Estratégia passa pelo aumento da oferta de serviços aos anunciantes, mas principalmente pela migração para um modelo transacional
Por Pedro Arbex
Desde que surgiu, há mais de 10 anos, a OLX vem crescendo com a estratégia de monetização clássica dos sites de classificados: ganhar dinheiro cobrando pela listagem e para dar mais destaque ao anúncio no site.
Em volume, o negócio deu certo: a OLX teve um GMV de R$ 105 bilhões ano passado e responde por mais de 20% da venda de todos os carros usados no Brasil. A cada minuto, quatro carros são vendidos na plataforma.
Mas a receita ainda é pequena para a quantidade de negócios que a empresa gera: a OLX faturou apenas R$ 683 milhões em 2020, o equivalente a menos de 0,6% do seu GMV.
Onde muitos veem um problema, o CEO Andries Oudshoorn enxerga uma oportunidade.
Andries está executando uma estratégia para aumentar a monetização da OLX — passando pelo aumento da oferta de serviços aos anunciantes, mas principalmente pela migração para um modelo transacional.
No final do ano passado, a empresa lançou o OLX Pay e começou pela primeira vez a permitir que as transações sejam fechadas no próprio site, cobrando uma comissão sobre as vendas de produtos usados.
“Queremos continuar sendo uma plataforma aberta, onde a pessoa pode escolher se quer transacionar fora ou dentro da OLX — mas se for dentro, o usuário vai ter uma série de benefícios,” o CEO disse ao Brazil Journal.
O principal benefício é a segurança: quando o cliente pagar pela OLX, a plataforma vai reter o dinheiro e liberar só depois que o produto for entregue — e se ele estiver nas condições prometidas.
Na parte de serviços adicionais, a OLX está agregando soluções como gestão de CRM, análise de dados, serviços financeiros e vistoria veicular. A tese é fazer um upsell, aumentando a receita por cliente — no caso da OLX, principalmente imobiliárias e grandes revendas de carros.
A nova estratégia vem um ano depois da OLX fechar a compra do Grupo Zap por R$ 2,9 bilhões numa aquisição que adicionou os dois maiores sites de classificados de imóveis do Brasil (o Zap e o VivaReal) ao portfólio da empresa.
Segundo Andries, a compra do Zap foi uma aposta no turnaround de um negócio que praticamente não crescia há anos e operava no prejuízo.
“Começamos a investir muito na experiência do usuário e em agregar valor para as imobiliárias parceiras. Neste ano, o Zap já está crescendo acima de 30% e chegou no breakeven,” disse o CEO, um holândes naturalizado brasileiro. “Acreditamos que podemos aumentar em 10x o valor que pagamos só com esse plano de acelerar o crescimento.”
A maior sinergia está na área comercial: a OLX passou a oferecer às imobiliárias anunciantes um pacote com os três sites da empresa (Zap, VivaReal e OLX Imóveis)
A aposta em imóveis — o maior negócio em receitas da empresa — vem num momento em que o setor passa por uma transformação brutal, com o crescimento de startups como Loft e QuintoAndar.
Andries diz que não vê essas empresas como concorrentes da OLX, já que elas próprias anunciam alguns de seus imóveis na plataforma.
“Além disso, o que o consumidor quer é um lugar onde ele possa entrar e achar vários imóveis, achar todos os imóveis que tem a venda no bairro que ele quer e comparar,” disse ele. “A gente tem mais de 4 milhões de imóveis listados.”
Controlada pelo Prosus (do grupo Naspers) e pela Adevinta, uma empresa de classificados norueguesa, a OLX não tem necessidade de capital. (Para financiar a compra do Zap, por exemplo, ela fez um aumento de capital com seus controladores).
A empresa já opera no breakeven desde 2017 e tem margem EBITDA de cerca de 20%.
Mas olhando adiante, um dos caminhos na mesa é um IPO.
“A empresa já está preparada para isso: temos crescimento, lucro, e um potencial muito grande para crescer por muitos anos,” disse o CEO. “Mas ainda estamos avaliando se é melhor continuar com investimento próprio ou ir para a Bolsa.”
Fonte: Brazil Journal