Por Marcelo Sakate | A agenda de transformação da IMC (International Meal Company), que opera as marcas KFC e Pizza Hut no Brasil, além da Frango Assado, foi colocada à prova no segundo trimestre deste ano, segundo disse o CEO da companhia, Alexandre Santoro, em entrevista à Bloomberg Línea.
Os números apresentados na noite de quarta-feira (14), depois do fechamento do mercado, expõem receitas que ficaram praticamente estagnadas no período, ao mesmo tempo em que, por outro lado, a geração de caixa operacional cresceu dois dígitos sem a contribuição de eventos extraordinários.
Uma análise mais qualitativa apontou um trimestre impactado por fatores externos e internos que, no fim do dia, segundo Santoro, servem como aprendizado para a gestão da companhia mas também atestam o nível de resiliência diante de diferentes ocorrências adversas.
“A fotografia do resultado não conta tudo o que aconteceu no trimestre”, disse o CEO da IMC (MEAL3) ao comentar os fatores que impactaram o resultado. Ele buscou também destacar o que entende ser uma evolução da estratégia sendo executada desde que assumiu o comando há pouco mais de três anos, com a experiência na área na liderança de negócios globais.
“A companhia está sólida e mostrou a resiliência do negócio e do nosso time, com o Ebitda ajustado recorrente crescendo 10% mesmo com a receita flat [estável]”, ressaltou.
As vendas totais, que incluem lojas próprias e franquias, chegaram a R$ 789,1 milhões no segundo trimestre, o equivalente a queda de 0,1% na comparação com o mesmo período de 2023. O Ebitda ajustado ficou em R$ 113,4 milhões, com aumento de 38,1% na base anual, em resultado reforçado por eventos não recorrentes de prescrição de contingenciamentos e ajuda de créditos fiscais. Sem isso, a alta foi de 10,5%.
Segundo Santoro, que disse que, em geral, prefere falar de fatores internos “porque são aqueles que nós conseguimos controlar”, desta vez os externos tiveram efeito relevante.
Em abril, explicou o executivo, uma ruptura na cadeia de abastecimento da Pizza Hut e do KFC levou ao fechamento de algumas lojas no país, o que resultou em uma queda rara das vendas no conceito “same store”. “Foi um mês muito negativo.”
Em maio e junho, as vendas se recuperaram com impulso de algumas iniciativas (veja mais abaixo) e compensaram o recuo, mas não a ponto de gerar crescimento no consolidado do trimestre.
No mês seguinte, em maio, o desastre climático das enchentes no Rio Grande do Sul gerou impacto relevante ao resultado, dado que a IMC cuida do catering do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que segue fechado, e o estado responde por cerca de 10% das lojas próprias do KFC.
Mas houve também o impacto de fatores internos no resultado do trimestre, disse o CEO da IMC.
“Temos uma preocupação muito grande de evoluir a rentabilidade da Pizza Hut e do KFC”, disse. “E nós tínhamos muitas promoções no delivery, desde frete grátis até descontos em produtos individuais. Essa combinação pressionava muito as margens nesse canal de delivery.”
A retirada desses descontos no trimestre gerou um impacto negativo nas vendas pelo canal delivery da ordem de dois dígitos, muito acima do que era projetado, algo que acabou eclipsando o aumento nas vendas em lojas. “Erramos um pouco nessa estratégia. Poderíamos ter reagido mais rapidamente”, reconheceu o executivo ao se referir à queda nas vendas com o fim do frete grátis e outras promoções.
Ele disse que essa política de descontos foi revista e retomada em julho e agosto, já, portanto, em meses do terceiro trimestre, mas com uso de mais inteligência, como frete grátis em determinados dias da semana.
“Tudo é aprendizado. Percebemos que há uma sensibilidade muito grande a preço no delivery.”
Por fim, houve ainda impacto da operação nos Estados Unidos com a redução da receita em dólar em 7,8% (e em 2,5% em reais) em razão do fechamento do restaurante em Las Vegas, que não teve o contrato renovado pelo proprietário, além da venda de outra loja no estado do Tennessee no começo do ano.
Segundo ele, novas lojas em Nova York, Boston, Atlanta e Miami devem compensar essa redução nos próximos trimestres, mas ainda não atingiram o estágio de maturidade almejado.
Inovações no cardápio e digitalização
Santoro também buscou destacar que apontou o que classificou como “avanços importantes” no segundo trimestre, como parte de uma agenda estratégica colocada em prática há mais tempo.
Outro dos focos da companhia é crescer o que é chamado de vendas no balcão, ou seja, nas lojas físicas, principalmente do KFC em shoppings mas também da Pizza Hut.
“Nós conseguimos crescer muito em razão de inovações no cardápio, como o Melts, que é uma espécie de calzone, na Pizza Hut, e cubinhos de frango e wraps no KFC”, afirmou o executivo. As vendas combinadas das duas operações cresceram 9,6% no trimestre na base anual, para R$ 136,3 milhões, impulsionadas também pela abertura de novas lojas e pelo aumento no tíquete médio.
Outro destaque do resultado, fruto de uma estratégia de médio e longo prazo, foi o crescimento de 59% nas vendas digitais na comparação anual – e que passaram a responder por 50% do volume total.
Na Pizza Hut, o aplicativo próprio chegou à marca de 470 mil clientes cadastrados e responde por 16% do delivery; no KFC, quatro em cada dez pedidos em lojas foram realizados por meio de totens nas lojas, o que otimiza o uso da mão-de-obra e favorece o upselling, ou seja, pedidos mais altos.
A IMC também manteve a alavancagem sob controle em 2,1x a dívida líquida sobre o Ebitda dos últimos 12 meses, abaixo dos covenants de 3,0x.
As ações da IMC na B3 acumulam queda da ordem de 25% em 12 meses e de 10% em 2024.
Fonte: Bloomberg Linea