O estudo traça um perfil apurado do bolso e da cabeça dos 25% mais ricos da população brasileira, que movimentam R$ 2,2 trilhões
Uma pessoa rica jamais andaria de ônibus. A riqueza com certeza vem de família. Esqueça esses e muitos outros rótulos atribuídos à elite brasileira. Pesquisa do Instituto Locomotiva, recém-criado por Renato Meirelles, ex-presidente do Data Popular e um dos maiores especialistas em consumo, do País e Carlos Alberto Júlio, ex-presidente da HSM e da Tecnisa, aponta que “o bolso do consumidor já não explica mais a cabeça do brasileiro”.
Em seu primeiro estudo, o Instituto Locomotiva traça um perfil apurado do bolso e da cabeça dos 25% mais ricos da população brasileira, que movimentam R$ 2,2 trilhões e são responsáveis por representar o maior mercado consumidor do País em volume de dinheiro. Entretanto, o capital financeiro não necessariamente dialoga com o capital cultural e o estudo revela que 2/3 dos 25% mais ricos não possuem ensino superior, 27% cursaram até o ensino fundamental, 60% já compraram fiado e 37% usaram o cartão de crédito emprestado de outra pessoa.
Os hábitos e comportamentos dessa parcela da elite brasileira também sofreram mudanças ao longo dos últimos anos. Segundo a pesquisa, 63% da camada mais rica da população afirmou ter andado de transporte público no último mês e 48% nunca andou de avião. “A elite brasileira de hoje é mais heterogênea, rompendo assim velhos conceitos de classificação econômica que não se aplicam mais. Milhares de brasileiros ascenderam economicamente nos últimos anos, mas são pessoas que, embora tenham grande poder aquisitivo, ainda têm cabeça de classes C e D. A renda não acompanha o repertório” explica Meirelles.
“Bolso sozinho não explica a cabeça”
Nos últimos dez anos o Brasil passou por uma das maiores mudanças socioeconômicas da sua história. O consumidor amadureceu e se transformou. Mais de 10 milhões de mulheres entraram no mercado de trabalho, 53 milhões de pessoas passaram a ter acesso à Internet, 50 milhões de contas bancárias foram abertas e o País ganhou 10 milhões de universitários.
A consequência dessa transformação é que 50,3% dos brasileiros que fazem parte da camada mais rica pertencem à primeira geração de pessoas com dinheiro da família, sendo impulsionados pelo empreendedorismo. “A nova elite econômica está pulverizada. Temos hoje no Brasil milhões de pessoas que ascenderam economicamente, mas que continuam pensando como se ainda pertencessem às classes econômicas mais baixas. São pessoas com bolso de classe alta, mas com cabeça de classe C/D. Hoje, bolso sozinho não explica a cabeça”, comenta Meirelles.
“Quando se olha só para a renda das pessoas, agrupamos, por exemplo, na classe A médicos e donos de bar, e, na classe C, professores do ensino médio e profissionais da construção civil. Brasileiros com cotidiano, hábitos, escolaridade e estilo de vida completamente diferentes. Em pleno século XXI fica claro que a classificação de renda não explica mais o comportamento de consumo”, enfatiza.
Ele está animado com as perspectivas à frente do novo instituto e com as descobertas que virão. Mais do que analisar as mudanças no comportamento de consumo da população brasileira, o Instituto Locomotiva quer mostrar, por meio de dados, histórias e pessoas, que em um mundo que se transforma cada vez mais rápido, verdades absolutas são destruídas a qualquer momento.
Meirelles tem uma jornada respeitada nessa área. Foi fundador e presidente do Data Favela e do Data Popular, onde conduziu diversos estudos sobre o comportamento do consumidor emergente brasileiro. Em 2012, fez parte da comissão que estudou a Nova Classe Média Brasileira, na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.