frente, a Óticas Carol tem um plano de investimentos de R$ 150 milhões, a ser aplicado nesse ano e em 2017.
A empresa já cumpriu R$ 30 milhões desse montante. Boa parte foi destinada à compra da Optical Center, dona de 20 lojas em Belo Horizonte. A estratégia visa as capitais nas quais a companhia ainda tem pouca presença, como Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Manaus. “A ideia é desenvolver essas praças. Em uma segunda fase, decidiremos quais lojas permanecerão como próprias e quais deverão ser repassadas para franqueados”, diz Pereira.
“O setor de óticas ainda é muito fragmentado. As redes não representam nem 10% desse mercado”, afirma Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese. “Para quem está capitalizado, há muito espaço para crescer nessa vertente.” O crescimento via franquias é outra aposta. A Óticas Carol adota um olhar clínico para selecionar novos parceiros. Com um aporte de R$ 300 mil a R$ 500 mil, um dos recortes para ingressar na rede é ter um plano mínimo de três unidades. Segundo Pereira, além do fluxo usual de empreendedores, há um grande volume de pessoas demitidas que receberam suas rescisões procurando a empresa.
“É o ano com mais candidatos na nossa história”, diz. “Mas não é todo mundo que está preparado para operar no varejo.” Para o empresário, dois fatores explicam a resiliência da Óticas Carol. Assim como outras rivais, nos últimos anos, a companhia diversificou o mix com óculos solares. Na crise, no entanto, os óculos de grau têm compensado a queda da categoria, com 75% das vendas da rede. “Ao mesmo tempo, nós fizemos o dever de casa na época em que o mercado crescia exponencialmente”, diz o executivo.
Criado em 2010, em Barueri (SP), o laboratório próprio de lentes é um dos exemplos do que foi feito. Desde 2015, a companhia investiu R$ 20 milhões na modernização e na duplicação de sua capacidade, para 44 mil pares de lentes por mês. Hoje, a unidade, responsável pelas lentes de sete marcas exclusivas da empresa, opera com 60% da capacidade e já há planos de um terceiro turno de produção. “Com o laboratório, conseguimos oferecer alternativas de lentes em todas as categorias por um preço 30% inferior”, diz. “Estamos preparados para qualquer onda negativa”. Se depender do executivo, a Óticas Carol não vai perder o foco.