José Isaac Peres afirma que a quantidade de shoppings de uma empresa não é fator de atração para o “bom varejista”, mas sim o “local onde as pessoas comprem muito”
Por Cristian Favaro
José Isaac Peres, diretor presidente da Multiplan, administradora de shoppings centers, destacou que o negócio em andamento entre a Aliansce e BR Malls não é um fator de preocupação para o grupo. O questionamento foi feito por analistas durante teleconferência de resultados, nesta sexta-feira (29). Eles questionaram se a Multiplan acreditava que poderia perder poder de negociação com o varejo diante do tamanho do grupo a ser formado, com cerca de 70 shoppings.
“Não é fator de preocupação. Nossa preocupação é rentabilizar a companhia cada vez mais. E quantidade de shoppings não atrai o bom varejista. O bom varejista quer ponto, tráfego, quer local onde as pessoas comprem muito. O varejista que vem para o Brasil sabe que tem de falar conosco, assim como tem de falar com o Iguatemi. Vamos continuar crescendo. Nossos shoppings vão se expandir”, explicou o executivo.
A resposta de Peres veio dentro do contexto do forte movimento de consolidação vivido pelo setor. A Aliansce Sonae e a BR Malls anunciaram nesta sexta-feira que assinaram o acordo para combinação de negócios que vem sendo discutido desde janeiro. O conselho de administração da BR Malls aprovou, por maioria, a proposta final enviada pela Aliansce.
Nos termos da operação, a Aliansce vai incorporar todas as ações da BR Malls, com a entrega aos acionistas da companhia de 326.339.911 ações ordinárias, equivalente a 0,39 por ação, 55,13% da nova companhia. Além disso, vão receber uma parcela em dinheiro de R$ 1,25 bilhão, o que representa R$ 1,50 por ação.
Fusões e aquisições
Peres defendeu ainda que a empresa tem uma postura mais conservadora no mercado no tema fusões e aquisições.
“A companhia examinou essa possibilidades [de fusões e aquisições]. Sempre estive conosco. Mas nossa decisão é a seguinte: a companhia tem no momento 20 shoppings muito bons. A gente prima muito pela qualidade. Essencialmente qualidade. Às vezes certas aquisições envolvem muitos shoppings que não performam bem. Quando temos de cuidar de problemas, a gente deixa de tratar de qualidade. Nossa posição é conservadora”, disse o executivo.
Ele destacou que a companhia vai continuar desenvolvendo projetos e expandindo os negócios.
“Importante é ter qualidade [não quantidade]. A gente não perde quando tem qualidade. Quantidade nem sempre representa ganho. Nossa opção é fazer projetos e estar associados, se assim for, a empresas com shoppings parecidos com os nossos”, disse.
Vacância
O executivo destacou que a média de vacância dos empreendimentos da Multiplan hoje está na casa de 5%. Segundo o executivo, o dado é positivo uma vez que no pico da pandemia o número chegou a 10%. No pré-crise, o indicador ronda os 2% e 3%.
“Nós de certa forma colhemos frutos de renúncia que fizemos para os lojistas de R$ 1,3 bilhão, que deixamos de faturar considerando que os lojistas são nossos parceiros. Fizemos o possível para preservá-los. Acho que fomos a única empresa do país que teve renúncia desta ordem”, disse.
Segundo os executivos da empresa, não há uma meta de reduzir essa vacância. A prioridade seria alugar bem e não buscar um crescimento da ocupação a qualquer custo.
Peres destacou que a empresa tem conseguido bons resultados. No shopping Morumbi, por exemplo, o grupo hoje vê um fluxo de carros 36% superior no primeiro trimestre contra 2019. Já nos pontos no Rio de Janeiro, ele destacou que a região foi primeira a retirar a obrigatoriedade de mascaras, o que trouxe um efeito muito positivo para as vendas.
“Vamos entrar em um trimestre mais favorável para as vendas. Temos o dia das Mães e o Dia dos Namorados. Creio que essa tendência (de melhora nas vendas) vai continuar”, disse.
Os executivos destacaram ainda que a expectativa é que a companhia continue desalavancando ao longo dos próximos trimestres. Hoje, a alavancagem do grupo está em 2,4 vezes. Eles explicaram que o crescimento da alavancagem nos últimos trimestres foi um reflexo dos descontos dados na pandemia, que impõem um endividamento mais alto. Atualmente, o grupo tem voltado a um cenário de normalidade no tema.
Fonte: Valor Econômico