Assim como a transformação digital e os novos processos de gestão passaram por um processo de aceleração com a pandemia da Covid-19, o formato das lojas também deverá sofrer mudanças significativas. Parte delas já estavam em curso, mas há tendências que surgiram nesse novo contexto e que provavelmente serão mantidas nos projetos arquitetônicos daqui para a frente.
Segundo a arquiteta e sócia-diretora da Opus Design, Kátia Bello, será necessária uma mudança de mindset, a fim de que os supermercados se adaptem à nova realidade. A lógica não é mais a de ocupar todos os espaços possíveis para a exposição de produtos, mas a de fazer com que a loja seja um ambiente capaz de responder às necessidades e aos desejos dos clientes.
Em outras palavras, o gestor da loja precisa, primeiro, entender o padrão de comportamento dos compradores, para depois planejar o espaço de forma estratégica. Assim, conseguirá ajustar o local para oferecer uma circulação com menos atrito e, como preconizam as boas práticas atuais, com maior distanciamento entre as pessoas.
“Antes, era muito comum, quando um supermercadista pensava no layout de loja, querer aproveitar cada centímetro quadrado para colocar produto (gôndolas, ilhas e balcões, por exemplo)”, lembra Kátia. “Esse era o raciocínio, porque o imóvel e o terreno são custos, então, ele queria encher a área de vendas com o máximo de mercadorias.”
Em meio a uma crise epidemiológica como a que estamos vivendo, esse posicionamento precisa ser revisto. “A pandemia mostrou que temos de continuar oferecendo uma boa experiência de compra, o que já era uma tendência, mas, nesse momento, ela se traduz em uma experiência segura, rápida e assertiva”, avalia. E tudo isso tem muito a ver com o layout.
O consumidor tende a evitar lojas com corredores muito apertados, longas filas ou que não tenham todos os itens que ele procura (caso em que ele não consegue realizar toda a compra no mesmo lugar). Essas situações podem levar shoppers fiéis a optarem por outras redes, que ofereçam mais variedade e conveniência, nesse sentido.
A decisão de incluir tecnologia nos projetos também precisa ser analisada a partir de novas perspectivas. O ideal é que o ponto de venda integre diferentes meios de pagamento, para que o consumidor consiga concluir a compra de forma rápida. Kátia demonstra como essas soluções podem ser viabilizadas, citando o projeto desenvolvido pela Opus Design para a nova loja da rede Super Muffato, inaugurada em abril, em Curitiba.
“Na loja, há vários meios de pagamento disponíveis”, comenta. “O cliente pode usar o caixa rápido; tem a opção de usar o caixa dinâmico, que é um caixa maior e sem operador; tem o scan & go, que permite escanear as compras por meio do aplicativo do supermercado, finalizando a compra por ele, sem a necessidade de interação com nenhum funcionário; e ainda tem os caixas convencionais.”
A mensagem que a arquiteta transmite é clara e demonstra a principal tendência do segmento: “os layouts das lojas, daqui para a frente, vão ter que entregar mais opções às pessoas”. A possibilidade de escolha não está limitada aos meios de pagamento e deve ser considerada em todos os aspectos, principalmente no formato de realização das compras, que poderão ser feitas tanto em ambientes físicos como digitais ou, ainda, utilizando mais de um canal em uma mesma experiência.
“Estamos falando do conceito de omnichannel, que faz a integração verdadeira de todos os canais de venda em um grande guarda-chuva, que é a marca”, sustenta Kátia.
A partir da pandemia de Covid-19, ficou evidente que a integração uniforme das experiências de compra online e offline veio para ficar. “A principal mensagem é que, cada vez mais, as diferentes maneiras de comprar ocuparão o mesmo espaço”, pontua a arquiteta. “Pensar nesses fluxos, no momento de elaborar o layout, será essencial.”
Como adaptar a sua loja para os novos tempos?
O ideal é considerar todas essas tendências e o perfil da rede e de seus clientes antes mesmo de desenvolver o projeto arquitetônico da loja. Assim, o layout estará em linha com as melhores práticas e conseguirá ser mais assertivo. Entretanto, é possível promover adaptações nas lojas em seus formatos atuais. “Para quem precisa adaptar o layout, entenda que são novos tempos; vai ser necessário atualizar as lojas”, destaca Kátia Bello. Confira algumas dicas para adequar o PDV às necessidades dos consumidores durante a pandemia.
Seja mais criterioso ao definir o mix da loja
Mercados pequenos, com corredores apertados e pouca área de venda, terão que ser ainda mais analíticos na exposição. Para aumentar o espaço de circulação, pode ser necessário diminuir gôndolas (desmontando algumas para abrir corredores). Antes de fazer isso, analise os dados internos e de mercado sobre quais categorias são mais relevantes para os compradores – atualmente, por exemplo, destacam-se higiene e limpeza, que merecem ter o espaço de vendas mantido ou ampliado. A definição da exposição adequada precisa ser amparada por dados objetivos.
Tenha mais agilidade na reposição
A performance de diferentes categorias pode sofrer mudanças significativas de uma semana para outra, por isso, é fundamental, acompanhar o desempenho das vendas diariamente. A reposição de itens deve ser ágil para evitar rupturas e permitir ajustes necessários nas áreas de exposição da loja.
Atenção com os displays
Outra situação que prejudica a circulação dos consumidores na loja é a presença excessiva de displays. A recomendação é avaliar se são, de fato, necessários neste momento ou se estão apenas aumentando as barreiras que prejudicam a experiência do shopper no PDV. Vale destacar que, no enfretamento à pandemia, clientes buscam uma circulação rápida, segura e livre. O mesmo raciocínio vale para as ilhas de exposição.
Fonte: SuperVarejo