Quando a Natura concluiu a aquisição da marca britânica The Body Shop, em setembro do ano passado, não nascia ali apenas um grupo de cosméticos global, multicanal e multimarcas – o Natura &Co, constituído também pela australiana Aesop, adquirida em 2012 – mas um gigante que não testa seus ingredientes e produtos em animais e que quer convencer o mundo a fazer o mesmo.
Exemplo desse empenho é a campanha “Para Sempre Contra Testes em Animais”, capitaneada pela The Body Shop, marca historicamente reconhecida por seus produtos livres de crueldade (do inglês “cruelty free”), em parceria com a Cruelty Free International, organização não-governamental que lidera esforços nessa seara.
O objetivo é angariar oito milhões de assinaturas em uma petição pelo fim dos testes animais na indústria cosmética e encaminhar o documento à Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de criar uma pressão global pelo fim dos testes. A petição está disponível online e também pode ser assinada em uma das 121 lojas da The Body Shop no Brasil.
A causa naturalmente ressoa nas demais marcas do grupo Natura &Co. Apoiadora da campanha, a brasileira Natura não testa produtos ou ingredientes em animais há mais de dez anos, e tampouco o faz a australiana Aesop. Ao longo desta semana, toda a rede de consultoras da Natura vai receber a nova revista da marca para angariar assinaturas para a campanha.
“Uma das resultantes da formação do Grupo é a crença na capacidade de mudança que as três marcas juntas possuem. Temos alinhamento de valores, de sustentabilidade e de valorização da vida”, diz à EXAME Andrea Alvares, vice-presidente de marketing, inovação e sustentabilidade da Natura.
Segundo a executiva, o grupo está estudando a possibilidade de aderir a um selo “cruelty free”, que comunique de forma mais clara aos consumidores o posicionamento da marca. Ter o selo não significa que a empresa não usa nenhum ingrediente de origem animal. Alguns produtos de maquiagem da Natura trazem em sua composição cera de abelha e lanolina (gordura extraída da lã de ovelha).
Novas regras, novos mercados
Eliminar todo e qualquer teste na indústria cosmética mundial exige mudanças de regras. São diversas as leis que regulamentam a produção de cosméticos no mundo.
Há países que permitem o uso de cobaias animais em casos específicos, por exemplo, para avaliar irritação, alergias e corrosão da pele, testes oculares e de toxicidade.
É o caso do Brasil, onde esse tipo de prática é permitida, embora não obrigatória, e do Japão. Na União Europeia, testes de produtos cosméticos em animais são proibidos há cinco anos.
Mas a prática ainda é obrigatória na China, um dos maiores mercados de produtos de beleza e com grande potencial para a expansão das três marcas da Natura &Co, que ainda não atuam por lá.
Em teleconferência com analistas em dezembro passado, Robert Chatwin, vice-presidente internacional da Natura, afirmou que o grupo poderia “ter um plano China”, embora não tenha detalhado que plano seria. Seja como for, a expansão de cosméticos “cruelty free” no mercado asiático é totalmente dependente da mudança da legislação chinesa.
Testes livres de crueldade
No Brasil, a Natura foi uma das primeiras gigantes do setor a extinguir os testes de cosméticos em animais, em 2006. “Já desenvolvemos 67 metodologias alternativas, tanto para avaliar a segurança quanto eficácia dos ingredientes e produtos”, afirma à EXAME Roseli Mello, diretora de inovação e segurança do consumidor da Natura.
Ao invés de usarem animais, os métodos modernos de teste incluem exames sofisticados usando células e tecidos humanos em 3D (o chamado “in vitro”), técnicas de modelagem de computador avançadas (conhecidas como modelos “in silico”), e estudos com voluntários humanos nas últimas etapas de testes.
A empresa não abre quanto já foi investido no desenvolvimento de tecnologias alternativas para testes de segurança e eficiência.
Fonte: Exame