Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, o segmento de depilação a laser tem ótimas perspectivas, mas faz uma ressalva
Por Moacir Drska
Vendedor nato, David Pinto, 36 anos, gosta de pontuar suas conversas com frases de efeito para convencer seus interlocutores a respeito de um novo plano ou negócio. O hábito se mostrou eficaz em sua trajetória como empreendedor, iniciada em 2010, em parceria com a mulher Rebeca.
Desde então, o casal criou companhias como a Dr. Resolve, rede de franquias de reparos domésticos que chegou a quatro países da América Latina, e o Instituto Construção, de capacitação para a construção civil.
Após vender essas operações em 2016, a aposta da dupla é a Laser Fast. E David já tem na ponta da língua o mantra para resumir a ambição da rede de clínicas de depilação a laser lançada em 2018: rivalizar com a Espaçolaser, pioneira nesse espaço, avaliada em R$ 2 bilhões e a única empresa do setor listada na B3.
“Fizemos muita coisa até aqui sozinhos”, afirma David, em entrevista ao NeoFeed. Ele provoca e completa, bem ao seu estilo. “A Espaçolaser e os demais players que se cuidem. Estamos acelerando e foguete não tem ré.”
À parte do discurso, o plano da Laser Fast para desafiar a Espaçolaser passa pela busca de investidores para a operação e pelos aportes em expansão da sua rede de lojas, em tecnologia e no desenvolvimento de produtos de marca própria.
“Eu entendo que é o momento de atrairmos um sócio estratégico. Não tanto pela necessidade de recursos, porque somos geradores de caixa”, diz David. “A ideia é ter um acionista que nos ajude a estruturar o negócio, a governança, e que já tenha bagagem em expansão e consolidação.”
A Laser Fast já tem conversas em andamento com investidores e que a perspectiva é fechar um acordo nos próximos meses. As negociações envolvem uma participação minoritária “relevante” na operação.
Para despertar o interesse de fundos de private equity, um dos apelos do modelo da Laser Fast é o fato de que sua rede, diferentemente da Espaçolaser, inclui apenas lojas próprias. Com esse formato, a previsão é fechar 2021 com uma receita de R$ 200 milhões e, em 2022, chegar a R$ 300 milhões.
Depois de investir R$ 40 milhões, com recursos próprios, na abertura de 80 lojas nesse ano, chegando a um total de 170 unidades, a empresa planeja investir R$ 100 milhões para superar a marca de 200 clínicas em 2022.
Para o ano que vem, David projeta um Ebitda de R$ 70 milhões. Em três anos, a meta é alcançar uma base de 500 lojas e uma receita de R$ 1 bilhão.
Com maior foco no Norte e Nordeste, a expansão será dividida entre lojas em shoppings e as unidades em galerias e ruas. A escolha pelas localizações é baseada, entre outros recursos, em pesquisas e o plano envolve desde capitais até cidades com 70 mil habitantes.
“Esse é um mercado ainda novo e com potencial gigantesco”, diz David. “Estamos falando de um público-alvo, predominantemente feminino, formado por mais de 78 milhões de pessoas e de uma penetração que, hoje, não chega a 5%.”
Para efeito de comparação, a Espaçolaser tem 634 lojas, entre unidades próprias e franquias, o que inclui 12 pontos da Estudioface, sua marca de serviços de estética facial. Com essa base, além do Brasil, a rede está presente no Chile, na Argentina e na Colômbia.
Sair do Brasil também está nos planos da Laser Fast. David projeta esse passo em um prazo de dois anos, depois de a rede superar 400 lojas no País. O foco inicial será a América Latina e a estratégia poderá incluir aquisições para acelerar a entrada nesses mercados.
Em paralelo, a empresa está desenvolvendo seu projeto de marcas próprias, com previsão de realizar os primeiros lançamentos no primeiro semestre de 2022. “Estamos trabalhando com produtos de estética, como hidratantes, gel calmante e, possivelmente, linhas de maquiagem”, diz David.
Outro foco é a tecnologia, o que inclui um investimento de R$ 10 milhões em sistemas de gestão e de relacionamento, além de projetos para automatizar parte do atendimento nas clínicas, com a digitalização de processos como agendamento e pagamento pelo aplicativo da rede.
A chegada de um sócio e todos esses outros movimentos vão ao encontro de uma estratégia mais ampla da companhia. “Nosso plano é abrir capital em um horizonte, a princípio, de três anos”, afirma David. “E não descartamos tentar um IPO fora do Brasil.”
Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, o segmento de depilação a laser tem ótimas perspectivas, especialmente pelo fato de o País ser um dos principais mercados quando os temas são beleza e estética. Ele faz, porém, uma ressalva.
“Esse mercado é uma categoria emergente do varejo de serviços. Ainda não se sabe o seu tamanho real e a dimensão que ele terá em cinco anos”, diz. “É a história da paleta mexicana. Muitos estão apostando nessa vertente, mas não é possível dizer se haverá espaço para mais de um ou dois nomes.”
Como postulantes a integrar esse clube, além da Espaçolaser e da Laser Fast, Terra destaca nomes como a GiOlaser, rede fundada pela atriz Giovana Antonelli e que hoje tem como principal acionista o grupo Sorridents.
Fonte: Neofeed