Por Isabela Rovaroto | A varejista de eletrodomésticos e itens para casa Polishop vai abrir franquias pela primeira vez em sua história. O novo modelo de negócio, com investimento inicial a partir de R$ 250.000, faz parte da estratégia do empresário João Appolinário para salvar o negócio que não vive seu melhor momento.
Nos últimos dois anos, a empresa de 25 anos fechou cerca de 70% de suas lojas, todas em shoppings centers. Hoje a rede conta apenas com 80 unidades. O encerramento das operações acarretou no aumentou das despesas não recorrentes e a companhia terminou 2023 no vermelho.
Para estancar a crise, Appolinário fez um aporte de R$ 50 milhões na Polishop, abrindo espaço no caixa para pagamento de dívidas e negociações com instituições financeiras e fornecedores. “70% das dívidas com bancos já foram quitadas. Em 2024 teremos resultados positivos novamente”, diz o fundador.
Com um pouco mais de fôlego, o empresário está disposto a tirar um plano antigo da gaveta. A primeira franquia da Polishop deve ser inaugurada no final de abril em São Paulo.
“Com as franquias a Polishop deixa de depender dos shoppings, ganha mais capilaridade e oferece uma boa oportunidade de investimento aos franqueados “diz João Appolinário
Os fatores que levaram a Polishop ao prejuízo
A pandemia acertou em cheio o varejo brasileiro e muitas companhias, como Casas Bahia, Marisa e Petz, enfrentaram turbulências. Da moda à linha branca, poucos foram os negócios que passaram imunes à escalada da Selic de 2% para 13%. “Assim como todo o varejo, a Polishop sofreu com a pandemia e o cenário macroeconômico”, diz o executivo.
Além do aumento do endividamento, empresas também tiveram que lidar com as restrições do poder de compra do consumidor, um combo que parece se acalmar só neste início de 2024.
A Polishop também sentiu o peso de ter concentrado todas as suas lojas em shoppings centers. Com a pandemia de covid-19 e o fechamento de shoppings, Appolinário diz que houve pouco espaço para negociação enquanto o custo total de ocupação avançava dois dígitos.
Ele reconhece que, em um primeiro momento, o governo e os shoppings adotaram estratégias para ajudar os varejistas, mas nos últimos dois anos as negociações praticamente não existiram.
“Entre 2019 e 2022, a correção do IGP-M foi acima de 64%, minhas vendas não acompanharam essa alta. A operação em shoppings centers se tornou inviável em alguns casos, por isso fechamos lojas”, explica.
Com a bruta redução do número de lojas, o e-commerce passou a representar 60% das vendas da Polishop.
Conhecida pelos produtos inovadores, como a frigideira e a Airfryer que dispensam o uso de óleo nos preparos, a Polishop sofreu para lançar produtos na pandemia por conta da falta de suprimentos e desenvolvimento de novas tecnologias na China. A empresa conta com um escritório no país para desenvolver produtos inéditos e buscar por fornecedores — o que ajuda ter exclusividade aqui no Brasil.
“Sem lançamentos não tem como impulsionar as vendas, trabalhamos com a oferta de produtos inovadores”, explica.
Como a Polishop quer crescer em 2024
Depois de “arrumar a casa”, Appolinário faz planos para a Polishop voltar a crescer ainda em 2024. O lançamento de novos produtos ganhou ritmo novamente — neste ano já foram 14. Entre as principais apostas dos últimos meses está a Airfryer Vision Max, a primeira com inteligência artificial (IA) do mercado brasileiro.
“Nós nunca esquecemos que o nosso principal objetivo é desenvolver produtos inovadores que proporcionam benefícios reais para o dia a dia das pessoas”, diz o executivo.
A Polishop também vai abrir pela primeira vez lojas de rua, deixando de operar apenas em shoppings centers. De acordo com o executivo, a estratégia só é possível graças ao modelo de franquias. “Com o franchising vamos conseguir abrir lojas de rua, distribuir produtos de forma mais rentável e ganhar capilaridade”, diz.
Entre as empresas em seu portfólio, Appolinário tem atualmente quatro empresas que estão posicionadas no mercado de franquias, entre elas a indústria de tintas Decor Colors, que conta com mais de 450 unidades franqueadas e faturou R$ 300 milhões em 2023.
O investimento inicial da franquia da Polishop será a partir de R$ 250.000, sendo R$ 90.000 de taxa de franquia e R$ 80.000 de capital de giro e estoque. O faturamento médio mensal é estimado em R$ 160 mil, com lucratividade de até 15% e prazo de retorno de 18 meses.
As primeiras cinco lojas serão inauguradas na zona sul da capital paulista. A primeira loja está prevista para o final de abril, mas vai começar com operação própria. “Estamos testando tempo de implementação e reforma de uma loja”, diz.
O projeto será apresentado em primeira mão aos empreendedores que fazem ou já fizeram parte do canal de venda direta da empresa.
A Polishop mira cidades a partir de 100.000 habitantes e que de preferência tenham lojas próprias próximas. “Queremos que as unidades próprias oferecem suporte para os franqueados”, explica o empresário.
O plano da empresa para escalar o projeto de franquias prevê 23 lojas em operação neste ano. Até 2028, a expectativa é superar 300 unidades.
O desafio será o mesmo enfartado por outras varejistas: atrair pessoas para as lojas. Com o e-commerce em alta, ainda há espaço para lojas físicas? Para o empresário a resposta é sim. “As pessoas ainda gostam muito de ir até a loja experimentar os produtos, esse é um dos grandes diferenciais da Polishop”, explica.
Fonte: Exame