Um novo modelo de negócio em saúde vem atraindo as atenções das classes C, D e E. Com preços mais vantajosos e uma gama de especialistas, as clínicas populares se tornaram uma opção para quem se cansou de receber os “nãos” no Sistema Único de Saúde. Em Belo Horizonte, as consultas variam entre R$ 70 e R$ 90, dependendo da especialidade. Em um consultório particular, não sairiam por menos de R$ 250. Desde que ficou desempregado, é o preço que tem definido a escolha de atendimento do técnico em eletrônica Luis Balbino, para os check-ups com um cardiologista:
“Posto de saúde é uma fila, doença não tem hora. Não posso pedir para a minha doença para agendar comigo o horário que ela vem me pegar.”
A receita para o sucesso dessas clínicas leva em conta médicos com custo mais baixo, pagamento mais rápido a esses profissionais do que nos planos de saúde tradicionais e atendimento mais humanizado ao paciente. Para a coordenadora do curso de Gestão em Clínica do Centro Universitário UNA, mestre em educação e especialista em gestão de saúde, Tiziane Madureira, as clínicas conseguiram enxergar uma oportunidade a partir das demandas da população que mais sente o peso do custo de uma consulta:
“Existe um nicho muito carente em relação ao acesso aos especialistas. Desejo marcar uma consulta, por exemplo, com um mastologista. Infelizmente, no SUS, em algumas cidades, a consulta pode demorar até dois anos”.
As clínicas populares funcionam como franquias. Segundo a Associação Brasileira de Franchising, esse modelo registrou alta de 17% no faturamento no primeiro trimestre desse ano. Os consultórios são mais simples, mas têm infraestrutura de atendimento, muitas vezes bancada pelo médico, que recebe uma fatia maior da consulta quando cede os equipamentos. Nesse modelo, eles recebem na hora. Bem diferente dos 45 dias, em média, do pagamento por planos de saúde. Eles também não têm custos administrativos com o espaço onde trabalham. Segundo a Federação Brasileira de Hospitais, as clínicas aproveitam o excesso de demanda nas instituições de saúde. Mas o presidente da entidade, Luiz Aramicy Pinto, diz que ainda é necessário delimitar o modo de atuação dessas clínicas:
“É uma coisa que tem que se debater com mais frequência e abrir mais o conceito desse debate, porque isso é um emaranhado que está se formando e ele pode ficar grande demais e não ter como se resolver essa questão”.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) já está de olho e adequando às normas já existentes à esse novo modelo de atendimento, conforme detalha o presidente da entidade em Minas Gerais, Fábio Castro:
“Por ser um novo tipo de prestação de atendimento, é necessário que seja analisado e que normas específicas sejam traçadas para poder fazer esse acompanhamento. Apesar de já termos normas muito claras com relação à qualquer tipo de atividade médico profissional.”
A entidade em Minas não registrou nenhuma denúncia relacionada às clínicas populares. Para funcionar, elas precisam ser registradas no Conselho de Medicina, apresentar um responsável técnico e, também, normas bem estabelecidas de atendimento. Quem opta por esse tipo de serviço precisa observar a estrutura física do estabelecimento, assim como a formação dos profissionais que trabalham nele. Todos precisam ter registro no CRM.
Fonte: CBN