Por Sabrina Bezerra
Se com a chegada da pandemia o e-commerce bateu recordes de crescimento, hoje o jogo mudou. Continua no azul, mas não no mesmo ritmo estrondoso que vínhamos acompanhando nos últimos dois anos.
“Isso não significa que se trata de uma desaceleração, e sim o retorno de crescimento igual ao da pré-covid19, em média, 10% ao ano, e não quase 50%”, diz Alexandre Crivellaro, diretor de inteligência de mercado da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).
A análise soa plausível porque durante a pandemia, as pessoas foram impulsionadas a comprar online. Não tinham muitas escolhas, já que por causa das restrições, o comércio físico estava fechado.
Agora, à medida que a flexibilização e o avanço da vacinação acontecem, as pessoas voltam a consumir fisicamente — muitas em lojas instagramáveis. Com isso, o faturamento do varejo físico volta a crescer, o do e-commerce a estabilizar nos mesmos níveis pré-pandêmicos.
Loja conceito da Havanaias, com ambientes instagramáveis (Foto: Divulgação Havaianas)
COMO ESTÁ O E-COMMERCE EM 2022?
Apesar do comércio eletrônico continuar no azul, não há de se negar que passa por uma ressaca, como intitula Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza. “Nos Estados Unidos, por exemplo, vimos o Shopify — gigante do setor — demitindo mais de 10% da sua força de trabalho porque os números não atingiram as expectativas”, afirma durante o Fórum E-commerce 2022. “No Brasil, [o mercado] oscila e é volátil. Parece gráfico de batimento cardíaco”, brinca.
Essa ressaca acontece por que o Shopify e outras “empresas acabaram projetando suas receitas com base no pico da pandemia. Fez uma previsão muito otimista e, como consequência, impactou o caixa e o quadro de funcionários”, completa.
A análise do especialista vai ao encontro do comunicado de Tobi Lütke, CEO do Shopify, em que, de acordo com o Gizmodo, como a empresa explodiu como um dos maiores cases de sucesso da pandemia, aumentando a receita em 57% ano a ano, o negócio olhou para essa tendência.
“Apostamos alto com expectativas de que a parcela de dólares de varejo vinda por meio do e-commerce iria saltar permanentemente em 5 até 10 anos. Não aconteceu.”
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SHOPPING X E-COMMERCE
Os shoppings, por exemplo, que foram um dos mais afetados economicamente com a chegada da covid-19, começam a dar a volta por cima. “Estão crescendo nos Estados Unidos e, em junho deste ano, atingiu uma taxa de ocupação de 94% contra 91% no mesmo período do ano passado. Isso mostra que o varejo físico tem ganhado força”, diz Felipe Giannetti, sócio da StartSe neste episódio do Bom Dia Califórnia.
No Brasil, cresceu 22% no primeiro semestre deste ano em comparação com o ano passado, de acordo com o Índice de Performance do Varejo, organizado pela HiPartners Capital & Work em parceria com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
Já o e-commerce, volta ao patamar de 10% ano a ano, impulsionado por novos compradores e por compras de outras categorias — como alimentos — que ainda não se popularizaram no Brasil”, afirma Crivellaro. “Hoje, a população brasileira compra, em média, quatro vezes ao ano. A expectativa é aumentar”, completa.
A título de comparação, o e-commerce faturou em 2018 faturou R$ 69,9 bilhões (crescimento de 16%); 2019 R$ 90 bilhões (crescimento de 28,74%); 2020 R$ 126 bilhões (crescimento de 40,56%); 2021 R$ 150,8 bilhões (crescimento de 19,27%); para 2022 a expectativa é faturar R$ 165 bilhões, de acordo com dados da ABComm.
Evolução do faturamento e-commerce (Imagem: divulgação ABComm)
QUAIS SÃO AS TENDÊNCIAS DO E-COMMERCE EM 2023?
Para Crivellaro, a tendência no curto e médio prazo é acelerar a automação em toda a cadeia do mercado. “Usar a tecnologia para melhorar a performance dos armazéns, softwares de classificação e atendimento feito por inteligência artificial”, prevê.
Live commerce — produtos apresentados ao vivo — apesar de não ter feito sucesso no Facebook TikTok, promete fazer barulho nos sites e outras redes sociais. “Isso porque, a live streaming mexe com a emoção de quem está assistindo [e, portanto, agiliza o processo de compras]”, afirma Marcelo Zimet, CEO da L´Óreal, durante o Forum E-commerce 2022.
“Além da live commerce, os vídeos curtos ― desdobrados da transmissão ao vivo ― também marcam tendência no varejo online”, diz em entrevista à StartSe Bernardo Dinardi, co-fundador e CEO da Oli, empresa de live commerce, que tem o objetivo de faturar R$ 25 milhões em um ano.
Para o empreendedor, a live commerce também tende a acontecer nas lojas físicas. “Hoje, muitas delas têm estúdios próprios dentro do ambiente.” É o caso desta unidade da Nike, que virou também estúdio de criação.
Outra tendência no mercado de loja virtual, segundo Dinardi, é a realidade aumentada como provador de produtos. “Vai ajudar a reduzir a logística reversa, porque hoje, uma das maiores dificuldades em compras online são as diferentes características ― caimento, modelo, tamanho ― dos produtos.” “A realidade aumentada e a virtual vêm para evoluir a experiência de compra no e-commerce.”
Sobre o metaverso, Crivellaro diz que ainda é cedo para falar. “Acredito que esteja mais consolidado no mercado daqui a quatro anos.”
Já Dinardi acredita que nos próximos 24 meses vamos descobrir quais empresas vão sobressair no novo mercado. “Por ora, estamos em fase de teste, principalmente no setor de game.”
Modelo de provador virtual da Gucci (Foto: divulgação)
+ Essas são algumas inovações que estão acontecendo agora, mas quais serão as próximas tendências que vão impulsionar o crescimento do varejo em 2023? Anualmente, diversos players se encontram no maior evento de varejo do mundo: Retail’s Big Show da NRF. É lá onde ocorrem intensas trocas de experiências e apresentações das próximas inovações que vão mudar o jogo do que é o varejo hoje.
Toda pessoa empreendedora, empresária e liderança que atua nesse setor e quer eliminar o risco de ser deixado para trás precisa estar nesse evento.
Ele irá acontecer em Nova York nos dias 15, 16 e 17 de janeiro de 2023. Os detalhes do evento e a melhor forma de viver uma experiência única imersiva com várias provocações e insights inovadores você encontra neste link.
QUAIS PROFISSÕES DO E-COMMERCE VÃO SUMIR?
Com as novas inovações, é válido esperar um chacoalhão nas profissões do mercado de loja virtual. “Parte da equipe de marketing que hoje faz teste A/B pode ser extinta. Isso porque, cada vez mais, o computador será responsável em entregar as informações necessárias”, afirma Crivellaro. Vendedores e atendentes também estão na lista.
QUAIS PROFISSÕES DO E-COMMERCE VÃO CRESCER?
Já as profissões que devem surgir no médio e longo prazo são “as ligadas à área de social”, diz o diretor de inteligência de mercado da ABComm. Como analista de redes sociais, criadores de sites, influenciadores, profissionais de tecnologia focados em marketplace”, completa.
“Profissional influenciador e especialista em live commerce será uma das profissões demandadas no mercado”, conta Dinardi, CEO da Oli. “Trabalhadores de áreas estratégicas ― em toda a cadeia do e-commerce ― também devem crescer”, completa.
Quando o assunto é futuro, as áreas ligadas à Web 3.0 que prometem surgir são: estilista de moda digital, designer digital, diretor de eventos e influenciador avatar.
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