Por Ana Luiza de Carvalho | A Natura &Co América Latina acaba de revisar suas metas de governança em âmbitos social e ambiental, agregadas no relatório “Visão 2030”, inicialmente lançado em 2020. A nova versão do documento, que adotou compromissos mais ousados e antecipou prazos definidos anteriormente, considera movimentos estratégicos como a aquisição da Avon, em 2020, e a venda da marca de luxo Aesop à L’Oréal em junho neste ano.
A holding de cosméticos aponta que as novas metas do “Compromisso com a vida” consideram também “algumas turbulências de negócio” como a pandemia de covid-19. “Os contextos interno e externo mudaram bastante e nós criamos uma ambição socioambiental para o grupo, para que cada uma das marcas contribua um pouco mais para o planeta e a sociedade”, afirmou ao Valor o executivo-chefe da Natura &Co para América Latina, João Paulo Ferreira.
O executivo afirma que a busca por resultados financeiros e sociais ocorre simultaneamente e que há uma relação entre os dois âmbitos de atuação. De acordo com a companhia, o impacto socioambiental pode ser mensurado: a cada US$ 1 investido em metas do tipo deve alcançar um retorno de US$ 4 até 2030. Hoje, o retorno está em cerca de US$ 2,70.
De acordo com ele, uma eventual venda da The Body Shop, cuja possibilidade foi divulgada ao mercado no último dia 28, não representaria necessariamente uma revisão dos novos compromissos. O mesmo, observa, se aplica ao impacto da venda da Aesop, pois as duas marcas têm participação pequena nas operações da América Latina se comparadas a Avon e Natura.
A Natura &Co se compromete, agora, a alcançar participação de pessoas negras em 25% dos cargos de gerência até 2025 e de 30% até 2030. Para isso, o grupo está desenvolvendo ações afirmativas em recrutamentos e investindo em programas de lideranças. “Provavelmente chegaremos em 25% em 2027 ou 2028”, estima Ferreira.
A expectativa é proteger ou regenerar 3 milhões de hectares de terras na Amazônia”
Além de buscar diversidade em seu quadro funcional, o grupo também está apostando em maiores impactos sociais, começando pela rede de mais de 4 milhões consultores de beleza. A Natura estabeleceu como compromisso aumentar o engajamento dos consultores em questões sociais e políticas. Ferreira destaca que, especialmente em cidades menores, as revendedoras atuam como líderes comunitárias e muitas delas se candidatam a cargos eletivos.
A holding de cosméticos também atualizou suas metas referentes à sustentabilidade, cujo carro-chefe é a marca Natura. Ferreira afirma que a ideia é combinar as áreas de maior expertise de cada marca para que a holding avance. “A Natura tem uma tradição ambiental muito forte, e a Avon uma atuação social especialmente voltada à saúde e direitos das mulheres, então essa é uma combinação poderosíssima”, afirma.
A intersecção entre o ambiental e o social também se reflete no objetivo de alcançar 45 comunidades agroextrativistas na Amazônia até 2030, que deverão contribuir para o fornecimento de 55 bio-ingredientes utilizados no portfólio da companhia.
Em 2020, a meta estipulada era ter 34 comunidades amazônicas na cadeia e 39 bioativos. Hoje a empresa tem 41 parcerias em vários Estados, como Pará, Amazonas e Rondônia, e está começando um projeto com cooperativas do Peru e Colômbia, em faixas amazônicas, aos moldes do que já é feito no Brasil.
“Estamos sendo mais específicos em nossas ambições de fomentar a bioeconomia e agregar valor às comunidades”, diz Ângela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura &Co América Latina. Essa expansão, acrescenta, é importante porque envolve outras metas, como a compra de matéria-prima – a empresa espera aumentar em quatro vezes as compras de insumos amazônicos até 2030.
“A partir do aumento da base de ingredientes, geramos, por um lado, renda direta às famílias, e, por outro, ampliamos a repartição de benefícios com as mesmas”, completa. A expectativa é dobrar os recursos compartilhados com as comunidades até 2030 em comparação a 2020.
A partir do trabalho que faz de assessoria e monitoramento com as comunidades que se comprometem a produzir ou extrair os bioativos, a Natura espera que as pessoas repensem antes de desmatar e, ainda, ajudem a regenerar áreas que já foram ao chão. Em sua ambição, também foi detalhada a meta de ter 100% de suas cadeias críticas de bioativos livres de desmatamento. Até 2025, as cadeias de palma, soja, papel e álcool, e, até, 2030, as cadeias indiretas, além do algodão e do mineral mica.
“Ao todo, considerando as comunidades onde a Natura tem algum trabalho e o entorno de suas operações, a expectativa é proteger ou regenerar 3 milhões de hectares de terras na Amazônia”, destaca Pinhati. Hoje, diz, já são 2 milhões de hectares protegidos, conforme estudo da Universidade de Wharton, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores se debruçaram no trabalho da Natura na Amazônia durante 10 anos, com base em dados de satélite e pesquisas em campo. Além da área, também divulgaram um trabalho com detalhes sobre o impacto social.
A biodiversidade é outra frente que nos objetivos do grupo. A empresa quer relatar os impactos e dependências de seus negócios com a biodiversidade até 2025.
Tudo isso contribui, em última instância, segundo a executiva, para que a empresa reduza suas emissões poluentes de escopo 3, que envolvem justamente a cadeia, uma das mais desafiadoras para se medir e atacar pelas companhias. A meta atual, já revisada, é de reduzir em 42% das emissões de gases de efeito estufa do escopo 3 até 2030 e ser “net zero nas” operações próprias (escopo 1) e energia e insumos (escopo 2).
Fonte: Valor Econômico