Por Maria Luiza Filgueiras | No embate entre fundadores e controladores da Tok&Stok, a gestora SPX (que administra os investimentos remanescentes do Carlyle no Brasil) subiu o tom. Com uma proposta de capitalização de R$ 210 milhões do casal Regis e Ghislaine Drubule, parte em conversão de dívida e outra em aporte, dois dos três conselheiros – o fundador e o membro independente Roberto Szachnowicz – solicitaram a convocação de uma reunião do conselho de administração para discutir a proposta. O presidente do conselho e diretor de private equity da SPX, Fernando Borges, não gostou – e retrucou.
Em resposta ao pedido, à qual o Pipeline teve acesso, Borges interpreta a solicitação como ameaça (termo que utiliza mais de uma vez), por se tratar de um pedido à revelia do chairman e já definindo data – uma manobra abusiva, define. Também traz, nas entrelinhas, algumas sinalizações.
Borges cita, por exemplo, que o montante proposto para capitalização é insuficiente para as necessidades da companhia e que serviria somente para mudança de composição societária, com diluição do Carlyle e os fundadores retomando controle, “caso o grupo de acionistas controladores não acompanhe” – sem indicação de que, neste momento, essa possibilidade estaria em pauta. Entende, ainda, que o embate entre as partes pode espantar potenciais novos investidores, indicando o que está no radar do fundo.
A gestora aproveita a resposta para duas convocações. Primeiro, uma assembleia de acionistas no dia 5 de agosto, para destituição de um conselheiro e eleição de novo. O comunicado não cita nomes mas, como os Dubrule conseguem garantir uma cadeira em voto múltiplo por ter 40% do capital, indica uma troca do membro independente. Szachnowicz votou à favor da destituição de Ghislaine como CEO da varejista, como queria o Carlyle, mas corrobora com a convocação para análise de proposta dos fundadores.
Para a sequência da troca de cadeira, Borges agenda reunião do novo conselho para o dia 9 de agosto, que discutirá “não apenas a proposta de aumento de capital” dos fundadores, mas inclui uma apresentação da diretoria sobre a situação de caixa da companhia, opções estratégicas apresentadas pelos assessores financeiros da varejista para resolver os desafios operacionais e financeiros, e andamento de tratativas com credores da empresa para renegociação da dívida. Os temas serão analisados pelo trio de conselheiros.
A crise financeira da Tok&Stok já vem se arrastando há anos. Em 2023, os acionistas fizeram uma capitalização da empresa, com extensão de prazos da dívida, e o fundo controlador tentou uma fusão com a Mobly – transação que tinha oposição dos Dubrule, mas acabou não avançando por outras razões. Em julho do ano passado, Ghislaine voltou a ser presidente executiva e, enquanto os fundadores viam avanço na estratégia, o Carlyle via mais gastos e lentidão de resultados. A troca de CEO foi feita há 10 dias, quando assumiu a direção executiva Guilherme Santa Clara, especialista em reestruturação, com promessa de novos cortes de custos.
Fonte: Pipeline Valor