Após uma emissão de debêntures de R$ 153 milhões no fim de 2017 que levou a um reforço no caixa, a rede de farmácias Nissei, oitava maior do país, vai usar parte dos recursos para acelerar o plano de expansão entre 2018 e 2021.
Com a captação, a rede paranaense deve quitar empréstimos de cerca de R$ 100 milhões com bancos e o restante dos recursos será usado para concluir reformas de lojas e abrir 40 pontos neste ano. Desde janeiro, foram inauguradas 26 unidades nos Estados do Paraná e São Paulo.
Outras 80 inaugurações estão planejadas para o intervalo de 2019 a 2021 nestes dois Estados e em Santa Catarina.
A companhia tem 262 lojas e fechou 2017 com receita líquida de R$ 1,23 bilhão, 9,6% acima do apurado um ano antes, segundo demonstração de resultados anual publicada em abril. A varejista lucrou R$ 13 milhões no ano passado, versus ganho bem menor em 2016, de R$ 915 mil, um período de baixa expansão nas vendas na rede.
Se esse projeto de crescimento orgânico avançar até 2021, em quatro anos a cadeia terá ampliado em quase 50% a sua atual base de lojas, o que exigirá um maior desembolso de caixa num prazo curto de tempo.
Sobre essa questão, o comando da rede diz que o atual planejamento não passa por aumento na alavancagem para financiar a expansão.
“Estamos pagando dívidas mais caras com os bancos por meio da emissão das debêntures, feita em duas séries. Mas não há um planejamento de nova captação a curto prazo. Por isso, para o plano de aberturas de 2019 a 2021, as inaugurações devem ocorrer com geração de caixa”, disse o diretor executivo Alexandre Maeoka, membro da família controladora Maeoka.
Ao fim de 2017, a empresa somava um saldo de caixa de pouco mais de R$ 100 milhões, segundo o balanço do ano — em 2016, o valor era um décimo deste.
Já em empréstimos e financiamentos eram quase R$ 98 milhões no ano passado, com Banco Safra, Banco do Brasil, Santander e Itaú. Um volume alto, cerca de 85%, vence neste ano e em 2019, levando a empresa a buscar a emissão para o pagamento.
No plano de aberturas, Maeoka diz que as novas unidades devem ser todas abertas nos três Estados onde a empresa já está, mas há um plano de inauguração da primeira unidade na capital paulista até 2021. A gaúcha Panvel fez esse movimento, com entrada na capital, em 2016.
“Faremos nosso primeiro teste na cidade de São Paulo, mas não foi feito ainda um planejamento mais bem estruturado para a capital. Nós entendemos que para se expandir para São Paulo, é preciso fazer uma abertura em bloco, em um grande volume de lojas para a marca ter um maior impacto na região. E ainda não estamos prontos para fazer isso”, diz ele.
Concorrentes da Nissei têm feito o movimento contrário, entrando com força maior no mercado do Sul. A líder Raia Drogasil (RD), dez vezes maior que a Nissei, aumentou a sua participação de mercado na região de 5,9% para 6,5% entre março de 2017 e de 2018, segundo a RD.
“As grandes [cadeias] abriram 15 a 20 lojas no nosso mercado no ano passado. Tivemos que tomar algumas medidas com ação em preço para conter a concorrência. Mas se eu tentar só baixar preço sem ganhar em volume eu corro o risco de perder margem, então nós temos nossos limites nisso”, diz ele. Em 2016, a receita líquida da Nissei cresceu apenas 2%, bem abaixo do mercado, e no ano anterior a venda não cresceu. A empresa teria perdido mercado para grandes cadeias, como Panvel, Drogasil e Pacheco.
Em 2018, como reflexo em parte das inaugurações, a empresa projeta uma expansão na receita de 10%. A previsão inicial era 12%, mas foi revista. “O mercado de farmácias se desacelerou, em parte, pelo menor reajuste de medicamentos neste ano e por uma queda no consumo, especialmente de itens não medicamentos. As marcas premium mais caras perderam ‘share’ e isso afeta a receita”, diz ele.
A Nissei foi fundada em 1986 por Sérgio Maeoka, pai de Alexandre e filho de agricultores. Ele começou entregando remédios em Curitiba, aos 14 anos, cidade onde abriu a primeira loja de 40 metros quadrados. Por um período, sustentou a farmácia, que dava prejuízo, com o dinheiro que conseguia na pastelaria da família. Sergio Maeoka tem 98% do capital da Nissei.
Fonte: Valor Econômico