O novo sistema de vendas adotado pela Natura em maio do ano passado, que possibilita margem de lucro maior às consultoras que vendem mais, colaborou para elevar a produtividade em 15,2% no quatro trimestre de 2017 ante indicador de 9,7% observado um ano antes. Essa evolução compensou a queda de 10,1% no número de revendedoras no período, para 1,12 milhão de pessoas.
João Paulo Ferreira, diretor-presidente da Natura, afirmou que o desempenho do novo modelo contribuiu para a fabricante recuperar a liderança em categorias importantes como perfumaria, produtos para o corpo e presentes em vendas diretas. “Este foi o segundo trimestre consecutivo de crescimento no país”, disse Ferreira ontem, em teleconferência com analistas.
Segundo o executivo, retomar a participação de mercado foi prioridade no ano passado e continuará sendo em 2018. Para isso, a companhia está desenvolvendo um plano que deverá ser apresentado no próximo trimestre. A previsão para este ano é de que o crescimento do mercado seja próximo do verificado em 2017. A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) estima crescimento nominal de 7,5% para o setor.
Questionado por analistas se para atingir o crescimento a Natura poderá abrir mão das margens, Ferreira disse que isso não acontecerá. No trimestre, a margem Ebitda (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) consolidada da Natura &Co, que reúne Natura, Aesop e The Body Shop, ficou 3,3 pontos percentuais menor, em 16,8%. A margem Ebitda da marca Natura atingiu 16,6%, queda de 3,1 pontos percentuais.
Em nota, a empresa informou ao Valor que a margem reportada caiu, principalmente, por outras despesas operacionais, como baixas de ativos, venda da carteira de recebíveis que ajudou o ano anterior, entre outros.
Roberto Marques, presidente do conselho de administração da Natura &Co, afirmou aos analistas que a gestão de capital austera da companhia ao longo deste ano vai manter o fluxo de caixa forte. De outubro a dezembro, a geração de caixa recuou 26,5% em base anual, para R$ 296,2 milhões. O resultado foi afetado pelo pagamento de R$ 242,5 milhões em impostos no âmbito do Programa Especial de Regularização Fiscal (Pert).
No consolidado do ano, a geração de caixa foi de R$ 617,2 milhões, crescimento de 31,35% na comparação com 2016, que registrou R$ 469,9 milhões. O lucro líquido da companhia no trimestre somou R$ 256,8 milhões, 23% superior ao registrado em igual período de 2016. A receita líquida consolidada foi de R$ 3,73 bilhões, incremento de 62,7%.
Para 2018, a Natura planeja acelerar o processo de migração do modelo de negócios para o meio digital. A meta é dobrar para 1 milhão o número de revendedoras que usam a plataforma móvel. Marques disse que essa plataforma ajuda a melhorar a produtividade.
A Natura obteve no trimestre desempenho melhor que a Avon, que está entre os principais concorrentes em vendas diretas. No mesmo período, a receita na Avon caiu 9%, pesando negativamente nos resultados consolidados da empresa, que obteve lucro líquido de US$ 91,5 milhões, frente a um prejuízo de US$ 10,7 milhões um ano antes. Os números mais fracos foram consequência da queda no número de consultores ativos.
O Grupo Boticário, que também atua na venda porta a porta com as marcas Eudora e Boticário, reportou receita bruta de R$ 12,3 bilhões no ano passado, um crescimento de 7,5%. A empresa fundada por Miguel Krigsner anunciou há uma semana a aquisição da Vult Cosmética, que está presente em 35 mil pontos de venda no país.
A Natura, por sua vez, está em 3,6 mil lojas nas principais redes de drogarias. A empresa informou, por nota, que está com um plano de expansão em curso, com abertura de lojas no varejo e aumento de pontos de venda em drogarias. No entanto, não revelou o número previsto de novas unidades.
Fonte: Valor Econômico