Ainda não está claro se o país realmente já bateu “no fundo do poço”, mas a perspectiva de Michel Temer na presidência pode reverter o cenário de incertezas se o país tiver uma espécie de repeteco do governo de transição de Itamar Franco, que “colocou pessoas certas nas posições certas”. A avaliação é de Marcelo Carvalho, copresidente da Ancar Ivanhoe, sócia em 22 shoppings no país, com vendas anuais estimadas em R$ 10,5 bilhões em 2015 e 3 milhões de consumidores ao mês. “O que é preciso é de uma direção clara, um norte, e Temer tem mais condições hoje de dar isso ao país”, diz ele.
“Temos um projeto que não avançou, mas está preparado para isso, de abertura de um shopping na região norte do Recife. Temos o terreno pronto. A possibilidade do afastamento de Dilma não nos fez ainda tirar esse investimento [da gaveta]. É algo que vai depender de uma sinalização mais clara do caminho que vamos seguir nos próximos meses no país. O projeto pode até ser retomado em 2017, mas ainda precisamos ver melhor para onde [o país] está indo”, afirmou.
Há duas semanas, empresários do setor de shoppings, como José Isaac Peres, da Multiplan, e Carlos Jereissati Junior, da Iguatemi, estiveram em Brasília, em contato com deputados, defendendo a saída de Dilma Rousseff da presidência, segundo fontes.
Carvalho diz que o investimento de R$ 650 milhões em 2016 encerram um ciclo de negócios iniciado entre 2012 e 2013, e que, portanto, já era um gasto previsto. No fim deste mês, a Ancar Ivanhoe inaugura o Shopping Nova Iguaçu, no Rio, que consumiu R$ 400 milhões e será a única abertura do ano.
“Esse ciclo se encerra agora, e vamos ter que definir como vamos nos posicionar no próximo, mas ainda estamos aguardando clareza maior do cenário econômico”, diz Carvalho. Para ele, há espaço maior hoje para a associação de empresas no setor. “Há dois motivos para isso. Há empresas muito alavancadas, que precisarão buscar um caminho, e as novas gerações de grandes empresas podem decidir seguir uma trajetória diferente e aceitar buscar uma associação ou parceria no mercado”.
“A Cassie [grupo CDPQ, controlador da sócia Ivanhoe Cambridge] tem associações com diferentes grupos em diferentes ativos. É um modelo possível e interessante porque permite ganhos de escala”.
Sobre os riscos de um alto desembolso de caixa num período de defesa da liquidez, Carvalho cita o parceiro – “temos sócio rico”, ri ele, se referindo aos canadenses da Ivanhoe, com US$ 30 bilhões em ativos. Sobre o uso do caixa em momento de crise, rebate dizendo que o resultado operacional líquido cresceu sete vezes em dez anos.
O executivo conta que ele e o irmão, Marcos, da quarta geração da família, que começou os negócios no setor há 44 anos, foram chamados pelos controladores da Cassie para explicar o que estava acontecendo no Brasil. “Quando chegamos lá, eles já tinham claro que o Brasil vive uma transição, como reflexo do fato de termos instituições fortes que estão funcionando. Desta forma, é muito mais fácil falar do Brasil como um investimento possível, de longo prazo. Lembrando que temos que disputar recursos com projetos de investimentos do grupo em outros países emergentes”.
Carvalho diz que a empresa sentiu a desaceleração do mercado, e que as vendas crescem em linha com o setor – que se expandiu 6,5% em 2015. A expectativa é manter essa expansão em linha com mercado em 2016.