Acon e ligas americanas fecham compra de maior fatia na empresa de produtos de moda e itens esportivos
Por Adriana Mattos
A gestora americana Acon Investments fechou na semana passada um acordo para aumento de participação na New Era Cap, empresa de produtos de moda e itens esportivos, e vendas anuais estimadas entre US$ 900 milhões e US$ 1 bilhão.
O acordo foi fechado por meio do fundo Acon Strategic Partners II, L.P., com a captação de US$ 700 milhões (R$ 3,65 bilhões) exclusivamente para a compra de fatia maior da empresa. Como parte da transação, as três maiores ligas esportivas do mundo, a NFL (National Football League), a MLB (Major League Baseball) e a NBA (National Basketball Association) também se tornaram acionistas do grupo.
A empresa não informa a participação vendida, e o tamanho da diluição da família Koch, controladores do negócio, mas informa que os fundos e o grupo de ligas esportivas se mantêm minoritários. A New Era Cap já é a parceira oficial de bonés licenciados das três ligas.
Dentro do veículo de investimento criado, ainda estão outros fundos como Apollo, GCM Grosvenor, Hamilton Lane e Neuberger Berman. Chris Koch, acionista majoritário e CEO da quarta geração da família fundadora, segue no comando da companhia.
No mundo, a empresa sentiu o baque da pandemia em 2020, precisou reduzir produção e acessou linhas do programa de apoio do governo americano às empresas. Foi nesse período que começou a negociar um primeiro aporte com a Acon, fechado no fim de 2020. Segundo o site Buffalo News, da cidade sede da New Era Cap, a Acon ficou com entre 15% a 20% da empresa na primeira tranche. Depois disso, as conversas continuaram, para a transação concluída na quarta-feira passada.1 de 1 Bonés da MLB, a liga americana de beisebol, produzidos pela New Era — Foto: Divulgação
Bonés da MLB, a liga americana de beisebol, produzidos pela New Era — Foto: Divulgação
No Brasil, a New Era tem 105 lojas, além da operação on-line, e vende em 1.750 lojas multimarcas e outlets, sendo que os bonés são cerca de 55% a 60% das vendas (há produtos a partir de R$ 80, e parcelamento em até seis vezes). A projeção é chegar a até 125 unidades própria da rede neste ano no país, com expansão na receita projetada de cerca de 35% em 2022, versus alta de 50% em 2021.
A empresa não revela valor do faturamento anual, e diz que o Brasil está entre os cinco maiores mercados no mundo. Sobre resultado final, diz que opera com lucro no país, sem relatar o montante.
Por aqui, além dos planos de novas aberturas, a entrada dos recursos deve acelerar a expansão da linha de produtos à venda e de dar novo ritmo aos projetos de expansão no online. Apesar da força da New Era principalmente nos EUA – mercado onde a moda esportiva como estilo de vida se confunde com a força da indústria de eventos – em outras partes do mundo a empresa ainda busca ampliar a força da marca e o portfólio. Em parte, isso depende da exploração de outras marcas de times no portfólio e da disseminação mais rápida dos esportes das ligas em novos mercados, algo que no Brasil ganhou impulso maior na última década.
Atualmente, além dos bonés, ela comercializa no mundo camisetas, jaquetas, agasalhos, shorts e acessórios de marcas dos times das ligas. No Brasil, tem contrato que permite venda de bonés de times brasileiros de futebol , como São Paulo, Santos, Internacional e Grêmio, e das séries de “streaming”.
“As linhas da New Era têm uma venda oriunda da experiência nas lojas, e isso depende de uma massa maior de pontos pelo país e de uma estrutura de omnichannel montada [diferentes canais de venda conectados]. O plano é aumentar aberturas de franquias em capitais e em cidades com mais de 300 mil habitantes. Nas cidades menores, faz mais sentido expandir com lojas multimarcas”, disse Artur Regen, principal executivo do grupo no país.
“Ainda estamos também resolvendo questões da multicanalidade, como a compra on-line e retirada na loja, ou seja a integração dos canais. Porque operamos com franquias e há questões de estrutura fiscal a a tratar, mas é algo para avançarmos neste ano”, disse ele. A empresa tem sede no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, empregando 125 pessoas. Há oito acordos com indústrias de vestuário locais, parceiros da empresa, que produzem 30% do portfólio à venda, e 100% dos bonés são importados, com efeito da alta do dólar sobre essa produção.
Em nota oficial, a empresa informa que ainda está no radar, após o novo aporte, a análise de aquisições na América do Norte e em outras regiões, para reforçar a estrutura de produção e o portfólio.
Apesar do cenário de demanda ainda retomando na área de vestuário no Brasil, a empresa entende que o crescimento projetado no ano reflete a oferta de linhas mais “democráticas” . Antes dessa alta mais acelerada do câmbio, após 2021, eram vendidos produtos a partir de R$ 49, e hoje há bonés oficiais da liga de futebol americano a partir de três parcelas de R$ 40. As vendas subiram 66% de janeiro a junho, frente a uma base de comparação mais fraca de 2021.
“Fechamos lojas temporariamente no começo de 2021 com a segunda onda da covid, então há esse efeito do ano passado. No segundo semestre, já operávamos normalmente, então a base é mais forte, por isso a estimativa de fechar o ano na faixa de 35% de alta”, afirmou Regen.
A New Era Cap foi fundada por Ehrhardt Koch, avô do atual CEO Chris Koch, em 1920, em Buffalo (NY), e tem venda anual de cerca de 200 milhões de itens ao ano e atuação em 120 países. Especialistas em mercado esportivo nos EUA estimam que empresa fature de US$ 900 milhões a US$ 1 bilhão ao ano.
Fonte: Valor Econômico