A tendência é de melhora nas vendas no curto prazo, mas com margens ainda pressionadas pelo ambiente macroeconômico
Por Raquel Brandão
A geração de caixa vai ser a prioridade da Natura &Co, disse nesta sexta-feira (12) o presidente da companhia, Fábio Barbosa, em sua primeira teleconferência de resultados à frente da companhia. Ele assumiu o cargo em junho, em substituição a Roberto Marques. De acordo com o executivo, o curto prazo ainda será desafiador para a empresa, com tendência de melhora nas vendas, mas margens ainda pressionadas pelo ambiente macroeconômico.
Com uma operação grande desde a chegada da Avon, a companhia vem tentando lidar com seu tamanho maior enquanto precisa enfrentar um ambiente macroeconômico desfavorável, que reflete as consequências da pandemia e de uma guerra entre Rússia e Ucrânia que ainda não tem indicação de acabar.
De acordo com o executivo, diante desse cenário, o objetivo é fazer a holding ser mais enxuta e buscando as sinergias das operações enquanto cada divisão irá operar com mais autonomia. Tanto Barbosa, quanto o diretor financeiro, Guilherme Castellan, reforçaram a geração de caixa e a melhora das margens como prioridades e destacaram que a empresa vem buscando controles de despesas e melhora no capital de giro.
Barbosa repetiu o que havia antecipado no relatório de resultados da companhia: “Mapeamos uma série de economias na holding. Se elas tivessem sido implementadas no ano passado, o impacto teria sido uma redução anualizada de pelo menos 40% nas despesas corporativas recorrentes.” A expectativa da Natura &Co é que o trabalho do comitê de transição do comando seja encerrado até o fim do ano.
Durante a teleconferência, as respostas ficaram com Castellan e João Paulo Ferreira, vice-presidente da Natura &Co Latam. Barbosa só falou na abertura e na mensagem de encerramento.
O diretor financeiro reforçou que o ambiente inflacionário ainda se reflete nos preços das commodities, que não devem melhorar no curto prazo. Ele observou que esse ambiente afetou significativamente a margem bruta da empresa e que ainda manteve os inventários da companhia em níveis elevados.
No entanto, o diretor sinalizou que algumas melhoras podem ser esperadas, especialmente no trabalho desse inventário que começa a melhorar. “Vamos continuar buscando melhoria no nível de inventários”, argumentou.
“Historicamente a companhia tem um forte consumo de caixa na primeira metade do ano e uma forte geração no segundo semestre”, acrescentou, destacando, também, que as margens também refletem essa sazonalidade.
Preços
Com um ambiente inflacionário ainda encarecendo as commodities, as cadeias de suprimentos pressionadas e custos de energia ainda elevados, a Natura &Co Latam, divisão que opera as marcas Avon e Natura no Brasil e demais países latino americanos, vai continuar a subir seus preços, segundo Ferreira.
“Aqui na América Latina a indústria inteira tem repassado preços, e nós também. Como, evidentemente, nossa primeira prioridade é proteger a saúde do negócio e nossas margens, já aumentamos preços e continuaremos aumentando preços nos distintos países”, disse o executivo.
A receita líquida da divisão cresceu 0,4% em reais e 5,6% em moeda constante, para R$ 5,5 bilhões, impulsionada pelo crescimento de dois dígitos da marca Natura, parcialmente compensado pela queda da marca Avon. A margem Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustada ficou estável, em 10,8%.
Nas operações internacionais de Avon, The Body Shop e Aesop, a empresa diz que tem buscado repassar também a inflação para os preços. “Dependendo da nossa posição e do mercado tomamos decisões diferentes, com olho grande nos estoques que temos”, ponderou Castellan.
Ele observa que a Avon Internacional e Aesop aumentaram preço, enquanto a The Body Shop foi mais “conservadora” em preço na maioria dos países, dado o maior nível de estoques. “Então está operando mais na gestão de descontos”, afirmou, argumentando que os estoques estão melhorando e isso deve começar a refletir em preços.
Holding pesada
Uma Natura &Co mais enxuta não vai significar mudanças nas marcas da empresa, afirmou Barbosa, em entrevista coletiva. Os efeitos desses ajustes deverão ser sentidos completamente ao fim do quarto trimestre, segundo o executivo.
Hoje a estrutura da companhia divide-se em Natura &Co Latam, que reúne as operações de Natura e Avon no mercado latino-americano, Avon Internacional, The Body Shop e Aesop.
Questionado sobre possíveis operações de separação de alguns negócios, Barbosa destacou que a perspectiva de enxugar as operações refere-se à holding.
“O que é mais enxuta é a holding, não a empresa. Não estamos falando em nenhuma decisão em relação às empresas. Estávamos vendo que a holding estava ficando pesada”, disse o executivo.
Nesse processo, a direção buscou passar pessoas da holding para as áreas de negócios de cada unidade, mas também fez cortes de posições que identificou como “redundâncias”. “Houve redundância de pessoas que estão sendo desmobilizadas. O objetivo maior era desburocratizar para as pessoas tomarem as melhores decisões”, disse, reiterando que se essas economias tivessem sido feitas em 2021, haveria uma redução de pelo menos 40% nas despesas.
O executivo reiterou que o foco é a geração de caixa, que tende a ser mais favorecida no segundo semestre pela sazonalidade, como o Natal.
Nesse olhar especial para a geração de caixa, está diminuir o capital de giro, reprogramar investimentos que poderiam ser postergados e dar mais atenção a despesas, incluindo as pequenas.
“Esses ajustes não vão aparecer todos no terceiro trimestre. Alguns custos relacionados a essas redundâncias identificadas aparecerão ainda. No quarto trimestre, aí sim, as reduções [todas] devem aparecer”, afirmou, acrescentando que a direção da companhia continua buscando alternativas para tornar mais leve a estrutura, com objetivo de que as unidades tenham mais autonomia em suas decisões.
De acordo com Castellan, como no curto e médio prazos há um foco de margem e fluxo de caixa, constantemente a companhia revisita seu “footprint” global. “A ideia é minimizar ao máximo possível a presença em países que continuamos operando com perdas e, especialmente, com caixas negativos.”
Na América Latina, o vice-presidente da Natura &CO Latam afirmou que ajustes seguem sendo feitos como parte do processo de integração da Avon, que ainda está em curso e, agora, caminha para a estabilidade. “Chegou o momento que podemos acelerar combinação dos negócios, o que inclui a otimização da estrutura, dos processos, sistemas e ativos”, disse Ferreira.
Fonte: Valor Econômico