Desde a semana passada, quando as temperaturas em São Paulo chegaram a ficar abaixo de 5°C, consumidores enchem as lojas da rede Decathlon, de artigos esportivos e de vestuário. As vendas na semana passada e nesta semana estão 300% acima do volume verificado no mesmo período do ano passado, diz Cedric Burel, presidente da Decathlon Brasil.
A demanda aquecida levou a varejista a mudar o abastecimento das lojas, que passou a ter entrega diária de um a dois caminhões de produtos de inverno em cada ponto de venda, como casacos, luvas e outros itens usados geralmente para prática de montanhismo e esqui. Normalmente, a distribuição é semanal. “A companhia não fez ação comercial fora do normal. O que motivou o fluxo muito grande de clientes foi a onda de frio”, afirmou Buruel.
A Decathlon não foi a única varejista a se beneficiar com o outono mais frio que o habitual nas regiões Sudeste e Sul do país. No setor de vestuário, as vendas de coleções de outono e inverno têm apresentado desempenho melhor que as coleções de verão, de acordo com Edmundo Lima, diretor-executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex). A entidade reúne as principais redes de moda do país, como C&A, Forever 21, Renner, Hering, Marisa, Restoque, Riachuelo e Zara.
“As varejistas de moda conseguiram empreender um novo ritmo de vendas a partir de maio, com a chegada do frio”, disse Lima. Ele ponderou, no entanto, que as coleções de inverno representam em torno de 30% do total de itens nas lojas nesse período e a melhora da demanda ainda não compensa a retração registrada pelo setor de vestuário nos últimos meses. “A tendência é que o volume de vendas em maio e junho fique semelhante ao do ano passado”, acrescentou.
A Netshoes informou que suas vendas de produtos de vestuário de inverno estão 50% maiores neste mês em comparação ao mesmo período do ano passado.
A Lupo foi outra empresa de vestuário que apresenta aumento nas vendas desde maio. Carolina Pires, diretora comercial e marketing da Lupo, disse que as vendas nas redes varejistas aumentaram 16% no mês passado em relação a maio de 2015. As encomendas de varejistas para produtos de marcas próprias, por sua vez, cresceu 80% em comparação ao ano passado, com o interesse das empresas em substituir importados. Nas franquias da Lupo as vendas “mesmas lojas” (unidades abertas há mais de 12 meses) aumentaram 8,5% em maio. Em junho, o aumento foi de 27% até o momento. “Nesse último sábado atendemos 82 mil pessoas nas lojas, sendo que 65% fizeram compras. Foi um recorde para o período”, afirmou Carolina.
Em entrevista ao Valor em maio, o presidente da C&A Brasil, Paulo Correa, disse que a coleção de outono-inverno vinha tendo uma resposta “bastante positiva” dos consumidores. As vendas de itens de inverno tropeçaram no veranico que tomou quase todo o mês de abril, mas “no fim daquele mês a tendência mudou e podemos ver alguma recuperação.” Ele acrescentou que o nível de promoções está menor neste ano. Procuradas, Renner, Riachuelo, Marisa e Cia. Hering não quiseram comentar o desempenho de vendas.
Marcelo Prado, diretor da consultoria Iemi Inteligência de Mercado, diz que o frio prolongado tende a exercer um efeito relevante para o segmento. “A expectativa é que as varejistas consigam vender estoques que estavam parados e consigam fazer caixa para a coleção de verão”, disse Prado. O analista ponderou ainda que, mesmo com resultado melhor no segundo semestre, o varejo de vestuário deve fechar o ano com queda de 3% no volume de peças vendidas, aumento nominal de 4,3% em receita e inflação do setor abaixo de 7%.