A Natura será uma das empresas brasileiras a participar do South by Southwest (SXSW), que acontece entre os dias 9 e 13 de março em Austin, no Texas. É a primeira vez em que a companhia de cosméticos vai ao festival, e as expectativas são grandes. “Desde a sua origem, há mais de 20 anos atrás, o festival trouxe o conceito de questionar, de avançar as fronteiras do pensamento, muito voltado para a tecnologia e para como a tecnologia se insere na transformação do mundo. Eu acho que a conexão com o SXSW veio tarde, a gente já deveria ter se conectado há mais tempo”, diz Andrea Alvares, vice-presidente de marketing e inovação da empresa.
Na ocasião, a Natura vai apresentar a história por trás de um dos ativos da linha Ekos, a ucuuba. Os produtos começam vão começar a ser vendidos nos Estados Unidos neste ano. Mas a companhia defende que essa não é (só) uma jogada de marketing. Segundo Andrea, o produto resume a busca da Natura pelo desenvolvimento sustentável. A ucuuba vem de uma árvore que está em risco de extinção, cuja madeira é usada principalmente na confecção de cabos de vassoura, batentes de porta e em telhados. Contudo, para colher o fruto – do qual é extraída a manteiga – não é necessário derrubar a árvore. “É a história típica que a gente conhece da Amazônia, você tem comunidades que não têm alternativa de renda e que usam do extrativismo não sustentável para gerar renda”, diz Andrea. “Através da descoberta desse ativo, conseguimos gerar uma renda alternativa para essas comunidades, mostrando que a árvore em pé vale mais do que a árvore derrubada”.
Segundo a empresa, a cada ano, a renda que uma comunidade obtém com uma ucuubeira preservada é 3 vezes maior do que aquela obtida com a exploração madeireira. Para evitar a exploração predatória do fruto, a colheita é feita apenas na época da safra da ucuuba, “respeitando os ciclos da natureza, mas sendo capaz de capturar o melhor dessa natureza e transformá-la em produtos que as pessoas podem usar e se beneficiar delas”, comenta Andrea. Atualmente, aproximadamente 600 famílias de 15 comunidades fazem o manejo da ucuuba comprada pela Natura.
Além da inovação com a ucuuba, o sabonete da linha será o primeiro com o uso do óleo de palma produzido em sistema agroflorestal, do projeto chamado SAF dendê. “Há dez anos, quando a gente iniciou o projeto para ver se era possível produzir o dendê em combinação de outras culturas e que também pudesse ser uma cultura orgânica, sem uso de defensivos agrícolas, a grande questão era se conseguiríamos alcançar o mesmo nível de produtividade dos campos de monocultura”, diz Andrea. Recentemente, a Natura fechou um convênio com a USAid para o fomento desse projeto e para a adoção dessa tecnologia em maior escala.
Tecnologia
A estratégia da Natura por inovar buscando novos ingredientes para seus produtos não é novidade. O estudo de plantas da biodiversidade brasileira também não. Com a linha Ekos, a empresa criou processos para a análise de matérias primas, usando o conhecimento tradicional das comunidades locais (a manteiga de ucuuba, por exemplo, já é usada na região para a hidratação da pele) e validação científica dos benefícios de cada ativo. Para cada ingrediente, a empresa desenvolve um processo de colheita para não afetar o ciclo da planta e respeitar as safras. “É necessário encontrar alternativas econômicas para a região amazônica, e acho que a inovação é o caminho mais interessante para você gerar valor real a partir disso”, diz Andrea.
Mas a empresa também está de olho no desenvolvimento da tecnologia. Além de apresentar o case da ucuuba no SXSW, Andrea espera trazer do festival mais conhecimento sobre os avanços da tecnologia – em particular, blockchain e realidade virtual. Muito além da moda em torno do blockchain, a vice-presidente de marketing e inovação da Natura diz que essa tecnologia tem um potencial real de transformação, desde a cadeia produtiva, com a rastreabilidade das matérias primas usadas nos produtos, até a interação com os consumidores. “Se tiver alguém que sabe exatamente toda a potencialidade que tem em torno de blockchain, eu quero ouvir”, comenta Andrea. Em realidade virtual, ela destacou “as possibilidades de realmente criar novas experiências, de se transportar para situações em que a gente não estaria, e como isso pode se aplicar tanto para nossa rede de consultoras como para nossa relação com os consumidores”.
Sem revelar muito, Andrea afirmou que são tecnologias com as quais a Natura tem feito projetos piloto. Um exemplo, que já está em prática, é o uso de óculos de realidade aumentada em fábricas, para auxiliar os processos de manutenção dos equipamentos.
Fonte: Época Negócios