A crise que atinge o Brasil desde 2015 deixou apenas um segmento incólume em todo o País: o de memes. Nas últimas semanas, as conhecidas piadas compartilhadas nas redes sociais receberam um combustível. A delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores do grupo J&F, dono da JBS, foi alvo de montagens e sátiras, como a criação do personagem Joesley Safadão, em alusão ao cantor de forró eletrônico Wesley Safadão. Ainda menos engraçado para a J&F vem sendo os vídeos e mensagens fazendo campanhas pelo boicote às marcas do grupo, como Friboi, Seara, Vigor e Havaianas.
Trata-se do segundo golpe que a empresa sofre em um curto espaço de tempo. Em março, a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investigou fraudes na produção de companhias como a JBS e a BRF, já tinha atingido a imagem da empresa. A consultoria britânica especializada em consumo Dunnhumby fez uma pesquisa com 530 pessoas, que apontou que 59% dos participantes tinham diminuído a compra de carne bovina. O impacto nas marcas da JBS foi ainda mais forte. Antes da operação, 70% dos respondentes afirmaram consumir produtos da Seara regularmente.
No caso da marca Friboi, o percentual era de 52%. Após a divulgação da Carne Fraca, esses índices caíram para 20% e 1%, respectivamente. “O consumidor atual procura marcas que sejam transparentes e em que possam confiar”, diz José Gomes, diretor-geral da Dunnhumby. Os impactos do novo boicote ainda não podem ser medidos, mas, segundo especialistas, a empresa não pode ignorar o momento de reprovação dos seus clientes – algo que deve ter impacto no próprio varejo.
Fontes afirmam que está sendo negociada uma diminuição das compras de produtos da J&F por grandes varejistas, como o Pão de Açúcar. Por meio de nota, o GPA afirma que “repudia qualquer situação de corrupção e que solicitou esclarecimentos acerca das recentes notícias divulgadas”. Walmart e Carrefour seguiram a mesma linha do discurso adotado pelo rival. A partir de agora, a companhia dos irmãos Batista precisará criar uma estratégia para limpar a sua imagem, assim como outras gigantes vêm tentando.
A montadora alemã Volkswagen, em janeiro, concordou em pagar US$ 4,3 bilhões por conta de fraudes nos testes de emissão de poluentes em milhões de carros no mundo. A varejista espanhola Zara ainda é lembrada por denúncias passadas de trabalho escravo. “O mundo digital tem a capacidade de aumentar o estrago de ações como essas”, diz Roberto Kanter, professor de marketing da FGV-RJ. Procurada, a J&F, por meio de nota, afirma que nenhuma delação envolve “a qualidade dos produtos ou a excelência operacional.”
Fonte: IstoÉ Dinheiro