A administradora de shoppings Multiplan aposta na diversificação
As vendas no varejo brasileiro registraram uma queda histórica no ano passado, de 4,3%, segundo o IBGE. Foi o pior desempenho desde 2001. O mau momento acabou se refletindo no setor de shopping centers. A Multiplan, uma das maiores administradoras desses centros de compras do País, dona de 18 empreendimentos, entre eles os shoppings Morumbi, em São Paulo, e Barra, no Rio de Janeiro, viu sua receita cair 4%, praticamente na mesma proporção do mercado varejista, em 2015. O lucro líquido, ainda que tenha sido o maior do setor, teve um declínio de 1,6%, no mesmo período, segundo a consultoria Economática.
Para driblar a crise, a empresa resolveu mudar o perfil dos seus shoppings, transformando-os em espaços multiuso e focados, cada vez mais, em entretenimento e serviços. Vale até colocar consultórios médicos para atrair a cientela. “Nos preparamos para enfrentar um ambiente de maior desafio”, diz Armando d’Almeida Neto, vice-presidente financeiro da Multiplan. O plano está dando certo. No primeiro semestre deste ano, a receita líquida da companhia teve uma alta de cerca de 5%, para R$ 549 milhões. O resultado foi puxado, principalmente, pela receita com serviços, que cresceu 29%, para R$ 68,6 milhões.
O lucro líquido subiu 1,7% no semestre, para R$ 168,7 milhões. O bom desempenho animou os investidores. As ações da empresa praticamente dobraram neste ano, passando de uma cotação na casa dos R$ 37 em janeiro, para R$ 64,59 na quarta-feira 5. No primeiro semestre, os papéis tiveram uma taxa de retorno de 69%. “Eles estão bastante concentrados em shoppings dominantes e em um público de maior poder aquisitivo”, diz Luiz Mauricio Garcia, analista da Bradesco Corretora. Essa característica permite que a Multiplan adote uma estratégia de troca de lojistas para atrair um novo público aos empreendimentos. Em 2015, mais de 30 mil metros quadrados de área locável teve o lojista substituído – a empresa possui 18 shoppings, cuja área locável ultrapassa 770 mil metros quadrados.
O espaço destinado ao varejo foi reduzido, em alguns casos, como no BarraShopping, em quase 5%. Em média, a área locável das lojas que reportam vendas caiu 1,7%. As chamadas lojas âncoras, grandes redes de varejo, como C&A e Riachuelo, que tinham a função de atrair consumidores, perderam esse papel. A tarefa agora cabe não só aos cinemas, restaurantes, academias mas também a outros tipos de serviço. Em junho, a empresa anunciou o lançamento de um centro médico integrado ao RibeirãoShopping, em Ribeirão Preto (SP), com um aporte inicial de R$ 23,6 milhões e previsão de inauguração no segundo trimestre de 2017. O BarraShopping também ganhou um desses, já em funcionamento.
Os empreendimentos planejados seguem essa mesma linha. Em 2017, a empresa inaugura o ParkShoppingCanoas, no Rio Grande do Sul. Com 73,1% de sua área já locada e orçado em R$ 359,3 milhões, o centro de compras vai ocupar 48 mil metros quadrados e terá 258 lojas. Anexado ao shopping, o projeto prevê a construção de três torres comerciais. A Multiplan tem, ainda, uma situação de alavancagem mais favorável que os rivais. “Isso faz com que a empresa tenha mais poder de fogo para aproveitar as oportunidades, especialmente nesse momento de crise”, diz Garcia. Uma prova desse poderio foi dada no início de setembro, quando a Multiplan investiu R$ 495,9 milhões na compra de participações de 10,3% do BarraShopping e de 8% no MorumbiShopping.
Com o acordo, a companhia ampliou suas fatias para 61,3% e 73,7%, respectivamente. Além desses aportes, a empresa investiu R$ 122 milhões no primeiro semestre, superando o volume de investimentos realizado em 2015, de R$ 297,2 milhões. Seja no lançamento de novos projetos ou na ampliação da participação em shoppings do próprio portfólio, Neto enxerga muito espaço para a expansão e a consolidação do setor. “O Brasil tem mais de 5 mil municípios e menos de 200 deles têm shoppings”, afirma. “Os empreendimentos estão muito bem ocupados, existe demanda dos lojistas e não há espaço disponível.”
Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, reforça: “A média de vacância no Brasil é de 5,4%”, diz. “Nos Estados Unidos, eles estão comemorando porque conseguiram alcançar, agora, uma taxa de ocupação de 91%.” Nos centros de compra da Multiplan, a taxa de ocupação está em 97,9%. O ciclo longo para o início das operações de um empreendimento é mais um elemento que fortalece os planos traçados e a visão otimista da companhia. “Essa é a hora de investir”, diz Neto. “Se formos esperar um momento mais favorável, chegaremos tarde na festa.”