Por Fátima Fernandes | Já faz algum tempo que redes tradicionais do varejo aparecem no noticiário com algum pedido de socorro diante de dívidas milionárias, principalmente com bancos e fornecedores.
O efeito disso é visto pelos consumidores nas ruas e nos shoppings. A Lojas Marisa, com uma dívida acima de R$ 460 milhões, decidiu fechar mais de 90 lojas para geração de caixa.
Com uma dívida de R$ 600 milhões, a Tok&Stok anunciou o fechamento de unidades em shoppings no Nordeste, interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Paraná.
Após dez anos em uma das ruas mais badaladas do comércio de São Paulo, a Oscar Freire, nos Jardins, a Riachuelo fechou a sua loja conceito localizada na esquina com a Rua Haddock Lobo.
Para cortar custos, o grupo SBF, dono da Centauro, fechou dez lojas. Outras empresas tradicionais do varejo e conhecidas dos brasileiros trilham o mesmo caminho.
Enquanto algumas varejistas encolhem ou trocam de ponto, marcas de influencers que nasceram na internet surgem em espaços até então ocupados por grifes e ou grandes redes.
No número 1.107 da Rua Oscar Freire, nos Jardins, acaba de ser inaugurada a BT House, a primeira loja física da jornalista, influencer e empresária Bruna Tavares.
Com um investimento de R$ 4,8 milhões, a loja, decorada em tons de rosa e azul, expõe uma linha com quase 300 produtos entre batons, bases, corretivos, sombras e pós.
A marca, criada em 2016, que já é comercializada em cerca de 4 mil pontos de venda no país, entre Sephora, Renner, Riachuelo e C&A, ganhou agora um showroom em uma rua nobre.
“Sentimos a necessidade de ter um local para que os lojistas e os consumidores tenham experiência com os produtos e vejam o potencial da marca”, afirma Bruna Tavares, 37 anos.
“O grande palco onde o show acontece é no varejo físico. Tem consumidor que gosta de ver e testar os produtos. Esse é o papel da loja física”, diz Caio Camargo, especialista em varejo.
Em 2009, quando criou o blog “Pausa para Feminices”, Bruna não imaginava que, 14 anos depois, teria mais de 3,3 milhões de seguidores no Instagram e uma loja na Oscar Freire.
De 2011 a 2016, a empresária trabalhou com licenciamento de várias marcas, como Tracta, da Farmaervas, Jequiti, do grupo Sílvio Santos, e Quem Disse, Berenice, do grupo Boticário.
Com a experiência adquirida no desenvolvimento de produtos que levava o nome do seu blog, decidiu criar uma marca com o seu próprio nome para o mundo digital. Deu certo.
Bruna, 37 anos, que falou com o Diário do Comércio, por telefone, de sua casa em Orlando, nos Estados Unidos, prefere não revelar qual é o faturamento total do seu negócio.
Diz que vende hoje cerca de meio milhão de produtos por mês e a expectativa é crescer 75% neste ano, na comparação com 2022.
A loja da Oscar Freire, diz, tem previsão de venda mensal da ordem de R$ 1 milhão. “Depois da pandemia, as pessoas começaram a consumir mais produtos para maquiagem.”
CONEXÃO COM A CLIENTELA
Quando questionada sobre qual é o segredo para crescer em um mercado que é disputado por grandes conglomerados nacionais e internacionais do mundo da beleza, eis a resposta:
“Encontrei muitos gaps neste mercado. O meu diferencial, desde o primeiro batom que lancei, é a conexão com o público, é saber exatamente o que as pessoas desejam”, afirma.
As grandes indústrias de beleza, de acordo com ela, investem pesado em pesquisa de mercado para identificar tendências, só que não falam diretamente com os consumidores.
“Fiz exatamente o que as marcas não faziam”, afirma. Enquanto todas as empresas estavam lançando batons ‘cor de boca’, diz, ela lançou o tom cinza.
A média de preços de produtos da marca é R$ 60 e Bruna faz questão de manter nessa faixa para atender todas as classes sociais.
“Tem produto que deixo de lançar quando fica muito caro”, diz.
Para ajudar o negócio que não para de crescer, Bruna acabou tirando do mercado financeiro o marido Leandro, com quem é casada há 18 anos. “Agora ele é meu diretor financeiro.”
A história da marca Bruna Tavares, de acordo com ela, é inspiração. “O público tem uma conexão emocional com a minha história e a minha marca. Eu sou uma amiga.”
A primeira publicidade que fez em seu blog, em 2009, ganhou R$ 50. “Comprei um acessório e fiz um post de graça. Eles gostaram e me pagaram depois para fazer lançamentos.”
Na época, ela nem sabia dar o preço de um post. Hoje, a história é outra. A Wella acaba de pagar R$ 300 mil para Bruna divulgar uma linha de tintas para o cabelo da Koleston.
“A internet aproxima as pessoas. Agora, é importante não copiar de ninguém e estar sempre presente, criando uma conexão com longevidade eterna.”
MICA ROCHA
A Misha, da empresária e influencer Mica Rocha, é especializada em semijoias e está presente em shoppings de São Paulo e Rio de Janeiro (Imagem: divulgação)
Com um trabalho iniciado em redes sociais em 2014, a influencer e empresária Mica Rocha, com 1,4 milhão de seguidores no Instagram, seguiu um caminho parecido.
No final de 2021, inaugurou a sua primeira loja física no JK Iguatemi, a Misha, especializada em semijoias, com uso de pedras naturais.
Desde então, outras três unidades foram abertas nos shoppings Morumbi, Iguatemi e Higienópolis, em São Paulo, e mais duas nos shoppings Leblon e Barra, no Rio de Janeiro.
Para Mica, apesar de essa marca e outras terem sido criadas no mundo digital, as lojas físicas são importantes para que os clientes tenham experiências com os produtos.
Ao mesmo tempo, diz Camargo, o lojista que só vivia do fluxo da Rua Oscar Freire não sobrevive mais. “A loja tem de trabalhar hoje de forma ativa, não passiva, como antigamente.”
CAMILA COUTINHO
Com mais de 3 milhões de seguidores em suas redes, Camila Coutinho abriu duas unidades físicas da GE Beauty para complementar as vendas virtuais (Imagem: divulgação)
Com 3,4 milhões de seguidores, a influencer e empresária Camila Coutinho, que lançou em 2020 a marca de produtos para o cabelo GE Beauty, abriu duas lojas físicas.
A primeira foi inaugurada em 2020 no shopping Recife, em Recife (PE), no modelo de pop-up, loja temporária, e a segunda, em 2021, no Shops Jardins, em São Paulo.
Em entrevistas, Camila disse que existe um teto de crescimento para marcas com origem na internet e que o varejo físico funciona como um complemento para os negócios virtuais.
Bruna diz que, por enquanto, não tem planos para abrir outras lojas no Brasil. “O próximo passo será no mercado internacional.”
Contatos já estão sendo feitos para levar a marca para os Estados Unidos e Dubai, nos Emirados Árabes.
“A gente não pode sentar nos louros do sucesso. É importante o dinamismo e a busca sempre por melhoria e inovação.”
Um laboratório no bairro do Belenzinho é responsável pela formulação dos produtos da Bruna Tavares. Entre os fabricantes da marca estão Farmaervas, Faber Castell e Intercos.
Após a entrevista, concedida na quinta-feira (13/07), Bruna estava pronta para embarcar para Los Angeles.
“Queremos fazer um barulho por lá. O meu sonho agora é que as celebridades passem a usar os meus produtos.”
Fonte: Diário do Comércio