Receita global sobe 8,8% para R$ 40 bilhões e o prejuízo de 2020 virou lucro de R$ 1 bi no ano passado
Por Raquel Brandão
Já cautelosa com o início de 2022, a Natura &Co espera, agora, que o cenário global turbulento torne a primeira metade do ano ainda mais complexa, com o consumo enfraquecido, especialmente no Brasil, e a guerra entre Rússia e Ucrânia pressionando os preços para cima e o volume das vendas para baixo.
“Vai ter pressão de volume, com queda de renda disponível, e aumentos [de preços] para o consumidor acontecendo”, diz Roberto Marques, presidente executivo da Natura &Co, que prevê desaceleração de receita e impacto de margem. “Mas é justamente na margem que temos mais controle, para qual adotamos uma disciplina financeira austera para navegar esse momento.” O grupo encerrou 2021 com melhora de 0,9 ponto percentual na margem bruta, a 65,1%, e margem líquida de 2,6%, acima do índice negativo de 1,8% em 2020.
Em todo o ano de 2021, a receita líquida global da companhia cresceu 8,8%, para R$ 40,16 bilhões, e o prejuízo de R$ 650 milhões foi revertido em lucro de R$ 1,05 bilhão. “Os fundamentos estão progredindo bastante bem e indicadores do modelo comercial apontam que estamos na direção certa”, diz Marques. Ontem, às vésperas da divulgação de resultado, a ação da Natura &Co interrompeu o ritmo de queda no ano e fechou o dia com alta de 16,25%, a R$ 23,97, após o J.P. Morgan mudar a recomendação de venda do papel para neutro.
Embora a Natura &Co tenha R$ 180 milhões para distribuição de dividendos, o pagamento aos acionistas não deverá acontecer nestes primeiros meses do ano, para lidar com as incertezas econômicas. O plano de migrar a base acionária para o mercado de capitais dos Estados Unidos também ficou na lista de espera, ainda sem data para acontecer.
No quarto trimestre de 2021, a receita líquida caiu 3%, para R$ 11, 64 bilhões – ou 5,3% em moeda constante. O desempenho no Brasil perdeu fôlego no fim do ano com o cenário de inflação mais acelerada, afetando tanto Natura quanto Avon, mas especialmente a segunda.
“Natura, mesmo com queda de receita ante 2020, caiu menos que o setor e cresce ante 2019. Então, ainda ganhamos participação de mercado”, diz. No trimestre, os dados da Abihpec, associação que representa a indústria de beleza e cosméticos, mostram que as vendas das categorias em que a marca opera recuaram 12,5% no quarto trimestre, enquanto a Natura caiu 6,4%.
A operação da Avon no Brasil teve queda de 27,2%, bem acima da Abihpec, atribuída pelo executivo à adoção do novo modelo comercial, “que levou a ajustes”.
O número de revendedoras no país caiu 18%. No restante da América Latina a queda foi de 9,7%. “Está começando a estabilizar agora.” A Natura perdeu 6,4% de consultoras brasileiras, enquanto cresceu 6% nos outros países.
A operação das duas marcas mostrou melhor desempenho nos países hispânicos, onde a venda de Natura cresceu 22,4% no quarto trimestre e da Avon recuou 3,7%. No ano, as vendas foram 36,2% e 19,7% melhores do que em 2020, respectivamente.
Uma ajuda para a operação brasileira das duas marcas pode vir da redução de 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). De acordo com Marques, o corte tributário não deve resultar em produtos mais baratos, mas faz com que os reajustes para compensar a inflação de custos sejam menores.
Apesar da retração de receita, o trimestre terminou com alta de 292% no lucro líquido, para R$ 695 milhões, refletindo efeitos positivos do imposto de renda dado o pagamento prévio de títulos de dívida da Avon, cuja integração garantiu ganhos de sinergias de US$ 197 milhões no ano, atingindo 50% do planejado pela empresa para até 2024.
A Natura &Co decidiu suspender as operações de distribuidores de The Body Shop e Aesop na Rússia e interromper exportações de sua fábrica da Avon Internacional no país. “Vamos seguir atendendo apenas as representantes de lá, que têm isso como fonte de renda. Não vamos virar as costas para elas”, explica.
As operações nos dois países do Leste Europeu representam menos de 5% das vendas totais do grupo, embora a participação da Avon seja mais expressiva. “Temos que nos unir e apoiar para achar uma solução pacífica. Somos contrários às ações de violência contra o povo ucraniano.” A empresa doou mais de R$ 3 milhões para organizações, especialmente a Cruz Vermelha, e está usando a planta na Polônia para fornecer produtos de higiene pessoal para refugiados.
Fonte: Valor Econômico