A tecnologia veio para ficar no varejo físico e está presente em todas as áreas da empresa, trazendo dados que antes eram restritos ao mundo online —como estatísticas sobre hábitos e comportamentos do consumidor— e transformando a própria atuação dos negócios.
É o caso da FX Retail Analytics, empresa que oferece uma solução para o varejo que monitora o fluxo de pessoas que transitam dentro e fora dos estabelecimentos comerciais.
Por meio de câmeras e de sensores que captam se o sinal de wi-fi dos clientes está ativo, a FX é capaz de determinar quantas pessoas passam na frente da loja e, dessas, quantas de fato entram.
No interior da loja, a tecnologia permite traçar mapas de calor, mostrando quais regiões têm mais movimento, os horários de maior fluxo, e ver quantas pessoas fizeram uma compra em relação ao total dos que entraram.
“O varejista físico tem que se digitalizar, senão vai morrer”, afirma Walter Sabini Junior, sócio-fundador da FX.
Um dos clientes da FX é a Preçolândia, rede de utilidades e utensílios domésticos com 30 lojas no estado de São Paulo. Michel Zakka, 46, diretor comercial da Preçolândia, conta que a empresa implantou o sistema da FX há quase dois anos para que pudesse contar quantas pessoas saíam das lojas sem efetuar uma compra.
Com a ferramenta, tiveram acesso a outra informação importante: os horários de maior fluxo da loja. “Com isso conseguimos preparar as lojas corretamente e usar melhor nossos recursos”, afirma Zakka. A solução custa a partir de R$ 99 por mês por loja. “A ferramenta se paga desde que você realmente use os dados para melhorar a operação”, diz Zakka.
Assim, o grande desafio diz menos respeito à tecnologia em si do que ao uso que se faz dela, segundo especialistas consultados pela Folha.
Cláudio Felisoni Ângelo, coordenador do Provar (Programa de Administração de Varejo), da FIA (Fundação Instituto de Administração), destaca que a captura dos dados avançou em ritmo mais acelerado do que a capacidade de análise. “Tem que haver um equilíbrio entre essas tecnologias e investimento em capital humano”, avalia.
Maurício Morgado, professor e coordenador do FGVcev (Centro de Excelência em Varejo da FGV), concorda. Morgado destaca que a tecnologia pode ajudar tanto a treinar a força de venda quanto servir de apoio ao cliente. “O vendedor e até mesmo o cliente podem ter acesso a informações mais detalhadas do produto na própria loja, por meio de um tablet, por exemplo”, explica.
Para os clientes, o pagamento com smartphones promete ser uma tendência. Levantamento da consultoria PwC com consumidores de todo o mundo revela que 50% dos que responderam a pesquisa usam smartphones para fazer pagamentos, seja na própria loja ou encomendando antecipadamente por meio dos aplicativos das lojas ou de uma plataforma de pagamentos.
No Brasil, o pagamento por celular direto na loja, substituindo o cartão, ainda dá seus primeiros passos, mas tende a crescer, segundo a PwC.
Outro aspecto, mais gerencial, é conseguir fazer com que as informações pertinentes cheguem a todas as áreas da empresa e que elas sejam usadas para a elaboração de melhorias. Além disso, é preciso que a matriz consiga ter acesso online e em tempo real aos dados de atendimento e estoque.
Nesse sentido, a gestão do estoque é um dos principais desafios para o varejo, independentemente da tecnologia que se use.
Thiago Carvalho, assessor da FecomercioSP, lembra que, para auxiliar nessa questão, já existem tecnologias avançadas, como a RFID, que é uma etiqueta de identificação por radiofrequência e substitui o código de barras.
“Com essa tecnologia é possível fazer a contagem do pedido em poucos segundos. Em vez de fechar a loja para balanço por alguns dias, é possível ter as informações em tempo real. Há um ganho de escala e a tendência é que isso se dissemine no varejo. O cliente pode colocar as compras no carrinho e, quando passar no caixa, a solução já identifica tudo o que está dentro”, afirma Carvalho.
Fonte: Folha de S. Paulo