Por Rebeca Ribeiro | Lojas móveis, montadas dentro de veículos, são comuns no segmento de fast food. Mas hoje esse modelo de negócio pode ser encontrado em outros segmentos, como o de vestuário, petshop e até no ramo da beleza.
Os negócios sobre rodas ganharam impulso na pandemia de covid-19. Com as restrições à circulação de pessoas, os empresários precisaram arrumar uma forma de ir até os clientes. Três anos após o fim da emergência sanitária, muitos continuaram a investir no modelo.
No caso de Felipe Gentil, a ideia de um negócio móvel veio antes mesmo da pandemia, em 2018, quando inaugurou o Via4Patas, serviço de banho e tosa móvel para pet.
Segundo ele, o deslocamento dos animais para um petshop tradicional pode causar estresse nos pets, situação que se agrava pelo fato de terem de compartilhar o ambiente com outros animais. Com o petshop móvel, o atendimento é individualizado e feito em frente à casa do dono do bichinho.
“Hoje em dia as pessoas buscam comodidade e segurança. Passamos por um período difícil durante a pandemia, em que não podíamos ir aos restaurantes, mas os restaurantes vinham até nós. Essa comodidade ficou enraizada nos consumidores.” afirma Gentil.
Para os donos dos pets, ainda há a vantagem da comodidade. O serviço móvel permite que seus animais de estimação sejam atendidos enquanto eles estão trabalhando, no caso daqueles fazem home office.
Gentil conta que no início foi difícil conquistar a clientela, porque muitas pessoas nunca tinham visto um petshop móvel. Porém, ao começar a divulgar seus serviços nas redes sociais e espalhar panfletos pelos bairros, ele começou a chamar atenção dos consumidores, que se tornaram seus clientes fiéis.
O empresário possui parcerias com condomínios. Ele paga uma taxa para ter disponível uma vaga de estacionamento específica para realizar o atendimento, com a vantagem de poder usar a energia e descartar a água do banho diretamente no bueiro do local.
SALÃO SOBRE RODAS
A cabeleireira Andreia Santos precisou se reinventar na pandemia. Com os salões fechados e a alta demanda por serviços a domicílio, ela percebeu que a única maneira de oferecer o mesmo atendimento de qualidade prestado em seu salão seria levar, literalmente, o salão até a clientela. Então surgiu a ideia de montar seu espaço de beleza dentro de um motorhome.
“Eu não queria que o motorhome se parecesse com uma casa, mas sim com um salão de beleza,” afirma Andreia.
Com um investimento de R$ 300 mil, a empreendedora conseguiu adaptar o veículo com a ajuda de uma empresa especializada, colocando lavatório, cadeira para realizar os procedimentos estéticos, sofá para descanso e espelho, deixando o ambiente atrativo para os consumidores.
E o negócio móvel de Andreia segue operando após a pandemia. Com o Divan Beauty Truck, nome do salão sobre rodas, a empreendedora diz que conseguiu flexibilizar sua rotina. “Quando eu tinha meu salão físico, ficava muito presa ao negócio. Com o salão móvel, posso realizar os atendimentos quando eu quiser”, afirma.
A cabeleireira comenta que suas clientes se adaptaram facilmente ao novo modelo de atendimento. Muitas dessas clientes são de condomínios próximos à residência da empreendedora, e por ser um negócio de bairro, seu salão móvel se tornou muito conhecido entre os moradores da região.
BOUTIQUE MÓVEL
Fenômeno na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), a Boutique sobre Rodas é um verdadeiro sucesso entre as clientes da empreendedora Tatiana Lopes. Com um investimento de quase R$ 100 mil, ela conseguiu transformar uma van tradicional em um veículo que possui provador, espelho, ar condicionado e araras, com uma variedade de roupas, sapatos e acessórios.
Todos os atendimentos são realizados com agendamento prévio, e Tatiana permanece no local por no mínimo uma hora e meia, deixando as clientes à vontade para experimentar seus produtos. “É um atendimento diferenciado, já que a loja vai até a pessoa. As clientes vão com outro espírito por não serem tratadas apenas como mais uma cliente. Elas se sentem seguras e confortáveis”, diz Tatiana.
Com um faturamento mensal que varia de R$ 30 mil a R$ 40 mil, a empreendedora conta que suas clientes se adaptaram facilmente ao modelo de negócio. O estoque, no entanto, ainda é uma dificuldade, pois o tamanho do veículo não permite pedidos em grandes quantidades.
O grande segredo das redes móveis é unir a proximidade com a mobilidade, atendendo a eventos esporádicos ou levando essa operação para locais com maior fluxo de consumidores, seguindo o período do mês, os dias da semana e até mesmo o horário mais conveniente.
REGULARIZAÇÃO
Uma dúvida frequente entre os empreendedores que desejam abrir um serviço móvel é a questão da regularização do negócio. “Não é só estacionar o veículo e sair atendendo”, diz Sandra Fiorentini, consultora de negócios do Sebrae-SP.
De acordo com o Conselho de Política Urbana (CPU) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o empreendedor interessado em operar um negócio móvel na cidade de São Paulo necessita solicitar a permissão do uso do espaço público para comércio e prestação de serviços. Nesse caso, o pedido é feito via Portaria de Autorização para Comércio Porta a Porta, obtido por meio do sistema Tô Legal, da Prefeitura de São Paulo.
Ao solicitar o documento, é necessário informar o veículo, a subprefeitura da região na qual o veículo irá realizar o atendimento, data e horário em que o veículo estará no local. De acordo com as informações disponíveis no site Tô Legal, o veículo tem permissão de permanecer no local durante todo o atendimento, desde que não haja outra pessoa com permissão ou autorização para uso do mesmo espaço público.
Além disso, é necessário que o empreendedor confira se a atividade que deseja exercer está dentro da lista de atividades permitidas. Caso não conste, o interessado deverá solicitar sua inclusão via processo administrativo, e uma equipe técnica irá analisar a viabilidade desta atividade, esclarece o CPU.
Todo o processo de abertura da rede móvel é igual ao de uma loja física, esclarece Sandra, do Sebrae. É preciso que o empreendedor se registre como MEI ou outra categoria compatível com seu faturamento, realize um plano de negócio para saber quanto se deve investir no novo negócio, tenha capital de giro suficiente para quatro a seis meses.
Além disso, segundo Sandra, é preciso estar atento às regras de vigilância sanitária, realizando o descarte correto dos produtos, e às questões tributárias, lembrando que por ser um negócio realizado em um veículo, é necessário pagar IPVA, licenciamento, entre outros.
Fonte: Diário do Comércio