Por Marcelo Sakate
A brasileira Natura & Co (NTCO3) acertou a venda de sua marca de luxo Aēsop para a francesa L’Oréal em negócio de US$ 2,525 bilhões (cerca de R$ 13 bilhões), segundo comunicado ao mercado das duas empresas. Esse valor corresponde ao enterprise value atribuído à marca australiana.
Os ADRs da Natura subiam 15% nas negociações do after hours da Bolsa de Nova York. Nesta manhã de terça-feira (4), as ações chegaram a subir 7% na B3 com a notícia do negócio, mas, à tarde, operavam em queda de 2%.
O avanço da L’Oréal para uma fase posterior do processo de venda da Aēsop havia sido antecipado pela Bloomberg News há duas semanas. Na ocasião, no entanto, as informações de fontes apontavam como mais provável uma venda parcial da marca australiana, e não integral.
“O desinvestimento da Aēsop marca um novo ciclo de desenvolvimento para Natura &Co. Com uma estrutura financeira fortalecida e um balanço desalavancado, a Natura &Co, exercendo rigorosa disciplina financeira, poderá aprofundar o foco em suas prioridades estratégicas, notadamente em nosso plano de investimentos na América Latina”, disse Fábio Barbosa, CEO da Natura, em comunicado.
“Também poderemos nos concentrar em continuar a melhorar os negócios da The Body Shop e reorientar a presença da Avon International […] Estamos confiantes de que a história de crescimento da Aēsop continuará sob a propriedade da L’Oréal e desejamos sucesso contínuo neste novo capítulo.”
O executivo, que assumiu o comando da gigante brasileira e mundial de cosméticos em junho de 2022, fez referência a uma das principais preocupações de investidores e analistas na empresa.
Com o negócio, a Natura reduzirá de forma substancial a sua dívida bruta, que estava em R$ 13,4 bilhões ao fim de 2022, o que libera recursos para que possa avançar com seu plano de negócios, ainda que não resolva todos os seus problemas, como destacaram analistas do Goldman Sachs.
“Com alavancagem atual de 7,8X dívida líquida (excl. leases)/EBITDA (pré IFRS16), esperamos que o lucro líquido e a geração de caixa permaneçam negativos em 2023E. Nós reconhecemos que a potencial venda parcial ou total da marca Aēsop poderia melhorar a estrutura de capital da empresa, dando mais flexibilidade financeira para buscar os ajustes necessários em todo o negócio”, escreveram os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, do Goldman Sachs, em relatório na última semana.
“Dito isso, continuamos a ver risco de execução relativamente elevado, pois a empresa precisará enfrentar os desafios de reduzir seus negócios a patamares de melhoria de margens e geração de caixa, ao mesmo tempo mantendo o suporte de marca necessário”, apontaram os analistas do Goldman.
As ações da Natura foram negociadas a R$ 13,57 no fechamento desta segunda-feira, com queda de mais de 50% em 12 meses, embora com ganhos acima de 25% no acumulado deste ano.
A Aēsop ficou no portfólio da Natura por dez anos, período em que a gestão e os investimentos da empresa brasileira levaram as vendas brutas saltarem de US$ 28 milhões para US$ 537 milhões, e o número de lojas a avançar de 52 (em oito países) para 395 (em 29 mercados), segundo divulgado.
Fonte: Bloomberg Linea