O que uma marca pode fazer pelo mundo? Foi essa pergunta, tão básica quanto essencial, que Andrea Álvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura, fez durante seu painel no primeiro dia de MaxiMídia 2019. Utilizando-se da própria experiência da empresa no desafio diário em fazer da sustentabilidade uma de suas defesas centrais, a executiva provocou a audiência no sentido de refletir sobre o futuro da indústria.
“Para além das tendências que afetam todos os nossos negócios, como marcas de nicho, supremacia dos dados na tomada de decisão, novos modelos organizacionais com foco na agilidade, estratégia de gaming para chegar ao consumidor entre outros, temos de avançar em vários campos no que diz respeito a nosso impacto social no ambiente, no que ainda estamos muito principiantes”, falou.
Para refletir sobre esse impacto e como ele retorna ao consumidor, Andrea lembrou-se da nuvem de fuligem que cobriu São Paulo em 19 de agosto, causa direta dos incêndios florestais no norte do País. Citou também estudos que mostram como o aquecimento global é um fenômeno inquestionável e provocado essencialmente pela atividade humana. Falou ainda da adolescente ativista Greta Thunberg e sobre como ela evocou, com grande força e apesar das controvérsias, a responsabilidade social de todos os setores. Em sua mensagem, destacou Andrea, não se pode excluir o mercado publicitário. “Cada um de nós em todas nossas decisões junto aos nossos clientes, temos um grande poder de influenciar o planeta”, falou. “Temos um impacto por demais negativo e não pagamos por isso, não é algo que colocamos na nossa cadeia de valor, não precificamos na forma como deveríamos nossas emissões de carbono, não controlamos os resíduos que colocamos no ambiente e como a indústria ou o consumidor lida com nossos produtos.”
Andrea lembrou que, apesar da tradição da Natura de 50 anos dedicada ao tema, a empresa revisou sua mensagem, aproveitando a recente internacionalização da marca e seu processo de transformação, para reforçar uma agenda estratégica de negócios sustentáveis para os próximos 50 anos. De certa forma, Andrea reconectou ao painel que abriu a manhã, do analista Dipanjan Chatterjee, ao destacar que o trabalho vai desde as consultoras de venda direta, agregadas à importância da comunidade produtora e aos diversos fornecedores no processo, até chegar ao consumidor final.
Ela apontou quais são, hoje, os três principais vetores de trabalho para essa transformação. São os programas Amazônia viva; Mais beleza, menos lixo; e Diversidade. Dentro do primeiro módulo, relatou como a empresa tem trabalhado com 4,5 mil famílias da região amazônica e produtores locais, com métodos que respeitam a biodiversidade, e com isso ajudaram a preservar, em 20 anos de atividade, 1,8 milhões de hectares de floresta, o que equivale ao território da Holanda. No programa dedicado a reciclagem, citou números alarmantes sobre o lixo: são produzidas globalmente 1,3 bilhão de toneladas todo ano e, com quase 1 milhão de garrafas plásticas vendidas por minuto, até 2050 poderemos ter mais plástico do que peixes nos oceanos. “Temos um impacto abissal na produção de resíduos. E apesar de termos sido uma das primeiras empresas do mundo a ter regido a isso, nós também geramos muito impacto. Trabalhamos num processo de singularidade, cadeia reversa, mas é um desafio diário, brasileiro e global, diminuir esse impacto”, falou Andrea.
A executiva apresentou várias comunicações da empresa, boa parte voltada pra própria cadeia de consumidores, consultores de venda e fornecedores, em que os próprios relatam sobre seu envolvimento com a Natura e seu olhar sobre preservação ambiental. Gente como Francisco da Silva, que faz parte de uma ação de preservação de tartarugas que tem investimento da empresa, ou da extrativista de sementes Mirianes do Carmo e como ela reaprendeu seu papel junto à comunidade. Ou ainda Evani Tavares, do projeto Reciclar; Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura; e José da Cunha, da microusina de Codaemj, entre outros colaboradores, todos compartilhando sua experiência no processo de preservação e transformação da cadeia.
Andrea reforçou que, nessa evolução, é preciso ser enfático, mas também autêntico. “Não preciso de uma causa para chamar de minha, mas é importante que essa seja uma busca de verdade, legítima. E há 50 anos a Natura questiona o status quo, não é só discurso.”
Fonte: Maximidia